O SUS que falta no Brasil

Nathállia Gameiro 17 de julho de 2023


O maior evento de saúde pública da América Latina teve início no último domingo (16). O 37º Congresso do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) está sendo realizado em Goiânia e conta com a participação de pesquisadores da Fiocruz e da diretora da unidade de Brasília, Fabiana Damásio. Com o tema “O SUS que falta no Brasil”, o encontro propõe um aprofundamento nas possibilidades e estratégias para fortalecimento da agenda de consolidação do SUS.

“O evento vem na sequência da 17ª Conferência Nacional de Saúde, que teve uma participação maciça de pessoas. São mais de 10 mil pessoas inscritas, uma grande festa da democracia e um grande espaço de troca de experiências municipais na gestão do SUS. Gestores de 5.570 municípios do Brasil estão participando. É um grande momento para que a gente conheça o que os municípios estão fazendo de inovador para a implementação e sustentabilidade do SUS”, celebrou o psicólogo sanitarista Marcelo Pedra, pesquisador do Núcleo de Pesquisa Pop Rua (Nupop) da Fiocruz Brasília.

Na tarde de ontem, durante Seminário Saúde Mental sobre determinantes biopsicossociais e a integralidade do cuidado em saúde mental, o sofrimento psíquico a partir do cotidiano e sua repercussão para a gestão em saúde, Pedra apresentou, para um auditório lotado, as experiências do Núcleo com populações em extrema vulnerabilidade e a saúde mental na atenção primária.

Ele destacou que é necessário olhar para a saúde mental não apenas como uma questão para especialistas e nem resumida ao Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). “É importante falar de saúde mental na atenção primária, onde se encontra a maior parte do sofrimento das pessoas, e da necessidade de que o trabalho na saúde mental, sobretudo, seja intersetorial e esteja no princípio da integralidade”, afirmou antes de falar sobre três projetos conduzidos pelo Nupop: Psicuidados, Plano Interinstitucional PopRua e Colaboratório Nacional PopRua.

O PsiCuidados é um projeto que oportuniza apoio psicológico remoto aos trabalhadores do SUS do estado de Goiás. Foi criado há 3 anos, e segundo Marcelo, tem tido resultados interessantes no acompanhamento do sofrimento psíquico mais leve desses profissionais. Em 2021, a iniciativa foi reconhecida pela OPAS e Ministério da Saúde como boa prática no combate à Covid-19.

A outra iniciativa apresentada foi o Plano de Ação Interinstitucional para o atendimento da população em situação de rua (PSR), que também início na pandemia. O projeto é focado na formação de residentes da Fiocruz Brasília, que atuam dando assistência, apoio matricial e atendimento compartilhado com as equipes que estão nos abrigos fazendo intervenções junto às pessoas em situação de extrema vulnerabilidade, além das equipes do Consultório na Rua e as equipes de abordagem social.

Durante três meses os residentes atuam junto a esses serviços fazer atendimento, de acordo com a formação do aluno, fazem a ponte entre o abrigo e a unidade básica de saúde onde realizam o campo de residência, e ainda acompanham, nas ruas, o atendimento das equipes de Consultório nas Ruas e das equipes de abordagem social. Já foram formados cerca de 120 residentes nessa perspectiva de pensar o cuidado à população em extrema vulnerabilidade.

O último projeto apresentado por Marcelo durante o encontro foi o Colaboratório Nacional PopRua. Lançado em maio deste ano, o projeto busca oportunizar o acesso a direitos humanos e o fortalecimento de políticas públicas para a população em extrema vulnerabilidade no Brasil, mas em especial para cinco capitais: Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Salvador e Distrito Federal. As equipes são volantes e trabalham junto a todos os atores públicos que atuam com população em situação de rua, ouvindo e levantando demandas, para estreitar laços entre os atores e as universidades e pesquisadores da Fiocruz e pensar em estratégias de qualificação. O Colaboratório tem também uma equipe de pesquisa que sistematiza as demandas levantadas para os temas relacionados à população vulnerável.

Dentro do Colaboratório há uma outra frente de atuação: a Escola Nacional PopRua. A escola itinerante é um espaço de formação política que tem a missão de formar quadros políticos para os movimentos sociais que atuam em especial com a população em situação de rua. O grupo debate sobre o lugar dos movimentos sociais no monitoramento e acompanhamento de políticas públicas e busca formar pessoas em situação de rua para que consigam ocupar lugares de construção dessas políticas nos seus territórios. Atualmente a Escola está no Distrito Federal e em breve embarca no estado de Goiás.

O psicanalista da Escola Brasileira de Psicanálise (EBP) Marcelo Veras, o escritor, filósofo e esquizoanalista Luiz Fuganti, o psiquiatra e assessor técnico da Diretoria de Saúde Mental da Secretaria de Atenção Especializada do Ministério da Saúde Marcelo Kimati, e o assessor técnido do Conasems Flávio Alexandre Cardoso integraram a mesa de debate.

A Fiocruz também participa do Congresso com o estande em que apresenta as atividades desenvolvidas pelas unidades espalhadas pelo Brasil e a venda de livros da Editora Fiocruz. A programação do encontro segue até quarta-feira (19) com debates, exposição e oficina. Confira a programação completa aqui