Pesquisadores apontam necessidade de investimento no SUS para o desenvolvimento do país

Fiocruz Brasília 24 de agosto de 2017


O Ciclo de Debates em Desenvolvimento, Equidade e Saúde teve início ontem, 23 de agosto, na Fiocruz Brasília. Profissionais de saúde, pesquisadores, estudantes do Mestrado em Políticas Públicas em Saúde da Fiocruz Brasília e estudantes da Universidade de Brasília (UnB) participaram da atividade que busca refletir sobre a atual crise política e econômica do Brasil e pensar no futuro do Sistema Único de Saúde diante das dificuldades enfrentadas no momento.
O médico sanitarista e pós-doutorando da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP/Fiocruz) Roberto Bittencourt, apresentou aspectos da economia brasileira que afetam diretamente a saúde pública e consequentemente a vida da população, como a queda do produto interno bruto (PIB), a dívida pública, a formação bruta de capital fixa,  as despesas da união, as despesas da saúde e os dados populacionais. 

O investimento em saúde é baixo. Segundo dados apresentados, a taxa do Brasil é de 15%, enquanto a dos outros países é de 30%. Não há também o aumento dos gastos em saúde proporcional ao crescimento do PIB. Segundo o pesquisador, o ambiente econômico de crescimento do PIB é fundamental para o financiamento do SUS. “Da maneira como está, é impossível sustentar um sistema como o SUS. Ao impedir esse rombo na economia, teremos mais recursos para investir na saúde pública e na melhoria da qualidade de vida das pessoas”, afirmou.
O Brasil é um dos países com a maior renda, mas a distribuição é muito desigual. Mais de 53 milhões de pessoas (um quarto da população) recebem renda de programas do governo, vivendo com cerca de 180 reais por mês, enquanto 71 mil pessoas recebem mais de 160 salários mínimos por mês, declarado no Imposto de Renda. 

E a desigualdade na distribuição de riquezas e renda tem aumentado. Segundo Bittencourt, em 1990, a diferença entre o patrimônio de ricos e pobres era de 60 vezes. Em 2015, a diferença subiu para 125 vezes. O pesquisador aponta uma política econômica desenvolvimentista como alternativa a esse cenário. “O Brasil tem história e conhecimento para isso. Se quisermos trabalhar uma nação com a potencialidade do país, o SUS tem que ser um componente vital nesse projeto de desenvolvimento nacional. Mais SUS, mais cidadania”, finalizou.  

Outros fatores que afetam negativamente a saúde pública foram apontados pelo embaixador Samuel Guimarães, ex-secretário geral do Ministério das Relações Exteriores. A reforma trabalhista e a Emenda Constitucional 95/2016, que congela por 20 anos os gastos com saúde e educação, em meio a surtos de doenças como febre amarela, dengue e zika, estão na lista.

Há ainda a tendência de as pessoas serem cada vez mais substituídas por máquinas. De acordo com Guimarães, esses fatores geram mudanças nas condições de trabalho e aumentam o desemprego. Isso faz com que as condições de vida fiquem mais precárias e cresça a busca pelo sistema gratuito, inflando ainda mais o serviço. 


A saída para a alteração desse cenário é o debate e o estudo, de acordo com Ulisses Riedel, advogado e presidente da ONG União Planetária. Para ele, o poder está nas universidades e escolas, que passam conhecimentos e conseguem debater com os estudantes, a geração que vai comandar o país nos próximos anos. 
O coordenador do Núcleo de Estudos do Futuro da UnB, Isaac Roitman ressalta a importância da iniciativa. “Ciclos de debates como esse são fundamentais porque permitem a participação de todos na discussão das dimensões da saúde e proposta de soluções a médio e longo prazo para um Brasil melhor. É um grande desafio pessoal e institucional”, afirmou. 


O vice-diretor da Fiocruz Brasília, Wagner Martins, afirma que é preciso pensar para decidir e agir. “Sem a reflexão não conseguimos entender o contexto que estamos vivendo e nem pensar na saúde e no desenvolvimento saudável”, finalizou.  
O debate foi promovido pelo Programa Pensamento Estratégico Nacional e Saúde (PENSA) em parceria com o Núcleo de Estudos do Futuro (n-Futuros/UnB), o Movimento 2022 – O Brasil que queremos, e a Escola Fiocruz de Governo (EFG). Esta foi a primeira atividade do Ciclo de Debates em Desenvolvimento, Equidade e Saúde e estão previstas mais cinco edições para este ano.