Pesquisadores discutem impactos de desastres em barragens de mineração e derramamento de petróleo

Fernanda Marques 9 de dezembro de 2020


A perda da biodiversidade, os desastres em barragens de mineração e o derramamento de petróleo no litoral brasileiro não estão dissociados; precisam ser compreendidos em uma perspectiva sistêmica para que se construam respostas capazes de fazer frente ao colapso socioambiental e seus impactos na saúde pública. Esta foi a síntese feita pelo pesquisador Carlos Machado de Freitas, da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), que mediou a mesa “Ambiente, desastres e riscos”, na tarde desta quarta-feira (9/12), durante a Feira Digital de Soluções para a Saúde.

 

A coordenadora da Plataforma Institucional Biodiversidade e Saúde Silvestre da Fiocruz, Marcia Chame, comentou diversos fenômenos que têm rompido a capacidade de manutenção dos ciclos biológicos vitais e causado o declínio generalizado da biodiversidade – desde o uso de inseticidas que ameaçam as abelhas e a polinização, com grave impacto na produção de alimentos, até os efeitos das mudanças climáticas globais, com derretimento das geleiras, alteração da salinidade, acidificação e colapso da cadeia alimentar nos oceanos. A pesquisadora destacou ainda, os incêndios na Amazônia e no Pantanal e como todos esses desastres favorecem a emergência de doenças.

 

Ao abordar o rompimento das barragens de Mariana e Brumadinho, Mariano Andrade da Silva, do Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde da Fiocruz, ressaltou as vidas perdidas e os impactos na saúde, no ecossistema e nos modos de viver daqueles territórios. Lembrou que os efeitos desses desastres são imediatos e locais, mas também de longo prazo e expandidos, afetando lugares a quilômetros de distância e gerações futuras. “Esses desastres são a concretização de um processo histórico e seu modelo de desenvolvimento”, disse, referindo-se a questões como concentração de renda, impunidade e iniquidades. Para Mariano, a ocorrência dos desastres aprofunda, ainda mais, as injustiças ambientais e as vulnerabilidades, com sobreposição e acumulação de riscos. “Para uma adequada gestão dos riscos, é necessário outro modelo de desenvolvimento, que leve em conta as questões sociais, ambientais, de saúde e dos trabalhadores, com participação social”, afirmou.

 

Já o pesquisador Fernando Ferreira Carneiro, da Fiocruz Ceará, abordou o extenso derramamento de petróleo, no segundo semestre de 2019, que atingiu quatro mil quilômetros da costa brasileira, afetando cerca de mil praias em 11 estados, com mais de cinco mil toneladas de resíduos oleosos despejados. Coordenador do Observatório de Saúde das Populações do Campo, da Floresta e das Águas, Fernando criticou que o problema não foi reconhecido pelas autoridades como uma emergência de saúde pública e classificou o ocorrido não como um “desastre”, mas como uma “tragédia/crime”, apontando a falta de coordenação e de transparência com que a situação foi tratada pelo governo. “Houve uma inação e uma invisibilização do problema”, avaliou Fernando, sublinhando a importância da vigilância popular e do conhecimento que as pescadoras têm sobre os territórios afetados.

 

Camila é educadora popular do Conselho Pastoral dos Pescadores, que acompanha os territórios tradicionais pesqueiros. “O derramamento do petróleo afetou a biodiversidade e a vida das mulheres pescadoras, que tiveram seus produtos, sua renda e a segurança alimentar de suas famílias prejudicados”, enfatizou. “Além dos impactos socioeconômicos e socioambientais, havia o risco à saúde, as tensões e as violências. Com a chegada do petróleo, as pescadoras não tinham como vender o marisco, nem tinham condições de adquirir outros alimentos, então consumiam aquele produto, mesmo com o medo da intoxicação”, contou. Camila, que é mestranda em Políticas Públicas em Saúde (Fiocruz Ceará/Brasília), também mencionou as iniciativas e articulações locais para o enfrentamento do problema. “A campanha Mar de Luta foi criada com o objetivo de que o ocorrido não caia no esquecimento”, sublinhou, lembrando a intensificação das vulnerabilidades no contexto da pandemia de Covid-19.

 

A programação da Feira Digital de Soluções para a Saúde vai até sexta-feira, 11 de dezembro: https://feira.agora.fiocruz.br/