Fala aê, mestre: Implantação da Atenção Primaria à Saúde (APS) na cidade de Sapezal, Mato Grosso

Fernanda Marques 7 de janeiro de 2022


“O Brasil ainda enfrenta desafios para alcançar excelência na execução de uma Atenção Primária à Saúde (APS)”. E foram esses desafios que motivaram a pesquisa do médico Silvio Menezes, egresso do Mestrado Profissional em Saúde da Família (ProfSaúde).

 

Oferecido na modalidade EAD e dirigido a profissionais de Medicina, Enfermagem ou Odontologia, o ProfSaúde está com inscrições abertas até 14 de fevereiro. São ao todo 237 vagas distribuídas entre as 26 instituições que fazem parte da Rede ProfSaúde, entre elas a Fiocruz no Rio de Janeiro, Amazonas, Mato Grosso do Sul, Pernambuco e Distrito Federal. A Fiocruz Brasília dispõe de sete vagas. 

 

Em sua dissertação, Silvio analisou o processo de implantação da APS no município de Sapezal (MT), comparando a organização dos serviços antes e depois desse processo. Assim como outros municípios brasileiros de pequeno porte, Sapezal precisa enfrentar modelos de assistência ultrapassados e dificuldades de aplicação de novos modos organizativos para uma oferta de serviços que atenda às necessidades da população.

 

De acordo com o estudo, embora Sapezal tenha apresentado aumento na oferta de atendimentos e serviços, ainda não houve a reorientação efetiva para o modelo da Estratégia Saúde da Família (ESF). Nesta entrevista da série “Fala aê, mestre”, Silvio comenta alguns resultados e recomendações da pesquisa.  

 

Por que escolheu estudar a APS no município de Sapezal (MT)?

Silvio Menezes: Porque fiz parte das equipes de Saúde da Família do município, e observei muitas situações inquietantes com relação ao sistema de trabalho e à ausência de um modelo bem definido. Também porque já tive experiências de trabalhar em outras cidades que apresentam um modelo de Estratégia Saúde da Família (ESF) bem estabelecido.

 

Quais as principais qualidades encontradas no processo de implantação da ESF em Sapezal?

Silvio Menezes: Na verdade, ao final do trabalho, não foi possível confirmar que o município aderiu ao modelo de ESF, pois não foi encontrado nenhum projeto escrito e aprovado que definisse esse modelo. Há um Plano Municipal de Saúde muito bem elaborado e que nos leva a crer que existe um desejo de estabelecer a ESF como modelo. Esse plano, porém, ainda não havia sido apreciado pelo Conselho Municipal de Saúde, nem avaliado e aprovado pelo Legislativo do município.

 

Quais principais pontos que requerem melhorias?

Silvio Menezes: Primeiramente, um projeto deveria ser elaborado e discutido por todos os atores envolvidos na saúde do município (usuários, Conselho Municipal de Saúde, Câmara de Vereadores e trabalhadores da saúde), como se preconiza na implantação da Atenção Básica. É preciso uma nova territorialização, com uma distribuição mais equânime de todas as equipes presentes no município e uma revisão no Plano Municipal de Saúde, que até o momento não havia sido avaliado nem aprovado pelo Legislativo local.

 

O que se pode afirmar sobre a situação de Sapezal em comparação com outros municípios brasileiros? Os desafios são os mesmos?

Silvio Menezes: De fato, os desafios são os mesmos, embora, por conta dessas questões de gestão, Sapezal tenha ficado para trás, quando comparado com outros municípios brasileiros. Contudo, é possível acertar o passo e definir um modelo específico de atenção à saúde no município de Sapezal.

 

A partir do seu estudo, quais as suas recomendações para fortalecer a APS no município?

Silvio Menezes: É preciso discutir o modelo da ESF e elaborar um projeto para implantá-lo, de fato, em Sapezal, inclusive redefinindo a territorialização no município, o que significa considerar as áreas de maior vulnerabilidade e as deficiências de estrutura dos serviços e da logística. É importante também capacitar os trabalhadores da saúde do município de maneira que eles sejam parte da implantação do modelo. Médicos e enfermeiros das equipes devem ter oportunidade de especialização em ESF.

 

Silvio Roberto da Silva Menezes é autor da dissertação “Implantação da Atenção Primaria à Saúde (APS) na cidade de Sapezal – MT: Uma análise descritiva”, defendida em 2021, com orientação do professor Armando Raggio e coorientação da professora Kellen Gasque.

 

Leia mais

“Fala aê”: confira todas as entrevistas da nossa série de divulgação científica

 

Imagem: Prefeitura de Sapezal (MT)