Estudante: pilar da transformação da educação

Nathállia Gameiro 3 de dezembro de 2019


Projeto da Fiocruz Brasília incentiva o protagonismo de jovens estudantes de escolas públicas do DF para atuarem como multiplicadores na comunidade escolar

 

Nayane Taniguchi

 

“É muito emocionante ver o quanto vocês se envolveram e se disponibilizaram a estar aqui em horário contrário às aulas. Sempre digo que é impossível pensar a transformação da educação sem os estudantes, sem dar voz e vez aos alunos”. O relato acima é da representante da Subsecretaria de Educação Básica da Secretaria de Educação do DF, Ruth Meire, e sintetiza o objetivo do Curso Saúde e Segurança nas Escolas – Educação entre Pares: fomentar no jovem o protagonismo necessário para que ele seja agente transformador do seu território.

 

Entre agosto e novembro deste ano, cerca de 70 adolescentes, estudantes de escolas públicas do DF do Plano Piloto, Cruzeiro, Sobradinho I e II, Paranoá e Itapoã aceitaram o desafio de integrar o projeto coordenado pela Fiocruz Brasília, por meio do Programa de Educação, Cultura e Saúde (PECS), em parceria com o Ministério da Justiça (Senad) e com a Universidade de Brasília (UnB), para atuarem em suas escolas, abordando temas relacionados aos seus cotidianos e à saúde, cuja rotina exigia não só comprometimento, mas o compromisso em promover a transformação no ambiente escolar. “Este é um debate muito caro para nós. Temos que sair do canto da punição e pensar a prevenção, pensar em processos educativos, e no uso nocivo de drogas como uma questão social de problemas sociais, de desigualdades e de injustiça”, contextualizou Ruth, que agradeceu, principalmente, a participação de cada estudante na iniciativa.

 

Na última sexta-feira (29/11), o Fórum Final do Curso Saúde e Segurança nas Escolas – Educação entre Pares, reuniu os estudantes participantes do projeto, professores, gestores e representantes da Secretaria de Educação do DF, Senad, Secretaria Nacional de Segurança Pública, da UnB e da Fiocruz Brasília, marcando o encerramento das atividades, com apresentação dos Projetos de Intervenção dos alunos, mesa com professores, coordenadores e responsáveis pela modalidade presencial do projeto, momento cultural e entrega de certificados.  

 

Para a professora Shirley Daudt, da escola Paulo Freire, dar voz e vez aos estudantes contribui para o empoderamento desses jovens, chamando-os para atuarem juntos nas resoluções dos problemas da comunidade. “Juntos somos fortes e sozinhos somos fracos”, disse. Ela conta que, ao conversar sobre sonhos com seus estudantes, o desejo manifestado é ter qualidade de vida. “Esse sonho está diretamente relacionado à saúde. Todos nós temos que trabalhar para a qualidade de vida, e promover saúde e segurança”, acrescentou. A docente elogiou a abordagem do curso e relatou o ambiente em que estão inseridos esses estudantes, que convivem “com muitos casos de depressão e transtorno de ansiedade”. Ao destacar o trabalho da Fiocruz, reforçou que as parcerias fortalecem as escolas.

 

A diretora-executiva da Escola Fiocruz de Governo da Fiocruz Brasília (EFG), Luciana Sepúlveda, destacou a atuação da Fiocruz para além da ciência, tecnologia e educação superior. “Nossa missão não fica restrita a isso e se complementa quando chegamos no território, apoiamos outras esferas da educação, construímos ações e fortalecemos políticas com a participação de vocês. Não existe transformação sem participação na construção do nosso presente e do nosso futuro, que é uma corresponsabilidade de todos nós”, ressaltou, acrescentando ainda a importância do investimento na construção de respostas junto com a sociedade, com os estudantes e professores.

 

Sepúlveda enfatizou ainda a educação entre pares como metodologia, que “fortalece o protagonismo de pessoas que compartilham o mesmo espaço físico”, vivenciam a mesma cultura e realidade. “A discussão e construção entre vocês é muito potente e fortalece condições de transformação”, reforçou.

 

A orientadora educacional do CED 01 do Itapoã, Ilka Bispo, ressaltou o engajamento dos estudantes durante todo o decorrer do curso. “Este projeto ultrapassou barreiras e passamos a realizar outras ações, como rodas de conversa. As escolas têm enfrentado muitos problemas, e como espaços sociais identificam um adoecimento da nossa sociedade. Muitos jovens não têm conseguido lidar com frustrações e emoções, aumentando casos de depressão e automutilação”, comentou. Aos estudantes participantes do projeto, a educadora disse: “vocês se tornaram protagonistas do projeto e abraçaram a causa, mostraram a força da juventude conseguiram atingir a escola inteira”.

 

A diretora do CED 04 de Sobradinho, Maria da Paz, enfatizou a importância do projeto para a comunidade local. Há 20 anos trabalhando na mesma escola, ela afirma que as ações do projeto beneficiam não só a escola, mas o território. “Conhecemos de perto a comunidade, pois nossa escola tem como característica atender a região. Ações como essa são importantes por alcançarem toda a comunidade local.

 

 

Encerramento

 

O coordenador-geral de Políticas para a Sociedade da Secretaria Nacional de Segurança Pública (DPSP/Senasp), José Guerra, contextualizou a implementação de políticas públicas relacionada às drogas e as consequências para a sociedade, como a violência, além de abordar os desafios da Secretaria. “Quando o projeto nos chegou, pensamos, principalmente, na questão da prevenção”, afirmou. O coordenador falou ainda sobre o nome do curso, e a inclusão do termo saúde. “Nós queríamos saúde nas escolas, isso é o mais importante. Vocês jovens são muito importantes para o nosso país”, acrescentou. Guerra falou ainda sobre o papel de multiplicador dos jovens após a conclusão do curso, para contribuir na formação de outros estudantes.

 

O diretor de Políticas Públicas e Articulação Institucional da Senad, Gustavo Camilo, agradeceu aos parceiros, demais atores e aos estudantes por acreditarem no projeto, destacando a mudança de paradigmas alcançadas por meio da iniciativa, que uniu duas Secretarias e a Fiocruz em uma ação interdisciplinar, reforçada pelo próprio nome, Saúde e Segurança nas Escolas. “Foi muito relevante não colocar diretamente o tema drogas, porque na prática precisamos promover a saúde em si. Você faz a prevenção não se aproximando de dificuldades de um fenômeno como as drogas, mas se aproximando das questões de saúde. Ou seja, isso implica em sair de paradigmas antigos de prevenção, no qual se colocava muitas vezes o medo como elemento motivador para mudança de comportamento por parte do ser humano”. Para o diretor, atualmente é percebido ser mais eficiente vincular essas motivações à saúde e a desejos positivos. Sobre a atuação dos estudantes, destacou:  “penso que essa é a primeira participação de vocês em uma política pública, em um projeto que une pesquisa e capacitação. É uma área do conhecimento humano muito interessante, recomendo que vocês prossigam e, muito seguramente, terão prosperidade no futuro”.

 

Os estudantes participantes do projeto representam as escolas CED 01 Itapoã, CEM 01 Paranoá, CEM 01 Sobradinho, CED 03 Sobradinho, CED 04 Sobradinho, CEM Paulo Freire, CEMIC Cruzeiro e CESAS Plano Piloto.

 

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