Fiocruz realiza oficina de bordados em reforço à luta antimanicomial

Mariella de Oliveira-Costa 24 de maio de 2019


Nathállia Gameiro   Atividade na sede da Fiocruz no Rio de Janeiro teve participação de estudantes e trabalhadores da instituição e deu visibilidade à causa. Instituição recebe também, até o dia 6 de junho, exposição Morar em Liberdade: Retratos da Reforma Psiquiátrica Brasileira Cada um tem o direito de viver livre e em segurança. Ninguém será torturado ou maltratado com crueldade. Cada pessoa tem o direito de ir e vir e a circular livremente. Esses artigos retirados da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU foram o mote para a oficina de bordados Linha Vital – Saúde Mental e o Sistema Único de Saúde realizada ontem, 23 de maio, na sede da Fiocruz no Rio de Janeiro. O varal de panfletos, forma como é chamada a peça bordada, chamou a atenção de trabalhadores e estudantes que passaram pela entrada da Biblioteca de Manguinhos.  De forma leve e com materiais simples como panos, fitas, agulhas e linhas, cada ponto traçado no fio reforçava a importância de abordar a luta antimanicomial e os direitos humanos.  O ato foi realizado em comemoração ao Dia Nacional da Luta Antimanicomial, celebrado no dia 18 deste mês de maio. “Aprendi novos pontos de bordado e gostei muito da forma de divulgação dessa pauta tão importante e ainda pouco falada. É um tema que precisa ser debatido mais”, destacou a bibliotecária da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) Ana Cláudia Vidal. A iniciativa, do Icict em parceria com o Núcleo de Saúde Mental Álcool e Outras Drogas da Fiocruz Brasília e a TV Pinel, reuniu três coletivos de bordado: Linhas do Horizonte, Linhas do Rio e Linhas de Sampa. Os grupos têm caráter suprapartidário e agregam pessoas com diferentes atuações profissionais: engenheiros, arquitetos, psiquiatras, aposentados, artistas, historiadores, entre outros. São mulheres, em sua maioria, e homens que ocupam praças, escolas, universidades e outros espaços públicos para bordar a favor de causas de direitos humanos, liberdade, igualdade, democracia e justiça.  Para a bordadeira Mônica Araújo, da Linhas do Rio, por onde passa o bordado causa um grande impacto às pessoas, fazendo com que elas se aproximem, leiam e se sensibilizem. Ela define a arte como delicada, bonita e feita à mão, o que encanta e ajuda a multiplicar a ideia, além de remeter à infância e aos familiares das pessoas.  “O momento atual é de grande retrocesso, querem que as pessoas sejam levadas a internações em hospitais psiquiátricos contra a vontade delas, que é algo que vai contra os Direitos Humanos. Querem que a saúde mental se transforme em um negócio, e temos que fazer de tudo para que não aconteça. Tem que ser uma luta por inclusão social e não por confinamento”, ressaltou.  Essa tradição do bordado, passada de geração em geração, trouxe lembranças à jovem Vitória Rodrigues, de 15 anos, aluna de Gerência em Saúde da Escola Politécnica em Saúde Joaquim Venâncio. Vitória conta que a mãe começou fazendo uma toalha bordada quando ela ainda era bebê e continua até hoje, fazendo ponto cruz e bordando panos de prato para vender. Para a estudante, a atividade foi leve para um assunto tão forte e de grande importância. “Com os bordados que fizemos, retratamos isso de uma maneira interessante, foi divertido. Ao mesmo tempo em que estávamos fazendo, falávamos sobre a saúde mental das pessoas”, completou. Ela disse ter se sensibilizado com a causa depois de uma visita ao Museu do Bispo do Rosário (Taquara/RJ), local que antigamente abrigava um hospital psiquiátrico. “A história é bem pesada, conta que antigamente o tema era bem ignorado. E hoje, retornar aos tratamentos antigos como o eletrochoque é perigoso, talvez isso esteja voltando por quem está interessado em lucrar com esse serviço”, opina. Para ela, é importante ter o debate e cuidar das pessoas, não só no aspecto biomédico, mas a saúde como um todo, tendo a saúde mental como pilar. Os lenços, com mensagens modeladas por várias mãos, foram distribuídos aos que passavam pelo local.   Ao final da oficina, foi criada uma obra com bordados e fotos de egressos da Saúde Mental, que está disponível na entrada da Biblioteca de Manguinhos.  Retratos da Reforma Psiquiátrica Brasileira A Biblioteca recebe também a instalação de fotografias Morar em Liberdade: Retratos da Reforma Psiquiátrica Brasileira, que conta o cotidiano de pessoas que moraram por muitos anos em três hospitais psiquiátricos de Barbacena (MG), Juiz de Fora (MG) e Paracambi (RJ) e passaram por maus tratos, tortura e violação de direitos durante a internação. As imagens mostram as mudanças na vida dos egressos com a inserção social e o tratamento em liberdade. “Esperamos, ao revelar esses retratos, dar visibilidade para essas vidas que durante décadas foram amortecidas no anonimato e que agora fizeram questão de aparecer e falar em defesa de suas conquistas existenciais”, explicou a curadora da exposição e pesquisadora da Fiocruz Brasília, Fernanda Severo. As imagens foram captadas pelos fotógrafos Radilson Carlos Gomes e Marcelo Valle e a montagem é de João Aranha e Vera Roçado, da TV Pinel e Fernanda Severo. A exposição estará disponível no Rio de Janeiro até o dia 6 de junho. Uma parte da instalação também está exposta em Brasília, na Escola Fiocruz de Governo. As visitações são abertas ao público.