O médico dermatologista Gerson Penna, pesquisador pleno do Núcleo de Medicina Tropical (NMT) da Universidade de Brasília (UnB), coordenou uma pesquisa ao longo de 10 anos que vem ganhando destaque por sugerir uma mudança significativa no tratamento da hanseníase. O estudo, feito em parceria com a Fiocruz Brasília, da qual Gerson é diretor, acompanhou a trajetória de 853 doentes durante seis anos e concluiu que o tratamento será mais eficaz se for unificado e realizado ao longo de seis meses, e com uma mesma combinação de medicamentos. Atualmente, o tratamento se divide em duas formas (seis e 12 meses), com diferentes combinações de medicamentos.
Essa é a maior inovação no tratamento da hanseníase desde 1981, quando o tratamento (que durava dois anos) começou a ser ofertado pela rede pública. O novo protocolo aponta vantagens como a melhoria da qualidade de vida do paciente (que passará menos tempo submetido a tratamentos) e a sua consequente permanência no tratamento – que, sendo mais curto, minimiza as chances de desistência.
O assunto foi notícia em reportagem especial do jornal Correio Braziliense do domingo passado (8 de outubro). O jornal deu destaque a algumas conquistas da pesquisa, que gerou 12 artigos científicos em revistas nacionais e internacionais, sete teses de doutorado e duas dissertações de mestrado. O estudo do NMT — no qual Gerson é pesquisador — teve a parceria dez instituições nacionais e internacionais, incluindo a Fiocruz Brasília.
Seus resultados são tão expressivos que o Ministério da Saúde irá reunir, em novembro, um grupo de especialistas com o objetivo de se adotar, em todo o Brasil, o protocolo sugerido pela pesquisa. Também a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece os avanços trazidos pelo estudo e afirma que ele reúne todas as condições para ter seu protocolo adotado em todo o mundo.
A classificação dos doentes de hanseníase é hoje feita por equipes da Atenção Primária e leva em conta a quantidade de lesões na pele do paciente. No entanto, Gerson Penna ressalta que essa avaliação está sujeita a equívocos, pois requer muito conhecimento e experiência no assunto. Com avaliações erradas, há prejuízos para o encaminhamento e tratamento do paciente.
Os pacientes identificados com até cinco lesões na pele (hanseníase paucibacilar) são atualmente tratados por um período de seis meses, com o uso de dois medicamentos: Rifampicina e Dapsona. Aqueles com mais lesões (hanseníase multibacilar) são tratados por 12 meses, fazendo uso de três medicamentos: Rifampicina, Dapsona e Clofazimina. Após os dez anos de investigações, e do acompanhamento dos 853 doentes, o estudo sugere que, independentemente da quantidade de lesões na pele, todos os pacientes sejam tratados pelo período de seis meses, usando três medicamentos: Rifampicina, Dapsona e Clofazimina.
“Ao ofertarmos as três medicações pelo período de seis meses para todos, simplificamos o processo e aumentamos a efetividade do tratamento”, afirma Gerson Penna.
Os resultados da pesquisa foram publicados em julho, na revista científica PLOS – Negleted Tropical Diseases, com o título “Uniform multidrug therapy for leprosy patients in Brazil (U-MDT/CT-BR): results of an open label, randomized and controlled clinical trial, among multibacillary patients”. Além disso, as diversas etapas do estudo renderam apresentações em congressos científicos no Brasil e no exterior (na Índia, Bélgica e China). A pesquisa foi financiada via parceria entre o Departamento de Ciência e Tecnologia (Decit) do Ministério da Saúde e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com investimento de R$ 1,6 milhão.
Foto: Correio Braziliense