“Sonho que se sonha junto é realidade”

Fernanda Marques 28 de março de 2022


Nove Comunidades de Aprendizagem, sobre diferentes temas da educação e da saúde, fizeram parte da programação da I Mostra da Escola de Governo Fiocruz – Brasília, realizada de 15 a 19 de março. Porém, mesmo antes da Mostra, as Comunidades já estavam em funcionamento: na semana anterior ao evento, os participantes se reuniram em um fórum, de forma assíncrona, no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) da Escola, para se conhecerem e trocarem experiências. Durante a Mostra, os encontros continuaram, dessa vez na plataforma Zoom, em momentos síncronos. E o diálogo foi tão rico que as Comunidades reivindicaram mais um encontro extra: então, na última terça-feira, 22 de março, os participantes realizaram um momento de celebração e sistematização das experiências.

 

“Educar é transformar e aprender é mover-se. As Comunidades trouxeram toda essa potência do acolhimento e da partilha de uma Escola em rede”, afirmou a psicóloga Fátima Sudbrack, do Programa de Estudos e Atenção às Dependências Químicas (Prodequi/UnB). A diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio, saudou a parceria com o Programa e a equipe do curso Saúde e Segurança na Escola, que coordenou várias Comunidades de Aprendizagem. “Escola é um projeto coletivo de práticas de justiça social, equidade e paz, com base na escuta e no diálogo. Nosso desejo era que a Mostra não fosse algo estático, e as Comunidades ilustraram isso muito bem. Vamos continuar com esse processo de construção”, disse.

 

Entendidas como formas de existência e resistência, arte e cultura estiveram presentes durante toda a atividade. Do Paranoá (DF), ao lado de Cleudes Pessoa, Mestra Martinha do Coco cantou uma ciranda de amor e luta, cuja letra foi escrita coletivamente pelas integrantes de um movimento de mulheres. O protagonismo jovem das periferias também foi destaque no evento. Medusa Fernandes, da Comunidade do Coque, Recife (PE), declamou um texto poético sobre a importância de mudar a história, ressignificar e escrever a própria narrativa. “Todes são contribuintes de um saber democrático, coletivo e plural. O que vocês estão fazendo hoje para que o amanhã seja diferente?”, questionou. 

 

Também da periferia recifense, Hosana Gomes, hoje no Colaboratório de Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) da Fiocruz Brasília, sublinhou a importância de ocupar os espaços, falar e ser ouvida. “Não se pode falar dos jovens sem os jovens”, concordou o psicólogo, historiador e doutor em educação Mauro Evangelista, da Secretaria de Educação do DF, destacando a necessidade de se reconhecer e valorizar os protagonismos plurais e suas diferentes caminhadas.

 

Cerca de 40 pessoas participaram do encontro. Na ocasião, representantes das nove Comunidades compartilharam uma síntese do que foi discutido nos grupos, sempre ressaltando a força da diversidade e do aprender com o outro. “O que eu fiz, o que você fez e o que podemos fazer juntos”, resumiu a psicóloga Sandra Viana, consultora do Prodequi/UnB, referindo-se, especialmente, à adaptação das práticas educacionais no contexto pandêmico, mediadas por tecnologias, e às mudanças de postura, reforçando a flexibilidade, a empatia, o cuidado com o outro e a importância de motivá-lo. “O mundo acadêmico precisa estar mais perto da prática da escola”, recomendou o professor Marcus Martins. “A complexidade do processo ensino-aprendizagem exige expandir o currículo, que deve extrapolar os muros da escola”, acrescentou a pedagoga Luciana Leite, também integrante do Prodequi/UnB. 

 

A promoção dos direitos humanos e o fortalecimento das redes intersetoriais locais como caminhos para a prevenção das drogas também estiveram na pauta do encontro, assim como vários outros temas. Para a mestre em saúde coletiva Vaneide Pedi, do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde (NEVS) da Fiocruz Brasília, uma das grandes contribuições das Comunidades foi a interdisciplinaridade. “Ela é fundamental para uma construção coletiva que proporcione mudanças, que devem ser protagonizadas pela população”, afirmou. 

 

A experiência das Comunidades de Aprendizagem deverá continuar em novas ocasiões, reforçando a Mostra da Escola de Governo Fiocruz – Brasília como um processo vivo, em movimento. Afinal, “Sonho que se sonha só / É só um sonho que se sonha só / Mas sonho que se sonha junto é realidade”, conforme os versos de Raul Seixas, lembrados no final do encontro.