O Seminário As Relações da Saúde Pública com a Imprensa teve início ontem (12) com o pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz) Luis Castiel. O conferencista criticou a forma como as epidemias são divulgadas pela mídia, sempre com caráter alarmista, que amplia o medo, o mal-estar e o sofrimento da população.
A relação do mosquito com o medo tem origem no nome. Em grego, a palavra Aedes é traduzida como odioso, desagradável. Para o pesquisador, a mídia produz subjetividades construindo crenças e valores compartilhados e fazendo com que as pessoas incorporem a ideia de que o mosquito não pode ser controlado. Castiel destacou a percepção de exageros e uso de figuras de linguagem usadas pelos pesquisadores ao falar sobre o Aedes Aegypti e reproduzidas pela imprensa. Para ele, o uso dessas palavras só assusta ainda mais a população, fazendo com que incorporem a ideia de que o mosquito não pode ser controlado e assim não solucionando o problema.
Frases como: “ele vive nas nossas casas, gostam dos nossos lixos e vivem às nossas custas” e “a gente costuma pensar que vai ganhar essa batalha, mas o mosquito que vai ganhar” são constantemente encontradas, bem como a repetição da imagem do vetor maior do que realmente é. “São coisas que ficam no imaginário. Grande parte das preocupações da saúde publica é cada vez mais antecipar e evitar certos danos. Temos uma fixação inevitável de busca de segurança, estamos constantemente conectados e não conseguimos dar conta de como as coisas chegam até nós”, explicou. O pesquisador criticou também a responsabilização de cada um com relação à propagação das doenças no Brasil e a não culpabilização da urbanização e das diferenças e vulnerabilidades sociais.
Castiel traçou a trajetória da erradicação do Aedes no Brasil. O mosquito foi erradicado no final dos anos 50 e voltou a aparecer nos anos seguintes por meio do comércio por barco ou avião, ganhando ainda resistência aos inseticidas. A causa dessa proliferação tem origem na falta de investimento na manutenção da erradicação do Aedes no Brasil. Segundo Castiel, hoje o caminho para a prevenção tem o foco nos repelentes. Durante o inverno, há um intervalo nas doenças porque o clima não é favorável ao mosquito, mas não se sabe que acontecerá quando tiver tempo para proliferação. “Será que nada vai acontecer? Será que é tudo isso em vão? Será que vamos conseguir vencer?”, questionou Castiel em uma fala provocativa, associando à música da banda Legião Urbana.
A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, o diretor da Fiocruz Brasília, Gerson Penna e o coordenador da Assessoria de Comunicação da Fiocruz Brasília, Wagner Vasconcelos, participaram da mesa de abertura do evento.
Nísia ressaltou a importância do Seminário como espaço de compartilhamento de experiências e de reflexão. Afirmou que é preciso dar continuidade a essa linha de trabalho e pesquisa. “Nós continuamente somos surpreendidos pelas situações de crises e emergências e temos que ter momentos de reflexão. A informação e comunicação são componentes estratégicos da gestão e deve ser uma prioridade para todos, já que a discussão da cidadania passa por esse campo” afirmou.
Gerson Penna relembrou as outras edições do Seminário, que abordaram a cobertura jornalística sobre febre amarela, H1N1, a imagem do SUS na mídia e a responsabilidade da mídia na apresentação das informações sobre ebola, chikungunya, dengue e zika.
O diretor falou sobre o alarde da população após as reportagens sobre a epidemia de febre amarela no Brasil, ao lembrar a época de lançamento da vacina contra a doença. Como resultado, ocorreu a supervacinação da população em vários estados do Brasil. Para ele, a dengue, chikungunya e zika seguem o mesmo caminho. “A comunidade científica só tem uma arma para combater as arboviroses: o combate ao vetor. A comunicação é a ferramenta fundamental para conversar com as pessoas. Os momentos fora da crise devem ser aproveitados para estabelecer um diálogo, convergências e divergências para nos preparar para a responsabilidade social que todos nós temos”, afirmou.
O papel da comunicação também foi destacado por Wagner Vasconcelos. Ele afirmou que a comunicação não se restringe aos profissionais da área, mas é estratégica para a saúde pública, gestores, pesquisadores e todo o sistema de saúde. “A relação da saúde pública com a mídia é uma forma de democratizar a informação e é importante para assegurar a qualidade de vida”, afirmou.
O Seminário continua nos próximos dias 13 e 14 com debates entre pesquisadores, estudiosos da comunicação e jornalistas da grande mídia. Acompanhe mais informações sobre o evento na fanpage da Fiocruz Brasília. Clique aqui para acessar parte do conteúdo apresentado pelos palestrantes .
A cobertura fotográfica está disponível neste link.
Clique nos links abaixo e saiba mais sobre os três dias de evento:
O papel da comunicação diante das epidemias
O panorama das arboviroeses transmitidas pelo Aedes
Aedes Aegypti na pauta jornalística brasileira e internacional
Desafios e críticas ao jornalismo de saúde