Produção e gestão do conhecimento é tema de debate no Fórum das Unidades Regionais da Fiocruz

Fiocruz Brasília 4 de dezembro de 2015


O secretário-executivo do Ministério da Saúde, José Agenor Álvares, foi o conferencista da abertura

Produção e gestão do conhecimento, ameaças e oportunidades do futuro Código de CT&I e as contribuições das unidades regionais da Fiocruz para os temas de saúde pública foram assuntos apresentados ontem no Fórum das Unidades Regionais que reúne em Brasília, diretores das unidades Minas Gerais, Amazonas, Rondônia, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Bahia e Paraná.

Isaac Roitman, coordenador do Núcleo de Estudos do Futuro da Universidade de Brasília, falou sobre a produção de conhecimento no Brasil. A pesquisa no país, atualmente é feita predominantemente pelas universidades públicas e privadas. Para o professor, o novo modo de produção de conhecimento no contexto das sociedades democráticas contemporâneas envolve reflexão de caminhos e diferentes posturas.

Ele afirmou que para formar profissionais da ciência comprometidos com a qualidade, o pensamento crítico e a inovação, é preciso enfrentar um longo caminho que se inicia na educação básica, estimulando a criatividade dos estudantes e com um ensino de ciência de qualidade. Roitman pontuou as necessidades: políticas públicas para a primeira infância, programas que permitam aos jovens frequentarem ambientes de ciência, conteúdos mais objetivos, formação continuada e valorização da carreira do docente.

Na graduação, Roitman afirma que o país precisa de egressos com uma cultura universitária. Ele acredita que o estudante não aproveita o que ocorre dentro da universidade, fora de sua área, e por isso, é preciso uma reflexão sobre a verticalização e integração. “Não temos nenhuma universidade no Brasil, temos um conjunto de faculdades verticalizadas”, explica.

O professor relatou que os paradigmas da ciência, tecnologia e inovação estão sendo mudados com o tempo. No pós-guerra mundial até o início dos anos 60, a ciência era considerada como o motor do progresso. Já nas décadas de 60 e 70, a ciência era a solução e causa de problemas. Nas décadas de 80 e 90, a concepção era da ciência como fonte de oportunidade estratégica. No século XXI é vista como o bem da sociedade, com produção coletiva e participação de múltiplos atores associados em redes variadas.

Outra mudança observada é na comunicação entre os pesquisadores. No passado, era lenta e só podia ser feita através do correio. Hoje, a comunicação é em tempo real e a informação chega de forma rápida, o que estimula parcerias e formação de redes temáticas. “É importante usar esses mecanismos de informação e comunicação para desenvolver a produção de conhecimento e inserir melhorias na qualidade de vida das pessoas. Nunca tivemos na humanidade uma produção tão grande de conhecimento como hoje”, disse.

O futuro código nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação também foi abordado durante o Fórum. A proposta dispõe sobre incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo, com o objetivo de acelerar o desenvolvimento da pesquisa e da inovação no país. O código começou a ser construído em 2011 e passou por um processo de maturação.

O vice-presidente de Pesquisa Laboratórios de Referência, Rodrigo Stabeli, falou sobre os avanços e ameaças que o código trouxe para o Brasil. Como ameaça, citou a crise enfrentada pela ciência, com o freio na produção e no investimento no setor, na contramão de países que têm um crescimento significativo de inovação para o bem estar social.

As oportunidades destacadas pelo vice-presidente foram o despertar da comunidade científica para trabalhar no marco legal; a garantia de que a pesquisa e inovação tecnológica sejam assuntos prioritários para o estado; possibilidade da integração de instituições de pesquisa com empresa privadas; mobilidade de recursos e pessoas dentro de instituições; e a desburocratização nos processos de aquisição de bens e serviços, bem como o tratamento prioritário e simplificado para os insumos que são necessários para o desenvolvimento cientifico do país.

“O código é importante para fazermos um bom planejamento para a Fiocruz nacional. Podemos pensar em integrações colaborativas que podem superar a nossa vulnerabilidade tecnológica ou trabalhar também na oportunidade de geração de produto”, disse. Stabeli ressaltou que sem desenvolvimento científico coordenado, não é possível enfrentar os graves problemas de saúde pública – os já incorporados no sistema ou aqueles que eventualmente aparecerão como o caso das grandes epidemias. “Sem ciência e inovação não há saúde. É importante olhar para o presente e aprender com os erros do passado, para termos ações precisas no futuro. Temos uma estrada longa a seguir”, finalizou.  

Pesquisa e avaliação em saúde pública

“Precisamos pensar em ambientes institucionais que sejam propícios à inovação. Essa agenda do Fórum das Unidades Regionais é relevante para o conjunto das unidades da Fiocruz e o campo da saúde em geral”, ressaltou Nísia Trindade, vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação.

Ela destacou que é preciso trabalhar de forma integrada a interseção de fatores para avaliar o conhecimento. Pensar a ciência como atividade social circunstanciada por determinados contextos históricos e como um contexto de crise política, econômica e sanitária foi o caminho apontado por Nísia. Para ela, o processo da ciência é alienado, onde diagnóstico e interlocuções precisas com os agentes públicos e definições das comunidades e pesquisadores acontecem de forma fragmentada e isolada. Uma das aspirações é construir ambientes institucionais para tomadas de decisões mais efetivas e mudar a forma de ordenação. “A reflexão nos faz avançar institucionalmente na criação de mecanismos que apoiem na formulação e implantação de políticas de pesquisa”, ressalta.

Nísia aproveitou para falar da necessidade de avaliação dos ensinos de pós-graduação do Brasil e citou a portaria da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), divulgada no último mês, que institui uma comissão para análise do sistema de avaliação da qualidade da pós-graduação.

A vice-presidente falou também sobre a experiência do Observatório da Fiocruz em CT&I, instrumento de apoio à gestão, formulação e aperfeiçoamento de políticas estratégicas que monitora informações relevantes na área e produzir indicadores e métricas sobre atividades de pesquisa e produção científica. De acordo com Nísia, o Observatório otimiza e amplia a capacidade da instituição de contribuir para politicas públicas e abre diálogo entre os pesquisadores.

O diretor da Fiocruz Brasília, Gerson Penna, fez um breve histórico sobre o FUR, com 32 reuniões em quatro anos e visitas a todas as unidades, buscando um trabalho mais integrado e complementar. Destacou a diversidade de pesquisas da Fiocruz e o diálogo existente entre as unidades regionais.

Penna apresentou o mapeamento das contribuições das unidades da Fiocruz para os temas de pesquisa em saúde pública. Foram analisados quase 4 mil artigos produzidos nos últimos quatro anos pelas unidades regionais, classificados em nove áreas temáticas – mecanismos e processos comuns a diversas áreas, doenças virais, doenças bacterianas e microbacterianas, doenças parasitárias, doenças crônico-degenerativas, saúde e ambiente, tratamento de dados, outras áreas não contempladas, saúde coletiva/ políticas públicas alocando-as em cinco campos de atuação – epidemiologia e vigilância em saúde, estudos sobre os agentes de doença, estudo de patogênese, avanços tecnológicos e outros campos. Com 867 publicações científicas, há uma disparidade de trabalhos sobre doenças parasitárias. “Devemos nos debruçar ao que a Fiocruz produzir e desenhar estratégias de pesquisa focadas nas necessidades da saúde publica, buscando inserir as unidades regionais nos seus contextos sociais, particularmente o da saúde”, finalizou o diretor da Fiocruz Brasília.