Curso da Fiocruz Brasília valoriza voz e protagonismo do jovem no ambiente escolar

Nathállia Gameiro 3 de setembro de 2019


Capacitação voltada para 72 estudantes de escolas públicas do DF aborda, entre outras questões, saúde e segurança na escola e prevenção de álcool e outras drogas

 

Nayane Taniguchi

 

A possibilidade de ser ouvido e ter voz em um espaço que valoriza a troca de vivências e o diálogo motiva adolescentes como Samuel Magalhães, de 15 anos, a participarem do Curso Saúde e Segurança na Escola – Educação entre pares, resultado de parceria entre a Fiocruz Brasília, por meio do Programa de Educação, Cultura e Saúde (PECS), com o Ministério da Justiça e Segurança Pública, por meio da Secretaria nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), e a Universidade de Brasília (UnB).

 

Iniciada em 26 de agosto, a capacitação de 72 estudantes de escolas públicas do Plano Piloto, Cruzeiro, Sobradinho I e II, Paranoá e Itapoã busca o fortalecimento da participação dos jovens, a partir da educação entre pares, nos espaços de planejamento e realização das ações de promoção da saúde em ambiente escolar. O curso tem como foco a formação desses jovens como multiplicadores para atuar de forma intersetorial, colaborativa e integrada no espaço escolar com temas relacionados à promoção da saúde e segurança no território escola. “Ter esse ambiente de conversa e ter sido convidado pela escola para participar do curso fez com que eu me sentisse importante”, conta Samuel, estudante do Centro de Ensino Médio Integrado do Cruzeiro (Cemic) e morador da Cidade Ocidental (GO).

 

Muitos buscam, no curso, informações para promover mudanças não só em seus ambientes escolares, mas também, nos locais onde moram. Em seus relatos, os jovens confidenciam que, apesar da idade, convivem com uma realidade bastante dura, moram em regiões violentas e já viveram situações nas quais presenciam o consumo excessivo de álcool e cigarro, inclusive no ambiente escolar. “Gostaria que situações como essa não ocorressem mais, e conseguir que os outros percebam principalmente nessa idade o quanto a droga e a bebida causam mal, para o resto da vida”, desabafa o estudante, sobre o que espera com sua participação.

 

Aos 19 anos, a estudante do 3º ano Isabel Bezerra, do Cesas (Centro de Educação de Jovens e Adultos Asa Sul) já sabe o que quer: ser professora. Ao participar do curso, ela conta que seu foco principal era entender o funcionamento do ambiente escolar, aprender a lidar com os jovens e estar preparada e capacitada para lidar com esse público em diversas situações. Mas, encontrou, na capacitação, algo além: o conhecimento para conseguir agir de diferentes maneiras no território. “Acho interessante levar o curso para a escola, para nossos pares, levar o conhecimento que adquirimos aqui e compartilhar experiências com outras pessoas”. Sobre as expectativas que possui enquanto multiplicadora, Isabel diz: “o Cesas abrange vários tipos de público, tanto jovens quanto adultos de 70 anos, na minha sala, por exemplo. Acho interessante por serem pessoas que estão buscando recomeço, e muitas delas estão vindo das drogas, outros estão perdidos e possuem um lar desestruturado”. Conforme a estudante, esse debate também tem sido realizado na escola. “Esse conhecimento pode ser levado para a família, para os adultos, os pais, para dentro de casa, para eles saberem conversar com os filhos, e para os jovens também”, opina.

 

A situação de vulnerabilidade em que muitos desses jovens vivem não é obstáculo para o potencial que apresentam. A coordenadora da ação de Educação entre pares do curso, Regina Padrão, elogia a qualidade, envolvimento e participação do grupo. “Este tem sido um momento muito rico para nós e para eles, pela troca de conhecimento que o curso possibilita. E esse conhecimento não é só repassado por nós, eles trazem muito conhecimento também”, ressalta.

 

Composto por nove módulos, o curso aborda temas como formação em educação entre pares; diagnóstico participativo / trabalho em rede; conceito de droga e existência na história da humanidade; tipos de drogas e efeitos; tratamentos; escola e prevenção ao uso de drogas. “O objetivo do curso é trabalhar a questão da vulnerabilidade e abordar a prevenção de álcool e outras drogas no território escolar. Percebemos, com as visitas nas escolas e entrevistas com os jovens, a necessidade de trabalhar também a questão do suicídio, da automutilação e da depressão, pela grande incidência de casos nas escolas”, afirma a coordenadora da ação, que discutirá também o bullying e o preconceito nos encontros.

 

“Estamos trabalhando a partir de uma política pública. Buscamos atender ao máximo de alunos prezando pela qualidade. Os jovens estão sendo preparados para fazerem a formação com seus pares na escola. O curso não termina na nossa sala de aula. Ele será multiplicado dentro do espaço escolar. Vejo a riqueza dessa experiência, eles próprios vão desenvolver essa formação com os colegas na escola, com o nosso acompanhamento”, acrescenta Regina.

 

Além do curso com os estudantes, que será realizado entre os meses de agosto e dezembro deste ano (carga horária de 90 horas), a iniciativa prevê a formação em EAD e semipresencial para professores acerca da temática.

 

Atividades

Em cada módulo, os estudantes participam de um encontro na Fiocruz Brasília para construção de conhecimento, realizam trabalho de campo no formato de oficina com seus pares no espaço escolar, além de darem uma devolutiva e debaterem as atividades desenvolvidas, e fazerem a consolidação do conhecimento construído. As atividades propiciam articulação entre conteúdos, metodologias de prevenção e elaboração gradativa do projeto de intervenção. Ao final do curso, os estudantes receberão certificado emitido pela Fiocruz.