Impacto do uso de agrotóxicos na saúde é tema de debate na Câmara Federal

Fiocruz Brasília 27 de setembro de 2017


O pesquisador da Fiocruz Brasília André Fenner participou de audiência pública nesta terça-feira, 26 de setembro, na Câmara dos Deputados. A pauta na Comissão de Seguridade Social e Família, tratou dos impactos do uso de agrotóxicos na saúde humana. 
Ele ressaltou o papel da Fiocruz no Sistema Único de Saúde e descreveu ações da instituição na área de saúde, ambiente e sustentabilidade, informando que o tema dos agrotóxicos está na pauta das pesquisas.  Ele apresentou alguns dos  impactos dos agrotóxicos na saúde humana,  já que o corpo pode ter contato com as substâncias venenosas por meio de ingestão, absorção, respiração ou mesmo durante a gravidez e amamentação, sendo que as crianças e gestantes são os grupos sociais mais vulneráveis. 


Uma das limitações da regulação atual, apontada pelo pesquisador é que os órgãos reguladores, como Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) avaliam os testes realizados pela indústria, que em geral testa o efeito de cada agrotóxico separadamente, sem considerar seu efeito quando misturado com outros componentes presentes no ambiente, além de desconsiderar os efeitos da exposição  prolongada e seus impactos. Além disso, há a dificuldade de se mensurar a quantidade de agrotóxico ingerida por uma população considerando-se todos os alimentos ingeridos em um determinado período e sua procedência. 


Ele reconheceu o papel da Fiocruz na busca de conhecimento sobre o tema, na  formação dos profissionais de saúde, e a importância de se melhorar a rede de apoio e diagnóstico das contaminações especialmente por trabalhadores do campo em contato direto com esses venenos. 
Concorda com ele a professora do Grupo de Estudo de Saúde e Trabalho Rural, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, Jandira Maciel da Silva. Segundo ela, é preciso formar melhor os profissionais do SUS para um diagnóstico assertivo nos casos de contaminação, pois ainda há muita subnotificação, e consequentemente, demora no tratamento. Ela exemplificou que falta regulação que acompanhe as proibições internacionais, citando que um agrotóxico em uso no país, o glifosato, foi proibido essa semana na França devido ao seu alto nível de toxidade. Outro componente banido em mais de dez países é o Paraquat, que nem na China, onde é fabricado, se permite a sua comercialização e uso – e no Brasil, sim. 


Pedro Henrique Barbosa de Abreu é doutorando em Saúde Coletiva da Unicamp e afirmou que é impossível se utilizar agrotóxicos de maneira segura na agricultura familiar, pois o pequeno produtor não tem condição de adquirir todo o aparato necessário para ter alguma segurança no manejo desses venenos. 
O registro de um agrotóxico envolve o Ministério da Agricultura , Pecuária e Abastecimento (Mapa), a Anvisa e o Ibama.  O representante do Mapa, Carlos Ramos Venâncio, ponderou com o grupo que o sistema produtivo precisa de tempo para se adaptar à retirada desses produtos do mercado. 


A sessão foi presidida pelo deputado Padre João, e contou também com falas do professor do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais – Campus Muriaé José Luiz Paixão, a representante da Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela vida, Carla Bueno, o procurador regional do trabalho da 6ª região Pedro Luzi Gonçalves Serafim e a representante da Anvisa, Graziela Costa Araújo. 


Clique aqui para assistir à gravação no site da Comissão.