Olhar voltado para os territórios: live discute protagonismo popular e vacinação contra Covid-19

Fernanda Marques 17 de maio de 2021


“Precisamos continuar fortalecendo laços e desenhando estratégias que contribuam para a melhoria das condições de vida e saúde da população do Distrito Federal”. As palavras da diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio, marcaram o início da live “Diálogos sobre o monitoramento da vacinação: protagonismo popular para o enfrentamento à Covid-19”, realizada na última quinta-feira (13/5). O evento foi organizado pela Plataforma de Inteligência Cooperativa com a Atenção Primária à Saúde (Picaps), por meio do Radar de Territórios. “A Covid-19 reverbera as iniquidades sociais, econômicas e de acesso. Unidos, precisamos seguir enfrentando essas consequências, com o olhar voltado para os territórios e as questões que têm mobilizado as comunidades”, destacou a diretora.

 

Em uma apresentação dialogada, Wagner Martins, coordenador de Integração Estratégica da Fiocruz Brasília e membro da Coordenação da Picaps, contextualizou a inteligência cooperativa como uma estratégia potente para o enfrentamento à Covid-19, sublinhando o papel da articulação institucional e comunitária para fortalecer a resiliência nos territórios. 

 

A presidente do Conselho de Saúde do Distrito Federal (CSDF), Jeovânia Rodrigues, apresentou as variadas frentes de atuação do Conselho, que envolvem múltiplos elementos da sociedade para fomentar o controle, a participação e a mobilização popular. Jeovânia contou como o CSDF, desde o início da pandemia, se aproximou do Conselho Nacional de Saúde, de Conselhos de Saúde regionais, de Conselhos de outras políticas públicas e de diferentes entidades, articulando parcerias para o enfrentamento à pandemia. A presidente destacou o convite recebido – e aceito – para que o CSDF se juntasse à Picaps; e, nessa integração, ressaltou a realização do primeiro Fórum Popular Distrital de Saúde, em dezembro passado, que resultou em um documento final com demandas e propostas encaminhadas aos gestores.

 

“É um desafio histórico que as decisões dos colegiados sejam implementadas. É preciso que o trabalho dos Conselhos seja mais conhecido, inclusive, para que tenham cada vez mais legitimação social para cobrar a efetivação de medidas”, avaliou Jeovânia. O documento coletivamente produzido durante o Fórum defende a vacinação para todos e, reconhecendo um cenário de escassez de vacinas, aponta a necessidade de priorização dos grupos mais vulnerabilizados. A participação social e a vigilância popular em saúde são temas em destaque no documento. “É preciso persistência, blindar o SUS para o seu fortalecimento. O SUS faz diferença e salva muitas vidas”, afirmou a presidente, convocando a todos para uma próxima edição do Fórum, prevista para junho.

 

Para o coordenador da Atenção Primária da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES/DF), Fernando Erick, informação de qualidade e georreferenciada – por exemplo, sobre casos de Covid-19, leitos e doses de vacina recebidas, armazenadas, distribuídas e aplicadas em cada região – é fundamental para construir as melhores formas de prestação de serviços de saúde à população. “Quanto mais pessoas tiverem acesso aos dados qualificados e puderem analisá-los e criticá-los, chegaremos às melhores conclusões para a tomada de decisões complexas com maior segurança, considerando os trabalhadores que estão na ponta do sistema e conhecem cada diferente realidade”, disse o coordenador, indicando o trabalho que tem sido desenvolvido pela SES/DF. “Existem inúmeras pessoas trabalhando para que a vacina chegue da forma mais rápida e segura possível, e estamos abertos ao diálogo e aos ajustes necessários para que tenhamos as melhores práticas, de acordo com as demandas de cada território”, acrescentou, reforçando a importância de aprimorar as ferramentas para uma maior participação social.

 

Liza Andrade, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB), trouxe uma reflexão sobre a necessidade de uma visão transdisciplinar para que se construa um conjunto de soluções para o enfrentamento da pandemia. Ela lembrou uma crise permanente – anterior à Covid-19 e que se agrava ainda mais com a pandemia – vivenciada naqueles territórios onde faltam moradia, água e saneamento, e onde muitas famílias sobrevivem com menos de um salário mínimo. No Distrito Federal, a alguns quilômetros do Plano Piloto, existem áreas de grande vulnerabilidade, o que inclui maior risco à Covid-19 e um longo histórico de injustiças ambientais. “Grandes empreendimentos comerciais são regularizados, mas as comunidades não, e elas continuam sendo desconsideradas”, afirmou Liza. “Uma situação que reforça a importância das redes de solidariedade, da economia solidária e das tecnologias sociais”, sinalizou a professora.

 

Perda do emprego, diminuição da renda, volta da fome: estas consequências da Covid-19 foram lembradas por Osvaldo Bonetti, docente da Fiocruz Brasília e coordenador de Educação Popular da Picaps. Ele apresentou o trabalho que tem sido desenvolvido com a formação de agentes populares de saúde, já um produto do Fórum Distrital de Saúde. “A educação popular busca os saberes disponíveis no próprio território para a leitura da realidade, sem perder o amparo na ciência”, explicou Osvaldo.

 

Para Jorge Machado, coordenador do Programa de Promoção da Saúde, Ambiente e Trabalho (PSAT) da Fiocruz Brasília, é preciso superar barreiras para que os dados da vigilância epidemiológica sejam discutidos na comunidade e se transformem em ações para o cuidado. Em vez de um debate limitado ao que ‘abre ou fecha’ na pandemia, Jorge defendeu uma discussão sobre vigilância e bloqueio da transmissão, considerando, por exemplo, medidas de proteção no transporte público, testagem e assistência aos trabalhadores, bem como a garantia do acesso à água, ao saneamento e a outros direitos fundamentais. “O foco não é mais ‘o que fazer’, mas ‘como fazer’, e isso requer uma informação cada vez mais territorializada”, recomendou Jorge, coordenador de Vigilância Epidemiológica da Picaps. Como exemplo, ele citou o radar de vacinação, que permite conhecer a cobertura vacinal das populações em áreas de maior vulnerabilidade e implementar ações para assegurar a equidade de acesso às vacinas contra a Covid-19.