Live debate a cartografia do cuidado em saúde

Fernando Pinto 28 de junho de 2022


O que é uma conversa e para que serve?; O que te move a pesquisar?; Que potencialidades temos em nossos territórios?; Quais são as responsabilidades que temos assumido?; Estamos preparados para abrir a porta e percorrer o território?; Como estamos sendo formados?. Essas perguntas conduziram a fala da enfermeira e professora da Universidade Estadual do Ceará (UECE) Maria Rocineide Ferreira, que participou da live “Cartografia do cuidado em saúde: conversações”, realizada na noite de terça-feira (28/6). A atividade foi organizada pelo Colaboratório de Ciência, Tecnologia, Inovação e Sociedade e pela coordenação do Programa de Residência Multiprofissional em Atenção Básica da Fiocruz Brasília.

 

Segundo ela, a cartografia faz o estudo das linhas que cruzam os atos do cotidiano e nos revela os processos de produção de subjetividades e dispositivos coletivos do cuidado. “Precisamos cartografar e escutar o território, esse exercício nos permite realizar conversações sobre o cotidiano”, refletiu, ao apresentar os objetos de estudo do trabalho da cartografia. São eles: as linhas de segmentaridade duras; linhas flexíveis e linhas de fuga ou da desterritorialização onde acontecem as rupturas e que pode originar um outro território para além do constituído até então. A professora destacou ainda que o trabalho da cartografia ocorre em um determinado território a fim de desenhar, de forma estratégica o mapa do lugar que ocupam. Ela lembrou também que na cartografia é sempre desenhado novos mapas. “A territorialização não é fixa, sempre há novos grupos chegando e outros saindo do território”, apontou.

 

A roda de conversa contou também com a participação da pesquisadora da Fiocruz Brasília Maria do Socorro Souza, que em sua apresentação lembrou a importância do trabalho dos residentes que andam por vários territórios levando soluções concretas ao sistema. “A residência multiprofissional traz uma inquietação que faz seus pares pensarem a forma de como o SUS está organizado na realidade do território em que o residente foi inserido”, destacou.        

 

Sobre o trabalho da cartografia, Socorro apresentou a experiência do curso de Vigilância Popular em Saúde e Manejo das Águas no Piauí. Realizado pela Fiocruz Brasília em 2019, a formação trabalhou as necessidades de cada comunidade, como a má distribuição da água e conscientização da população sobre o desperdício, além da definição de prioridades. Segundo ela, o trabalho da cartografia dividiu os moradores daqueles territórios para eles entenderem os caminhos da água e auxiliou também a construção de uma vigilância popular permanente. Ao final do curso, foram desenvolvidas tecnologias sociais para o reuso de águas, reaproveitamento de resíduos sólidos, compostagem, criação de banco de sementes, produção de viveiros e mudas medicinais, eliminação de vazamento de água de cisternas e implantação de hortas com micro irrigação.

 

A pesquisadora finalizou deixando uma provocação para um olhar mais atento ao território. “Hoje vivemos em condomínio, presos dentro de um apartamento e não vivemos a vida do território e nem criamos laços de vizinhança”, afirmou, ao destacar a importância da cartografia, que neste sentido é um instrumento considerável para pensar o lugar onde as pessoas vivem, se encontram e onde as pessoas podem ser gente.

 

A live faz parte das atividades pedagógicas da segunda turma do Programa de Residência Multiprofissional de Atenção Básica da Fiocruz Brasília. Os 90 residentes em campo estão na fase de construção dos trabalhos de conclusão de curso. Segundo a coordenadora adjunta da Residência, Etel Matielo, umas das orientações é que as pesquisas façam sentido nas perspectivas que dialogam com os territórios de atuação dos residentes. “Nesses territórios que eles vivenciam as dores, amores, saberes e sabores do trabalho da residência multiprofissional”, frisou.

 

Etel destacou que na Fiocruz Brasília o trabalho de cartografia participativa na residência tem sido realizado no âmbito da Plataforma de Inteligência Cooperativa com Atenção Primária à Saúde para o Enfrentamento da Covid-19 (PICAPS).

 

Clique aqui para assistir à integra da roda de conversa.

 

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