“É preciso observar o fenômeno alimentar em diversas dimensões, não só pela dimensão biológica. Assim, conseguimos pensar em ações que sejam mais eficientes na melhoria da saúde da população”, afirmou a coordenadora do Programa de Alimentação, Cultura e Saúde da Fiocruz Brasília e do Observatório Brasileiro de Hábitos Alimentares (OBHA), Denise Oliveira.

O tema Comensalidade, Alimentação e Cultura foi abordado durante aula inaugural da disciplina de Saúde, Cultura e Alimentação do mestrado profissional em Políticas Públicas em Saúde da Fiocruz Brasília, realizada na última segunda-feira (07). A aula integrou a programação do Portas Abertas, encontros temáticos abertos a toda comunidade, como forma de ampliar a participação e de enriquecer discussões.

Para Denise, a comensalidade, alimentação e cultura são as pistas que irão ajudar na compreensão da dinâmica alimentar do mundo na sociedade atual.  Ela afirma que a sociedade atual desaprendeu a cozinhar e aperfeiçoou-se em abrir e fechar  pacotes de alimentos industrializados, e essa mudança precisa ser compreendida. “É pensar em uma segurança alimentar nutricional, pensar que é importante a política pública se inserir na gestão do tempo da vida, temos que ter uma visão ampliada. Existe um longo caminho pela frente”, ressaltou.

A pesquisadora disse não ser mais possível observar o fenômeno alimentar apenas pela dimensão biológica, pois são várias as facetas observadas antes do alimento chegar à nossa mão e à nossa boca, como as relações do onde, como e porque fazemos escolhas alimentares. Para ela, é preciso considerar diversos fatores como a renda da população, o tempo disponível para cozinhar os alimentos, as identidades dos grupos sociais e a bagagem cultural.

A questão do horário imposto culturalmente para a realização do ato de comer, além da forma como ele é feito foram lembrados. Denise destacou que o ato de comer junto a outras pessoas foi alterado para o ato de comer junto também com objetos, um exemplo disso são as pessoas que fazem as refeições em frente à televisão. Culturalmente o brasileiro tem o costume de comer junto de outras pessoas, porém a americanização do hábito foi destacada durante a aula, onde as pessoas estão abdicando do momento comer junto com outras pessoas para a inserção de uma individualização e automatização da ação.

Outro ponto abordado foi que o conceito de alimentação foi se modificando com o passar dos anos, onde antes era visto a quantidade do que se come, quando se come, focando exclusivamente na questão da saúde e se tornou uma questão estética nos tempos modernos, retirando o foco da saúde para evidenciar o corpo e sua forma.

OBHA
O Observatório Brasileiro de Hábitos Alimentares (OBHA) é um projeto desenvolvido por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz de Brasília em parceria com instituições nacionais e internacionais. O OBHA visa atuar nas várias dimensões do alimento – biológica, cultural, social e econômica. Tem tripla finalidade: a saúde, o prazer e o social relacionados as escolhas alimentares que se estabelecem envoltas a vários significados, que, objetiva e subjetivamente, expressam relações sociais no desenvolvimento de programas e políticas públicas. Estas dimensões agregam o saber cientifico e popular, pela valorização do significado da comida como expressão indenitária da sociedade brasileira. 

No primeiro semestre de 2016, outros debates serão realizados nos dias 4 de abril, 2 e 9 de maio. Os eventos são abertos ao público e acontecem na Fiocruz Brasília.