Pesquisa científica e fitoterapia: saiba como foi o terceiro webinário da série

Mariella de Oliveira-Costa 1 de setembro de 2021


Cerca de 70 a 95% das pessoas nos países em desenvolvimento usam a medicina tradicional, incluindo fitoterápicos. Mais de 70% do mercado mundial de medicamentos está relacionado direta ou indiretamente aos produtos naturais. O Brasil tem de 15 a 20% de toda a biodiversidade mundial, com mais de 50 mil espécies da flora brasileira reconhecidas. Poucas delas, porém, tem sido investigadas cientificamente, o que revela um potencial imenso de pesquisa sobre novos agentes terapêuticos para controle e prevenção de doenças. 

 

Esses foram alguns dos dados apresentados durante o webinário “Pesquisa científica como ferramenta no desenvolvimento da fitoterapia”, realizado nesta terça-feira (31/8), com  transmissão online pelo canal da Fiocruz Brasília no YouTube. 

 

Uma investigação científica bem delineada fornece subsídios para a tomada de decisão política e industrial. Ao longo do evento, os palestrantes apresentaram a urgência de se investir em pesquisas sobre as plantas brasileiras para diminuir a distância entre o conhecimento tradicional que várias etnias e comunidades já têm e o uso nas clínicas e consultórios. 

 

O coordenador do Laboratório de Pesquisa em Fármacos da Universidade Federal do Amapá, José Carlos Tavares Carvalho, falou sobre a pesquisa fitoquímica e farmacológica para validação de plantas medicinais. Ele ressaltou a necessidade da medicina baseada em evidências, com realização de estudos e registros consistentes sobre o uso dessas plantas medicinais como base para o controle de qualidade dos fitoterápicos. Ele lembrou que o Brasil possui uma série de centros de produtos naturais dentro das universidades públicas e mostrou exemplos desses produtos, como o açaí e o óleo de copaíba, muito vendidos nas farmácias de manipulação, mas ainda sem pesquisa clínica robusta que possibilite o registro e amplie o alcance desse uso. 

 

O jenipapo, usado para fazer pinturas e na resolução de agravos de saúde, o urucum, importante mundialmente devido aos elementos de sua semente medicinal, o taperebá e outras plantas utilizadas pelos povos amazônicos com atividade anti-inflamatória e antiviral ainda não têm esses seus diversos usos completamente  registrados pela pesquisa científica. Segundo José Carlos, é preciso valorizar a etnofarmacologia, que estuda os efeitos farmacológicos das preparações tradicionais, e a etnobotânica, que representa a relação do homem com as plantas. Ele explicou, ainda, procedimentos de estudo como a extração dos óleos da planta para garantir a validação medicinal. “A pesquisa com plantas medicinais de ação biocida e repelente tem apresentado resultados promissores, oferecendo alternativa para o desenvolvimento de produtos eficientes e de baixa toxicidade”, disse. 

 

Da Coordenação Geral de Ações Estratégicas em Pesquisa Clínica, no Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, Evandro de Oliveira Lupatini  apresentou a pesquisa translacional e os desafios dos fitoterápicos. Para ele, mesmo com o avanço da ciência, o número de novas entidades moleculares tem se mantido estável, enquanto os custos das medicações aumentam, o que reforça a necessidade de se garantir a translação do conhecimento. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a translação do conhecimento se refere a ideias, percepções e descobertas geradas por meio de investigação científica básica e aplicadas ao tratamento ou à prevenção de doenças humanas. 

 

Da Universidad de San Carlos, da Guatemala, o professor Armando Cáceres falou sobre validação e uso clínico de plantas medicinais mesoamericanas. Ele apresentou diversos estudos em seu país que correlacionam o uso de plantas medicinais e suas propriedades farmacológicas, seguidos do desenvolvimento de xaropes, ensaios clínicos, registro e alocação do produto no mercado. Como exemplo, citou o elixir Virakamik-R, ainda em desenvolvimento, para tratamento de infecções virais. O pesquisador, que fez parte de sua formação em instituições brasileiras, defendeu a necessidade de se validar cientificamente a tradição dos povos originários no uso dessas plantas, ressaltando que a medicina do futuro é baseada não só em patentes, mas no conhecimento tradicional. 

 

Este foi o terceiro webinário da série comemorativa dos 15 anos da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF), realizado pela Coordenação Geral de Assistência Farmacêutica Básica do Ministério da Saúde, em parceria com a Escola de Governo Fiocruz – Brasília e a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). O objetivo é discutir os desafios e trazer novas propostas para o desenvolvimento da PNPMF.

 

A Fiocruz Brasília oferece o Curso de Atualização em Fitoterapia, cujas inscrições para a terceira turma estão abertas e podem ser realizadas por meio deste link.     

 

Clique aqui para assistir à transmissão do webinário na íntegra. Esta atividade teve tradução para a linguagem de libras e é uma realização do Sistema Único de Saúde (SUS).

 

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