Relação saúde e democracia marca seminário da Fiocruz Brasília

Fiocruz Brasília 29 de abril de 2016


“Saúde é democracia, democracia é saúde” é o bordão que norteia a promoção de debates, reflexões sobre a conjuntura política atual no âmbito da Fiocruz. Com estas palavras o vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz, Valcler Rangel, iniciou o Seminário “Saúde, direitos e liberdades democráticas” promovido pela Fiocruz Brasilia e o Núcleo de Futuro da UnB. Para ele, o SUS tem o gene da democracia e se constituiu a partir da participação social. O encontro aconteceu na noite do dia 29 e reuniu Jessé Souza, presidente do Ipea, José Geraldo de Sousa, o professor da Faculdade de Direito da UnB, a jornalista e comentarista da TV Brasil e do Portal 247, Teresa Cruvinel.

O presidente do Ipea, sociólogo Jessé Souza, disse que a sociedade brasileira tem a prática do esquecimento. Não promove ou estimula reflexões críticas sobre nossa história e, assim, promove “anistias de esquecimento” como as da escravidão, com Rui Barbosa, a da tortura, com as Diretas Já. O brasileiro, no seu entender, precisa recuperar o sentido da justiça e lutar contra a escravidão que ainda perpassa muitas das práticas cotidianas. Como exemplos citou o das empregadas domésticas e dos entregadores de pizza, segundo ele, a classe média naturaliza a exploração. Para ele, existe um descompromisso crônico da elite brasileira com o Brasil. A elite econômica tem a prática da rapina e coopta as elites intelectual, política e a mídia. A população, por sua vez, desconhece como as alianças são construídas. E vaticinou “ uma sociedade que não consegui aprender está condenada a repetir e repetir…”

Um momento de angustia e reflexão. Assim, a jornalista Teresa Cruvinel pontou a conjuntura política brasileira. Para ela, as manifestações de 2013 foram o estopim desencadeador do processo, mas considera não estar claro a gênese do movimento. Indaga de onde surgiram, quem importou tantas mascaras de “anônimos” que ocuparam as ruas.  No seu entendimento, a primeira tentativa para afastar a esquerda do poder ocorreu em 2005, mas não prosperou devido à grande popularidade do ex-presidente Lula, agora o movimento retornou forte.

Na avaliação de Teresa, o Partido dos Trabalhadores cometeu um erro ao promover uma ascensão que não foi acompanhada de uma educação política. O PT não soube ensinar à população que ter acesso a casa própria, a saúde são direitos.

Com relação ao futuro, observou que o afastamento da presidente Dilma traz seis meses de muita incerteza e nesse espaço de tempo tudo pode acontecer. Para Teresa, é necessário zerar o jogo com uma eleição direta.

O professor José Geraldo, da UnB, manifestou seu entendimento de ser um golpe o atual processo do impeachment contra a Presidente Dilma. Em sua explanação explicou a razão da expressão golpe causar tanta tensão entre os defensores do processo. “Na nossa cultura, golpismo é entendido como traição. Se há traição na conspiração, eles não são companheiros, são cumplices.  Eles sabem que os que caminham lado a lado podem trai-lo em determinado ponto”, disse o professor.

No Brasil, segundo o professor, predomina o colonialismo que é patrimonialista, racista, clientelista e onde a divisão de riqueza e poder se faz pela mediação do favor e não pela justiça.

O Seminário contou com a participação de representantes de movimentos sociais e sindicais como Valeir Ertl, da Central Única dos Trabalhadores, Paulo Garrido, vice-presidente da Asfoc, Ana Costa, do CEBES e outros.