Parceria entre Fiocruz e farmacêutica alemã amplia acesso a medicamento contra Parkinson

Nathállia Gameiro 31 de março de 2022


No Brasil, mais de 200 mil pessoas convivem com a doença de Parkinson, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Esses pacientes terão maior acesso ao medicamento pramipexol no Sistema Único de Saúde (SUS) com a Parceria para o Desenvolvimento Produtivo (PDP) entre a Fiocruz e a farmacêutica alemã Boehringer Ingelheim. A conclusão da parceria foi celebrada na noite da última quarta-feira (30/3), em cerimônia realizada na Embaixada da Alemanha no Brasil, em Brasília. A transferência de tecnologia para o Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) garante autonomia nacional na produção do pramipexol, utilizado para tratar o Parkinson e melhorar a qualidade de vida dos pacientes, minimizando os transtornos causados pela doença.

 

Para o vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Marco Krieger, este projeto possibilita o avanço tecnológico e um modelo de inovação que incorpora novos conhecimentos para a produção do medicamento de primeira linha contra uma doença crônico-degenerativa de grande impacto global. “Nossa equipe da Fiocruz tem se empenhado em conseguir ferramentas e acordos de ciência e tecnologia para fornecer à sociedade, em um número cada vez maior, produtos que permitam enfrentar tanto as emergências sanitárias como as questões do dia a dia. Esse modelo de parceria público-privada busca acelerar nossa capacidade de entrega”, destacou.

 

Krieger afirmou que a pandemia reforça a importância da produção local no enfrentamento de emergências sanitárias, especialmente em um país com as dimensões demográficas e geográficas do Brasil. O vice-presidente da Fiocruz lembrou ainda a capacidade de Farmanguinhos, com mais de 27 projetos de inovação aprovados e oito Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo.

 

Farmanguinhos é considerado o maior laboratório farmacêutico vinculado ao Ministério da Saúde e fornece ao SUS 33 importantes medicamentos para o tratamento de doenças como tuberculose, malária, HIV/Aids e Parkinson. Além de pesquisar, desenvolver e produzir medicamentos essenciais para a população brasileira, a unidade trabalha pela redução de custos de medicamentos, permitindo que mais pessoas tenham acesso aos programas de saúde pública.

 

Breve histórico da parceria

A parceria para o desenvolvimento e fabricação do pramipexol permitiu o fornecimento de mais de 121 milhões de unidades farmacêuticas ao SUS, fabricadas pela Boehringer ao longo dos últimos oito anos. Em 2018, Farmanguinhos deu início à realização interna de todas as etapas produtivas do medicamento, totalizando o fornecimento de mais de 97,2 milhões de unidades ao SUS. Para o ano de 2022, a estimativa é que a produção seja de mais de 30 milhões de unidades farmacêuticas, nas concentrações de 0,125mg, 0,250mg e 1,000mg.

O presidente da Boehringer Ingelheim, Marc Hasson, destacou a conclusão da portabilidade da tecnologia e a autonomia do Brasil na produção do pramipexol. “Um número seis vezes maior de pacientes terá acesso ao tratamento, se comparado ao momento em que iniciamos a parceria. É mais um passo para a consolidação e o fortalecimento do SUS”, destacou. “A transferência de tecnologia para a produção do pramipexol renova a esperança de pacientes que podem contar com um medicamento de alta qualidade para tratamento do Parkinson”, completou.

 

Durante a cerimônia, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, lembrou que a história da Fiocruz se confunde com a história da saúde pública no Brasil e destacou o pioneirismo de Oswaldo Cruz. Para Queiroga, graças ao empenho do sanitarista, hoje o país tem um importante legado e construiu, ao longo dos últimos 30 anos, um dos maiores sistemas de saúde de acesso universal do mundo, que atende aos mais de 210 milhões de brasileiros espalhados nos 26 estados e no Distrito Federal e em mais de 5 mil municípios. “O SUS tem como base os princípios fundamentais do estado democrático e da dignidade da pessoa. O nosso desafio é ampliar o acesso dos brasileiros a políticas públicas que tenham o poder de mudar a história das doenças, como as crônicas não transmissíveis, que incluem as cardiovasculares, o câncer e as degenerativas, como Parkinson, e promover de fato a redução da mortalidade infantil e o aumento da expectativa de vida da população”, ressaltou.

 

Já o embaixador da Alemanha no Brasil, Heiko Thoms, reforçou que os problemas de acesso podem ser superados com medidas conjuntas e parcerias eficazes, e que a transferência de tecnologia e o desenvolvimento da produção nacional também fortalecerão a economia brasileira.

 

O vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Marco Krieger, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, o embaixador da Alemanha, Heiko Thoms, e o presidente da Nortec, Marcelo Mansur, foram homenageados com placas comemorativas. Representantes de Farmanguinhos/Fiocruz também estiveram presentes no evento, como o diretor Jorge Mendonça, a vice-diretora de Desenvolvimento Tecnológico, Alessandra Lanzillotta, o vice-diretor de Gestão do Trabalho, André Martins Cordeiro, a vice-diretora de Operações e Produção, Elda Falqueto, e o vice-diretor de Gestão da Qualidade, Rodrigo Fonseca.

 

Doença de Parkinson
Em abril é comemorado o Dia Mundial de Conscientização da Doença de Parkinson, enfermidade degenerativa do sistema nervoso central que afeta as condições motoras do corpo e já é considerada a segunda doença neurodegenerativa progressiva mais frequente no mundo. De acordo com OMS, existem aproximadamente 4 milhões de pessoas no mundo com incapacidade e redução da qualidade de vida provocada pela doença.

Os sintomas começam sutis, com tremores, lentidão nos movimentos, rigidez dos membros e alteração do equilíbrio, e aumentam gradualmente. As causas da doença ainda são desconhecidas. Apesar de não ter cura, é controlada com medicamentos que melhoram os sintomas. Nove deles estão disponíveis no SUS. 



Fotos: Nicolas Reith e Arquivo de imagens de Farmanguinhos