Trabalho em rede traz avanços para Políticas Informadas por Evidências, afirmam pesquisadores

Nathállia Gameiro 19 de novembro de 2020


Ascom Instituto Veredas

 

A Roda de Conversa “Evidências para o pós-pandemia: como conectar gestão pública, pesquisa e sociedade civil?”, realizada na na Semana de Inovação da Enap, ocorreu nesta terça (17/11) 

A pandemia de Covid-19 tem trazido muitas perdas para a humanidade. Ao mesmo tempo, houve um “boom” de produção científica no mundo sobre o tema. Nesse contexto, os desafios para a área das Políticas Informadas por Evidências também se apresentam cada vez mais urgentes. O tema foi debatido por diferentes pesquisadores na roda de conversa virtual “Evidências para o pós-pandemia: como conectar gestão pública, pesquisa e sociedade civil?”, realizada pelo Instituto Veredas na terça (17/11), durante a Semana de Inovação, da Escola Nacional de Administração Pública (Enap).

 

Para Laura Boeira, diretora do Veredas, o trabalho em rede é fundamental para nivelar a produção de conhecimento voltada aos processos decisórios na gestão. Com o objetivo de contribuir com enfrentamento à crise sanitária, o Veredas, junto à Rapid and Responsive Evidence Partnership (RREP), que envolve 15 países, produziu e traduziu respostas rápidas que estão ajudando gestores de diferentes políticas sociais no Brasil.

 

“Nós tentamos encontrar soluções para problemas sociais complexos. Desde o início, fomos entendendo que seria importante apoiar gestões no estados e municípios para organizar respostas à pandemia. Mapeamos o que já vinha sendo feito no mundo a partir das principais dúvidas dos gestores da nossa rede”, disse. Pesquisadores de países como Líbano, China, África do Sul e Reino Unido contribuíram com essa produção.


Daienne Machado, diretora de Estudos e Políticas Sociais da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan/DF), apresentou como desafio a necessidade de realizar pesquisas que partam do interesse real da gestão e não somente dos desejos da academia. Além disso, para ela, o conhecimento produzido deve conseguir abrir diálogo de forma didática com gestores e sociedade.

 

“Precisamos aprender a usar a voz da ciência para promover equidade, desenvolvimento social, para corrigir desigualdades históricas que estão se aprofundando em meio à pandemia. Os pesquisadores precisam aprender a se comunicar melhor, falar para fora, com a sociedade”, disse. Uma das iniciativas da Codeplan foi a produção do Boletim Covid-19, que já está na 31ª edição e sistematizou dados sobre a pandemia para gestores do DF em diferentes áreas.

 

Daniel Lopes, da Enap, apresentou o Evidências Express (EvEx), um serviço focado em reunir, sintetizar e fornecer, com qualidade e agilidade, evidências que possam servir de base para o desenho, o monitoramento e avaliação de políticas públicas para gestores federais.

 

“Nossas soluções são customizadas, variam de acordo com a experiência dos gestores que solicitam as evidências. Com isso, conseguimos entender a magnitude do problema, consequências, soluções e impactos”. Segundo ele, a pandemia “descortinou desigualdades que já existiam e não dávamos ênfase”. As atividades educacionais remotas, por exemplo, evidenciaram o quanto, no Brasil, ainda é necessário fornecer suporte para estudantes extraclasse.

 

Um grande desafio para os pesquisadores e as instituições que utilizam evidências é a diferença entre o “tempo da pesquisa e o tempo da gestão”. Em geral, a tomada de decisão requer urgência diante dos problemas sociais enfrentados, enquanto a pesquisa pode ter um tempo mais demorado para qualificar os achados.

 

De acordo com Daniela Fortunato Rêgo, do Ministério da Saúde e da Rede EvipNet Brasil, “um dos principais problemas da área ainda é a comunicação científica. A população acha que temos certezas e o gestor precisa saber lidar com as incertezas da construção do conhecimento científico”, disse.

 

Para ela, é necessário criar pontes entre as diferentes áreas que compõem a produção da evidência. “Precisamos integrar os atores sociais das diferentes temáticas e mapear os processos dentro da área da Saúde para que as evidências não entrem em competição com o processo decisório, mas que entrem em união”, disse.

O mesmo foi defendido por Jorge Barreto, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Brasília, que considera os cidadãos os principais produtores de conhecimento. “A transparência ajuda a reduzir assimetrias e desigualdades. Não dá para produzir [um estudo] se você não conhece as pessoas que vivem os desafios. Uma das alternativas para abordar os problemas é a co-criação dentro da ciência. O principal ‘stakeholder’ é o cidadão. Ele é o grande usuário do conhecimento, não é o governo. Não podemos esquecer o intercâmbio com a sociedade”, disse o pesquisador.

 

Jorge também apresentou a Rede Covid-End, espaço internacional que une as diferentes capacidades de instituições para dar respostas à pandemia. São 120 membros atuando em cooperação, fornecendo dados, estudos e experiências mundo afora para facilitar a tomada de decisão diante da pandemia.

 

Segundo ele, é necessário avançar com evidências sobre os impactos socioeconômicos da pandemia. Jorge também destacou a necessidade de as instituições darem “tratamento visual e palatável para as evidências”, com objetivo de gerar mais acessibilidade e pulverizar os conteúdos.

 

O Veredas e seus parceiros estão mapeando organizações que trabalham na área das Políticas Informadas por Evidências no Brasil. O objetivo é criar, em 2021, uma rede nacional, com diferentes agentes de produção de conhecimento, para informar a implementação de políticas públicas e intervenções sociais no país. A Roda de Conversa contou com participação de cerca de 70 pessoas. A iniciativa do Veredas também compõe a programação da Semana da Evidência 2020, evento da América Latina que promove a produção, comunicação e uso de evidências na tomada de decisões de interesse público.