Pesquisa traça panorama da covid longa no Brasil

Fernanda Marques 22 de abril de 2024


Pesquisadores da Fiocruz (Brasília e Pernambuco) e de outras instituições nacionais e do exterior pesquisaram sobre a ocorrência da covid longa no Brasil, suas manifestações e impactos no sistema de saúde. O objetivo é que as evidências coletadas auxiliem a formulação de políticas públicas para o cuidado adequado da população. Parte dos resultados e das análises foi apresentada na forma de uma nota técnica, em janeiro de 2023. O trabalho foi agora publicado na edição de abril do periódico Cadernos de Saúde Pública. O estudo mostra que a proporção da ocorrência de covid longa é maior entre as pessoas do sexo feminino (88%) do que entre os indivíduos do sexo masculino (52%). Mostra também que ela é maior entre os não vacinados (72,5%) do que entre os que tomaram a vacina (59%).

 

Para chegarem a esses resultados, os pesquisadores coletaram dados por meio de um questionário eletrônico divulgado em redes sociais. Ao longo de um mês (de 14 de março a 14 de abril de 2022), 1.728 pessoas preencheram o formulário, das quais 1.230 informaram ter tido diagnóstico de covid-19 confirmado por exame de PCR e 720 haviam recebido tal diagnóstico há três meses ou mais. Dentre essas 720, quase 70% disseram ainda não ter se recuperado totalmente da covid-19 e, portanto, foram consideradas como casos de covid longa. “A covid longa caracteriza-se por sintomas que permanecem ou aparecem pela primeira vez em até três meses após a infecção pela covid-19, que duram por pelo menos dois meses e que não podem ser explicados por outros motivos, conforme definição adotada pela Organização Mundial da Saúde (OMS)”, explicam os autores do trabalho. Eles comentam, ainda, que a covid longa pode se manifestar, inclusive, em pessoas que tiveram formas leves de covid-19.

 

Com base nas respostas aos questionários, os pesquisadores elencaram mais de 50 diferentes manifestações clínicas associadas à covid longa. E essas manifestações não foram somente respiratórias, mas também cardiovasculares, neurológicas e de saúde mental, entre outras. Os principais sintomas relatados pelos participantes foram ansiedade (80%), perda de memória (78%) e dor generalizada (77%). Na pesquisa, dos indivíduos com covid longa, 94% buscaram serviços de saúde durante a fase aguda da covid-19 e 80% após a fase aguda – números que apontam para uma alta demanda por esses serviços e, combinados com a complexidade dos sintomas, sinalizam a necessidade de cuidado integral e de  atendimento multidisciplinar.

 

“Nesse sentido, a APS [Atenção Primária à Saúde] pode atuar de forma central para uma melhor abordagem inicial, no acolhimento e seguimento de pessoas com covid longa”, recomendam os autores, que também destacam a importância do financiamento adequado para o SUS, bem como da articulação com outras áreas de políticas públicas, como desenvolvimento social, previdência e trabalho. Ao traçarem um panorama da covid longa no Brasil e evidenciarem sua incidência na vida das pessoas, os pesquisadores buscam contribuir para a gestão e o planejamento em saúde, fomentando a organização de redes de atenção “para lidar com os impactos produzidos por essa e por outras emergências em saúde pública que venham a surgir”, concluem. Entre os autores que assinam o estudo, estão os pesquisadores Erica Tatiane da Silva, Vaneide Daciane Pedi, Mariana Pastorello Verotti e Claudio Maierovich Pessanha Henriques, da Fiocruz Brasília.  

 

Leia o artigo na íntegra nos Cadernos de Saúde Pública

 

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