Hortos biodinâmicos: integração entre agricultura, saúde, desenvolvimento econômico, social e humano no DF

Fernanda Marques 14 de agosto de 2021


Foi implantado, em 12 de agosto, o horto biodinâmico de plantas medicinais na Farmácia Viva do Riacho Fundo (Distrito Federal/DF). Este é o segundo horto instalado como parte das atividades do Curso de Especialização e Livre em Cultivo Biodinâmico de Plantas Medicinais na Promoção de Territórios Saudáveis e Sustentáveis no DF, coordenado pela Escola de Governo Fiocruz – Brasília, em parceria com a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES/DF) e outras entidades. Um horto já está em funcionamento no Centro de Referência em Práticas Integrativas (Cerpis), em Planaltina, e outros três funcionarão na Casa de Parto de São Sebastião e nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) da Ceilândia e do Lago Norte.

 

Participam do Curso funcionários da SES/DF e trabalhadores rurais de diferentes movimentos sociais. “Por meio dessa iniciativa, plantas medicinais cultivadas conforme as tradições da biodinâmica estarão disponíveis para uso no Sistema Único de Saúde (SUS)”, destaca o coordenador do Curso, o professor André Fenner, do Programa de Promoção da Saúde, Ambiente e Trabalho (PSAT) da Fiocruz Brasília.

 

Além de não utilizar aditivos químicos, o cultivo biodinâmico é feito com uma atenção redobrada às questões ambientais e ecológicas, o que inclui cuidados com o solo, a água e o ar, e o manejo adequado de todo o espaço. “Para mim, tem sido uma experiência inovadora, não só por me proporcionar aprendizado em cultivo, mas em um formato que se preocupa com a coletividade, com o bem-estar emocional dos participantes do Curso e da sociedade. Aprendemos a gerar saúde da forma mais natural possível a todos que precisam de medicamentos, produzidos com cuidado e carinho”, conta Flavio Quintino, analista na Farmácia Viva e aluno do Curso. “Na Farmácia Viva, eu tinha a vivência administrativa e de laboratório de produção de fitoterápicos, mas me faltava a vivência de campo. Com o Curso, passei a ter maior contato com a terra e uma visão mais profunda de todo o processo de produção na farmácia”, completa Flavio, que espera contribuir para a melhoria do processo de produção das plantas medicinais, de forma a gerar fitoterápicos em maior qualidade e quantidade para as Regiões de Saúde do DF.

 

O chefe da Farmácia Viva, Nilton Luz Netto Junior, explica que a instituição cultiva plantas medicinais com dois objetivos principais: transformá-las em fitoterápicos para uso no SUS e promover a educação em saúde – a coleção de espécies funciona como uma vitrine ou biblioteca viva, onde os visitantes podem conhecer as características, os hábitos, o aroma, as funções, a história e a ecologia de cada planta. Segundo Nilton, a implantação do horto biodinâmico tem uma importância grande para a Farmácia Viva porque agrega qualidade à produção, associada à proteção de todo o ecossistema. “O horto é um laboratório e a expectativa é que possamos expandir o cultivo biodinâmico para toda a nossa área agrícola. O objetivo é oferecer condições para que as pessoas acessem as plantas medicinais e os fitoterápicos com foco na resolutividade e na melhoria da qualidade de vida”, afirma.

 

As rotinas da Farmácia Viva incluem o cultivo de oito plantas medicinais usadas como matéria-prima na produção de 13 medicamentos fitoterápicos. A qualidade desses medicamentos está intimamente relacionada à qualidade das plantas, que se beneficiam do cultivo biodinâmico e das condições de equilíbrio que ele proporciona. Entre as espécies cultivadas, estão a romã (Punica granatum L), auxiliar no tratamento de afecções da cavidade oral como anti-inflamatório e antisséptico; a melissa (Melissa officinalis L), auxiliar no alívio da ansiedade e da insônia leves, e de queixas gastrintestinais leves; e a goiaba (Psidium guajava L), auxiliar no tratamento da diarreia leve não infecciosa.

 

Além de congregar plantas aromáticas, árvores produtoras de cascas terapêuticas, plantas alimentícias convencionais e não convencionais, o cultivo biodinâmico também é feito de muita cooperação, em uma cultura de paz, o que também faz parte do processo terapêutico. “Diferente de outras formas de agricultura, a cultura biodinâmica é focada em processos e não em insumos, com redução de custos e sem agressão à paisagem onde acontece o cultivo, em harmonia com as outras plantas, o solo vivo, os animais e os ritmos do planeta”, explica o médico Marcos Trajano, integrante da Comissão Político-Pedagógica, ressaltando que a implantação dos hortos biodinâmicos amplia o acesso à informação segura sobre plantas medicinais e o escopo de recursos terapêuticos do SUS, favorece o estudo de novas formulações e fortalece o Programa de Fitoterápicos da SES/DF.

 

As plantas medicinais cultivadas nos hortos são disponibilizadas aos usuários do SUS, que são orientados por profissionais de saúde e recebem todas as informações necessárias: são abordados o nome popular; o nome científico; a parte da planta que deve ser usada; as formas de uso e preparação caseira; as indicações e contraindicações; e as possíveis interações com outras plantas, alimentos e medicamentos. As plantas medicinais só são remédios quando utilizadas corretamente. A Comissão Político-Pedagógica destaca que o horto é também um campo de ações educativas e trocas de saberes, integrando os conhecimentos científicos e populares.

 

Para o coordenador da Atenção Primária à Saúde da SES/DF, Fernando Erick Damasceno, o Curso de Especialização e Livre em Cultivo Biodinâmico de Plantas Medicinais tem o potencial de conectar diferentes pontos da rede: a atenção primária, a assistência farmacêutica, a Fiocruz e outras instituições, com um grande valor pedagógico e entregas de impacto muito significativo, considerando os múltiplos benefícios das plantas medicinais. “Historicamente, o DF tem sido um berço fértil para o desenvolvimento da política pública das práticas integrativas, em especial dos fitoterápicos, e queremos continuar com essa pauta forte”, sublinha.

 

A atividade do dia 12 de agosto contou com a participação do secretário de Saúde do DF, Osnei Okumoto, da secretária-adjunta de Assistência, Raquel Beviláqua, e do secretário-adjunto de Gestão, Artur Siqueira.