Hábitos alimentares na atualidade

Fiocruz Brasília 23 de outubro de 2017


No dia 16 de outubro, o mundo sempre celebra o Dia da Alimentação. Na Fiocruz Brasília, a data foi marcada por uma série de seminários com o tema “Hábitos Alimentares na Atualidade: gosto, corporalidades e obesidade”, promovido pela Escola Fiocruz de Governo (EFG) e Observatório Brasileiro de Hábitos Alimentares (OBHA).  De segunda a sexta-feira, a programação contou com cinco diferentes palestras que apresentaram assuntos contemporâneos da nutrição, com foco na relação desta ciência com as ciências sociais para se compreender a situação de saúde das pessoas. A pesquisa qualitativa em alimentação e cultura, as biografias alimentares como estratégia de estudos e pesquisas sobre obesidade, a relação da mulher negra com o seu corpo, o gosto, a insegurança alimentar e o excesso de peso nortearam as reflexões, com participação de 175 pesquisadores, estudantes e interessados no tema.  

De acordo com o último relatório da Organização Mundial da Saúde, publicado ano passado, há uma epidemia de obesidade no mundo, com mais de 1,9 bilhão de pessoas com sobrepeso e 650 milhões de obesos. A obesidade é determinada por múltiplos fatores como as condições sócio-econômicas, ambientais e culturais que acarretam na desigualdade no acesso aos alimentos saudáveis. Isso influencia na qualidade de vida das pessoas. Pesquisas já comprovaram, por exemplo que a insegurança alimentar na gestação e infância, podem gerar mais estresse, ansiedade e depressão nas mães e consequentemente uma dependência de dietas hipercalóricas nos filhos. Esse adulto obeso pode ser reflexo de uma infância com insegurança alimentar.

De acordo com a pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas, Ana Maria Cegal, que participou do encerramento dos seminários, na sexta-feira, 20/10, uma sociedade com insegurança alimentar é uma sociedade doente. “Há hoje a promoção de hábitos alimentares obesogênicos, com propaganda de ultraprocessados, que são mais baratos e carregam um status de artigo de luxo para as populações mais pobres. Quanto menor a renda, maior a insegurança alimentar, pois em qualquer situação de desequilíbrio econômico daquela família, há um efeito direto na alimentação, com substituições, ausência de refeições”, afirmou. 

As pautas para pesquisa nessa área são extensas, e vão desde a observação dos hábitos alimentares e insegurança alimentar, tendências, influências do ambiente, pressão comercial, alimentação e ciclo de vida, determinantes e consequências da insegurança alimentar em populações tradicionais, insegurança alimentar e condições psico-sociais ou por períodos intermitentes.

A pesquisadora do Programa de Alimentação, Nutrição e Cultura (Palin) da Fiocruz Brasília Bruna de Oliveira, afirma que é preciso olhar para as pessoas como sujeitos portadores de histórias de vida que são a base social para a saúde e a doença, sem restringir o olhar para as dimensões biológicas de uma pessoa. “A pandemia de obesidade não é explicada apenas pelo excesso de ingestão alimentar, há diferentes origens individuais e coletivas para o desenvolvimento de doenças crônicas como a obesidade e as políticas públicas de saúde precisam considerar isso” disse.

Os seminários são parte de uma disciplina do Mestrado Profissional em Políticas Públicas de Saúde, mas este ano foi aberto para inscrição também de interessados no tema. A coordenadora do OBHA e do Palin, Denise de Oliveira e Silva , afirma que os seminários superaram as expectativas e são um estímulo para repetir a iniciativa, com novos temas, no próximo ano. “ Não quisemos trazer respostas, mas questões para fomentar o debate e abrir novas possibilidades de estudo e pesquisa, pois a ciência da nutrição tem várias novas fronteiras que precisam ser exploradas, para além só dos dados epidemiológicos”, afirmou.

Todas as apresentações foram gravadas em vídeo e estarão disponíveis em novembro no site do Observatório Brasileiro de Hábitos Alimentares, que no próximo mês vai fazer um ano de presença online neste link www.obha.fiocruz.br.

*Fotos: Ségio Velho Junior