Psicóloga palestina ministra oficina sobre superação de conflitos

Fiocruz Brasília 10 de agosto de 2015


Oficina realizada na Fiocruz Brasília reuniu assistentes sociais, psicólogos, advogados, sociólogos e estudantes

“Precisamos dar espaço para os sentimentos como tristeza, raiva e angústia e pensar que sentido nos mantém vivos”, disse a psicóloga palestina Laila Atshan, em oficina sobre Resiliência Individual e Comunitária no Contexto de Violência. Cerca de 60 pessoas de diversos locais e diferentes formações profissionais, como assistentes sociais, psicólogos, advogados, sociólogos e estudantes estiveram na Fiocruz Brasília na última quinta-feira (6), participando da atividade. Entre eles, profissionais que lidam com a violência das mais diversas formas, principalmente física e mental.

Na ocasião, a palestrante fez questionamentos, interagiu com o público e fez com que eles buscassem a compreensão de sentimentos e atitudes. Dentre as perguntas estavam: qual a motivação para participar da oficina, quais seriam as perguntas das quais gostariam de obter respostas ao final do dia, em que momento se sentiram violentos, o que sentiram quando passaram por um momento de crise e como reagiram à situação.

Divididos em grupos, os participantes compartilharam momentos e situações em que se sentiram violentos. “Todos nós podemos ser violentos, não importa a cor, raça, gênero ou idade. O que ajuda a construir a resiliência é a capacidade de compartilhar esse momento de violência de forma corajosa. A única maneira de mudar algo é fazer o que estamos fazendo aqui, falar sobre isso. Com certeza sairemos melhores”, afirmou Laila.

Os participantes escolheram palavras como otimismo, tolerância, afeto, aprendizado, reflexão, ressignificação, oportunidade de crescimento, ser uma pessoa melhor e “sempre é possível ajudar” para definir a oficina. Relataram ainda que os ensinamentos do dia seriam utilizados e compartilhados no trabalho.

Exemplo de superação
Durante a oficina, Laila contou sua história de vida e trajetória profissional. Palestina, nascida em Ramallah, em uma família de refugiados, a psicóloga conta que durante sua adolescência era comum sentir que não a enxergavam. De uma vida difícil devido a uma deficiência visual, ela mostrou como conseguiu mudar a narrativa de sua vida.

Hoje, é conselheira psicossocial com sede em Ramallah, nos territórios palestinos. Depois de completar seu mestrado em saúde mental na perspectiva psicossocial nos Estados Unidos, ela voltou para a Palestina para participar no apoio a palestinos atingidos pela ocupação israelense. Foi nesse momento que Laila define que se encontrou, em um meio em que ela não era julgada pelas suas limitações.

Desde então, ela trabalha com grupos de pessoas que estão em situações limites. Alguns de seus trabalhos recentes incluem treinamento de pessoal no UNICEF, trabalhos na zona de conflito do Darfur e treinamento de professores universitários iraquianos na promoção e implementação dos direitos humanos no contexto do conflito.

É especializada em aconselhamento e reabilitação social de pessoas com deficiência física em consequência da guerra, trabalha com refugiados, prisioneiros e sobreviventes de violência política e doméstica, criando ambientes de escuta e fala para as pessoas que não são visíveis, ajudando a trazer à tona habilidades e criando redes de apoio. “Foi minha oportunidade para entrar no processo de modificar, mudar a narrativa partindo da idéia de que há outra coisa que as pessoas são capazes de fazer, há outra vida. Foi o meu momento de vingança positiva para tornar a vida melhor para muitas outras pessoas. Sempre é possível ajudar alguém”, ressalta.