Diagnóstico apresenta mapeamento da divulgação científica na América Latina

Fiocruz Brasília 14 de março de 2018


Entre as instituições que fazem divulgação da ciência na América Latina, 70,7% são públicas e 29,3% são privadas, de um total de 123 organizações identificadas em 14 países da região. 99,2% dessas instituições utilizam eventos e programas como estratégias de divulgação científica, 94,3% usam a internet e 82,1% fazem uso de produtos editoriais. Entre as atividades menos utilizadas estão as relacionadas aos meios de comunicação de massa, como a TV, a imprensa e o rádio. 33,3% das organizações não fazem uso da imprensa como estratégia, 30,1% e 26,8% não utilizam a TV e do rádio, respectivamente.

Estes são alguns dados do Diagnóstico da Divulgação da Ciência na América Latina (2017) destacados por Luisa Massarani, ex-diretora da RedPOP – Rede de Popularização da Ciência e da Tecnologia na América Latina e no Caribe, durante a I Semana de Divulgação Científica, na tarde desta terça-feira (13/3). Massarani participou da roda de conversa “O que é divulgação científica, conceitos, panorama e perspectivas em tempos de crise”, juntamente com a editora do Jornal da Ciência da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Daniela Klebis.

“Trabalho há 30 anos na área e sempre fiz divulgação científica na minha vida, e nos últimos quatro anos, até dezembro de 2017, estive a frente da RedePOP, rede de popularização da ciência. Acredito ser interessante trazer resultados de um estudo que fizemos no ano passado. Percebo um panorama diferente tanto no Brasil quanto na América Latina desde quando comecei a atuar nessa área. Neste estudo, queríamos perceber o que está acontecendo nessa nossa região”, explicou.

Massarani, que também é coordenadora do Instituto Nacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia e do Mestrado Acadêmico em Divulgação da Ciência, Tecnologia e Saúde da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) e membro do Comitê Científico da Rede Internacional para Public Communication for Science and Technology (PCST), destacou, como importantes conclusões do estudo, que 60,2% dos profissionais que atuam com divulgação de ciência e tecnologia são voluntários, 31,7% são voluntários e remunerados e apenas 8,1% são remunerados por desenvolverem esse tipo de trabalho.

O Brasil ocupa a segunda posição em número de instituições (25%), seguido da Argentina (19%). O México ocupa a primeira posição, com 33,6% do total de organizações que realizam divulgação da ciência e tecnologia nos 14 países da região.

Os recursos destinados para estas iniciativas também são muito baixos. 50,4% das instituições não possuem orçamento anual específico para popularização da ciência; e, em 30% das instituições que dispõem de orçamento para a divulgação, os recursos não chegam a 10 mil dólares por ano. Entretanto, a grande maioria dessas instituições possuem plano anual formalizado para ações de popularização, correspondendo a 71,5% do total.

Segundo o estudo, entre os atores da divulgação da ciência e tecnologia na América Latina, estão centros de investigação (12,2%), zoológicos e aquários (0,8%), meios de comunicação (2,4%), instituições de educação superior (27,6%), museus de antropologia e história natural (0,8%), museus e centros de ciência (17,9%), jardim botânico (0,8%), planetário (2,4%), associações, redes e grupos organizados (12,2%) e organismos públicos (8,9%), empresas (6,5%), e outros (7,3%).

Público
O público principal a que se destinam essas divulgações são adolescentes entre 13 e 18 anos (42,9%), seguidos de crianças menores de 12 anos (28,9%) e dos adultos (29,2%). Acerca do tipo de público atendido, escolar ou não escolar, 53,8% do público são estudantes em grupos escolares, 34,8% público geral e 11,5% professores.

Outro dado importante destacado pela pesquisadora revela que 63,4% das instituições não possuem atividades para públicos portadores de necessidades especiais e deficiências (mental, de atenção e aprendizagem, auditiva, visual ou locomoção). “Temos pouquíssimas atividades para público com deficiências diversas. Isso vai de encontro com outro estudo que fizemos, em museus de ciência, em que os mediadores desses espaços dizem que não se sentem preparados para atendimento a público de pessoas com deficiência, seja física, visual, etc.. Então, claramente, é uma área que a gente precisa olhar e ver como nos capacitamos melhor. Temos que estar preparados para atendê-los”, ressaltou.

O diagnóstico concluiu ainda que as ações de divulgação são pouco definidas pelo público a que se destinam. Apenas 26,9% das instituições afirmam que definem ( sim (10,6%) ou na maioria das vezes (16,3%)) os temas das atividades a partir de estudos para detectar necessidades e temas de interesse do público. Em contrapartida, afirmam que as decisões para a definição dessas ações baseiam-se, sim (35,8%) ou na maioria das vezes (43,1%), pelas áreas de expertise e/ou pelos interesses dos divulgadores de ciência e tecnologia.

Produção acadêmica da divulgação da ciência na América Latina
Em um segundo momento, Massarani apresentou uma série de dados da pesquisa   “Aproximaciones a la investigación en divulgación de la ciencia en América Latina a partir de sus artículos académicos”. Destacou que  “ a pesquisa em divulgação científica tem um potencial fundamental de trazer evidências científicas para entendermos a prática de divulgação científica, com imenso potencial de dar subsídios para aprimorarmos a nossa prática, para entendermos, por exemplo, qual o impacto social da divulgação científica, o que as audiências pensam sobre isso e uma série de fatores relacionados à divulgação da ciência”.

Ao todo, foram identificados 609 artigos de 80 revistas acadêmicas. A pesquisa considerou artigos acadêmicos sobre divulgação da ciência publicados por autores da América Latina ou sobre a América Latina. “Percebemos, nas últimas décadas, um aumento no número de publicações com o passar dos anos, desde a primeira tese identificada, em 1985, de Wilson da Costa Bueno [Jornalismo científico no Brasil: os compromissos de uma prática dependente]”, disse.

De acordo com a pesquisa, o Brasil ocupa o primeiro lugar em número de publicações, com 509. O México, na quarta posição, tem 21 estudos nessa temática. Ao todo, foram identificadas 232 instituições diferentes, e 1081 autores. Mais uma vez o Brasil destaca-se, ocupando as seis primeiras posições em número de publicações, por instituições. São elas: Fiocruz (95 publicações), seguida da Universidade de São Paulo – USP – (59), Universidade Estadual de Campinas (48), Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ – (44), Universidade Estadual Paulista – UESP – (27) e Universidade do Estado do Amazonas (22).

Entre os temas mais abordados estão: mídia e ciência (31%); museus e centros de ciência (20%) e divulgação científica na escola (15%). O tema apropriação social da ciência ocupa o último lugar, correspondendo a 1% do total.

Massarani destacou, ainda, duas iniciativas da Fiocruz acerca da Divulgação Científica: o Mestrado em Divulgação da Ciência, Tecnologia e Saúde, que está com inscrições abertas até 31 de março (pelos Correios) e 17 de abril (presencialmente) – outras informações aqui; e a publicação de um edital, voltado para o público da Fundação, para apresentação de propostas para projetos de divulgação científica, lançado em 5 de março, com o objetivo de “inspirar um número ainda maior de cientistas da instituição – de todas as idades, de níveis acadêmicos diferenciados (estudantes, jovens cientistas, pesquisadores sênior) e de distintas áreas do conhecimento. O objetivo é sensibilizar o protagonismo deles no processo de mediação entre ciência e sociedade, incrementando seu diálogo com os cidadãos”, diz trecho do documento. Acesse aqui

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