O diálogo entre os diferentes saberes, sejam eles científicos, populares ou ancestrais, pode produzir conhecimento e saúde. A educação popular no SUS atua na valorização das experiências de vida e trabalho como espaços de aprendizagem e reconhece outras áreas para além dos limites dos laboratórios acadêmicos, como a arte, a espiritualidade, e a cultura como importantes para a criação de vínculo e exercício do cuidado entre profissional e usuário.
No primeiro fim de semana de julho, os alunos da Especialização em Educação Popular em Saúde na Promoção de Territórios Saudáveis e Sustentáveis da Escola de Governo Fiocruz – Brasília apresentaram seus Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs) e participaram do Seminário que marcou o encerramento desta formação. Em tese, pois o coordenador do curso, Osvaldo Bonetti, ressaltou que o aprendizado não se encerra, pois os profissionais construíram uma rede de conhecimento e afeto a partir de um curso que integrou várias instituições e, em formato online, possibilitou a participação de alunos de 13 estados brasileiros. “A Educação Popular tem o sentido de construção de comunidades a partir do trabalho de cada um e isso deve continuar após o curso,” ressaltou.
Este foi um dos cursos da Escola de Governo Fiocruz – Brasília que originalmente foi organizado com aulas presenciais porém, devido à pandemia foi realizado online. Estruturado em módulos denominados de Trilhas Metodológicas, os conteúdos seguiram os seguintes eixos da Política Nacional de Educação Popular em Saúde no SUS: Participação, controle social e gestão participativa; Formação, comunicação e produção de conhecimento; Cuidado em saúde e intersetorialidade e diálogos multiculturais. Ao longo das 450 horas de atividades (sendo uma parte teórica – metodológica e outra parte chamada de Tempo Comunidade, com as atividades de dispersão e atuação nos territórios) os alunos puderam aprender mais sobre a determinação social e qualidade de vida, as singularidades dos seus locais de atuação, as origens das situações-limite vivenciadas pelas pessoas e também identificaram as potencialidades para construir ações em diferentes realidades, relacionando a teoria da sala de aula virtual com o que acontece onde as pessoas vivem.
Mística ao vivo
Emoção, alegria, danças, cantos, rituais, muitos abraços e depoimentos fortes sobre a realização do sonho de se formar pela Fiocruz marcaram as atividades. Os relatos dos estudantes ultrapassam o que está descrito no projeto do curso e ganharam bastante espaço.
Na quinta-feira, 30 de junho, reunidos na área externa da Fiocruz Brasília, puderam conhecer pessoalmente cada um dos 31 colegas que compartilharam as diferentes janelinhas das salas online, antes dos dias de apresentação dos TCCs. Na ocasião, o responsável pela Coordenação do Colaboratório de Ciência, Tecnologia, Inovação e Sociedade (CTIS) da Fiocruz Brasília, Wagner Martins destacou que a saúde não deve ser encarada só como um setor, mas como vida, e que toda iniciativa de formação deve ser implementada da melhor maneira possível, com conexão intersetorial sem ficar “encastelada no SUS”. Segundo ele, a pandemia abriu uma janela de possibilidades e mostrou que não se pode pensar na economia sem pensar na vida, pois “a economia garante as necessidades da vida”, disse, ressaltando que a virtualidade durante o curso foi potente ampliando o alcance dos conteúdos e suas conexões.
A Educação Popular é uma referência no Projeto Político-Pedagógico da EGF-Brasília e, segundo sua diretora Luciana Sepúlveda, é esperado que ela atravesse as relações de cada aluno. “Essa formação é um marco em um momento de tanta desestruturação na saúde pública. Entre tensionamentos, que possamos repetir essa experiência”, disse. A atividade contou ainda com a presença da vice-diretora da Fiocruz Brasília, Denise Oliveira e Silva, que comentou como foi rico perceber conexões entre o sagrado e o aprendizado, demonstrando uma ciência conectada com o racional mas também mais humanizada. “É interessante perceber que a educação é diferenciada quando o aluno vive a sua experiência. O grande trabalho desse curso começa agora”, ressaltou.
Da Assessoria Pedagógica, Etel Matielo destacou que a formação amplia a leitura do mundo dos estudantes, transformando não só sua prática profissional mas também o olhar para as comunidades e territórios onde estão atuando. “Ao longo do curso se perceberam como educadores populares, atuando de forma integrada com seus colegas de curso, colegas de trabalho e de outros processos formativos. O curso potencializou a importância da atuação coletiva. Enquanto educadores e participantes dos Movimentos de Educação Popular em Saúde percebemos que a formação contribui para a implantação da Política Nacional de Educação Popular em Saúde, nos diferentes territórios em que estão inseridos, assim como para a defesa do SUS”, ressaltou.
O curso é uma iniciativa da Fiocruz Brasília, por meio do Programa de Promoção à Saúde, Ambiente e Trabalho e da Plataforma de Inteligência Cooperativa com a Atenção Primária (Picaps). Após os ajustes e entrega dos TCCs para a Secretaria Acadêmica, eles serão depositados no repositório Arca, da Fiocruz. Parte deles será tema de edições do “Fala aê, especialista!”, produto de divulgação científica da Fiocruz Brasília que compartilha os resultados dos alunos em uma linguagem acessível e interessante.