A potência do audiovisual na divulgação científica

Fernanda Marques 27 de julho de 2022


“Comecei a juntar uma coisa com a outra, sem machucar nenhuma, e deixar que todas funcionassem, e vi que uma colabora com a outra, só que a linguagem é diferente”. As palavras são de Maria dos Prazeres de Souza, conhecida como Dona Prazeres, parteira tradicional de Pernambuco, que se formou enfermeira obstetra e tem uma trajetória marcada pelo encontro de diversos saberes e muitos afetos. Dona Prazeres é a protagonista do documentário “Simbiose”, um dos filmes exibidos na noite desta segunda-feira (25/7) na sessão de abertura da Mostra Ciência em Tela, realizada no Instituto Central de Ciências (ICC) da UnB. Ela integra a SBPC Cultural, dentro da 74ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). A Mostra segue nos dias 26, 28 e 29 de julho, com uma programação especial no site da UnBTV e no Canal Universitário de Brasília (canal 15 da NET/Claro), sempre às 22h.  

 

Na sessão de abertura, no Anfiteatro do ICC/UnB, foram exibidos ainda o curta-metragem “Bertha Lutz”, da série Ciência em Gotas, da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), e a animação “Mudando o mundo”, que, assim como o documentário “Simbiose”, leva o selo Fiocruz Vídeo, da VideoSaúde (Icict/Fiocruz). 

 

Antes da exibição dos filmes, foi realizada uma mesa com o tema “Divulgação científica: linguagens e desafios”. A diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio, foi uma das participantes e reforçou a importância da ciência atrelada à arte a à cultura. “A política de divulgação científica da Fiocruz é pautada pela pluralidade, pela democracia e pela equidade, entendendo a comunicação como um direito e  essencial à saúde”, disse a diretora. Ela lembrou o trabalho da Fiocruz na área do audiovisual, destacando a VideoSaúde e o Canal Saúde, e os programas de divulgação científica articulados com a educação básica, como a Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente e o Mais Meninas e Mulheres na Ciência.   

 

Nesse sentido, a secretária-geral da SBPC, Claudia Linhares, também lembrou o programa SBPC vai à Escola. “Divulgar a cultura científica representa cidadania”, definiu. Para Ildeu de Castro Moreira, presidente de honra da SBPC, para enfrentar o negacionismo, as pessoas precisam compreender o que é ciência. “Isso deve ser estimulado desde criança, na educação básica, incentivando a curiosidade e criando mais oportunidades de conhecer”, disse, trazendo um pouco da história da divulgação científica, como a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada em 1923 por Roquette-Pinto, e lamentando o fato de iniciativas recentes não terem avançado. “Até hoje não saiu o projeto de um museu de ciências em Brasília”, comentou.

 

Ig Uractan, coordenador de programação da UnBTV, ressaltou a importância de produzir e compartilhar conteúdos de qualidade, que estimulem o pensamento crítico, como forma de enfrentamento das fake news e da pseudociência. “Além da ciência, seus métodos e resultados, a UnBTV também tem o compromisso de levar a produção cultural para o grande público”, afirmou. De acordo com o diretor da UnBTV, Rafael Villas Bôas, busca-se abrir janelas para cineastas nacionais e locais, dando visibilidade às produções brasileira e candanga. “Essas produções chamam à população a conhecer e refletir sobre sua realidade e seus dilemas. Isso é princípio de soberania”, disse, valorizando também as parcerias e o trabalho em rede. O diretor comentou ainda a potência das imagens ao despertarem emoções e sentidos. “Gráficos e estatísticas não gritam, não choram”, comparou. 

 

Organizar as imagens da instituição, mostrar seus espaços e pessoas, e contar suas histórias: este é o objetivo do UnB Imagens, portal lançado no âmbito das comemorações dos 60 anos da Universidade. Ele foi apresentado pelo assessor de Comunicação Institucional, Sérgio de Sá. “Trata-se de um banco de imagens que busca preservar e difundir a memória recente da UnB, e está disponível para pesquisadores, imprensa e todos”, descreveu, anunciando também que, em breve, estará no ar um hotsite dos 60 anos da instituição. 

 

Outros exemplos de produtos de divulgação científica foram apresentados pelo diretor de Fomento à Iniciação Científica da UnB, Sérgio Granemann. “Comunicar em periódicos científicos é fundamental, mas não é suficiente. Precisamos investir em novos formatos que ultrapassem os limites da academia”, resumiu. Ele falou da experiência dos Congressos de Iniciação Científica, que passaram a ser realizados on-line durante a pandemia de Covid-19 e tiveram sua audiência aumentada, além da constituição de um importante acervo digital, o que aponta para próximos eventos em formato híbrido. O diretor atribuiu os bons resultados também à divulgação dos Congressos e das pesquisas de iniciação científica por meio de notícias e das mídias sociais. Para popularizar a iniciação científica e estimular o ingresso de mais estudantes, as estratégias desenvolvidas incluem ainda o podcast “Eu quero saber” e o programa “Fazendo ciência, formando cientistas”, projeto em desenvolvimento com a UnBTV.

 

Realizada pela UnBTV e pela Fiocruz, por meio da VideoSaúde, a Mostra Ciência em Tela terá reprises na próxima semana. Assista no site da UnBTV e no Canal Universitário de Brasília (canal 15 da NET/Claro).

 

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