Fiocruz encerra curso de especialização em Tocantins

Nathállia Gameiro 17 de julho de 2019


Nathállia Gameiro

Capacitação resultou em intervenções nas comunidades para promoção da saúde e melhoria da qualidade de vida e do trabalho

“Eu finalizei um módulo de especialização e represento a comunidade quilombola. Sou o primeiro pós-graduado quilombola da minha região, isso é um motivo de orgulho e por isso acredito que temos que ocupar espaços de poder, apresentando trabalhos científicos e divulgando para as posteridades. Vocês não sabem como isso é importante para nós.”

Esta fala é de Lucas Nunes Rodrigues, jovem que fez parte da turma de 55 trabalhadores de serviços estaduais e municipais das secretarias de saúde e membros de movimentos sociais de municípios de Tocantins durante a Especialização em Promoção e Vigilância em Saúde, Ambiente e Trabalho da Fiocruz Brasília. O curso teve início em maio do ano passado, com encerramento no fim de junho, no Instituto Federal de Tocantins, em Palmas.

A capacitação teve como foco a saúde do trabalhador, buscando diminuir o adoecimento dos profissionais de saúde a partir da discussão do modelo de produção do trabalho, vulnerabilidades e incertezas sobre as condições no serviço e como tudo isso impacta na saúde do trabalhador. As regiões de saúde de Palmas, Dois Irmãos, São Salvador, Rio da Conceição, Lagoa da Confusão, Cristalândia, Gurupi, Araguaína, Porto Nacional, Itacajá e Caseara foram contempladas. As disciplinas foram construídas com base em princípios e diretrizes do SUS, sobre promoção da saúde, ambiente e trabalho, determinação social da saúde, territórios rurais e desenvolvimento regional, políticas sociais, participação social e controle do SUS.

Durante a capacitação, os alunos tiveram contato com literatura nacional como Milton Santos, Carolina de Jesus e Gabriel Garcia Marques, para a construção de uma visão ampliada do processo de doença, sobre a cultura e como as comunidades estão inseridas nele e os impactos na saúde. As aulas foram ministradas com uma metodologia diferenciada, em sala de aula e nas comunidades, resultando em 20 projetos de intervenção nos locais de trabalho e nas comunidades. Entre os temas: valorização da mulher no assentamento, promoção e vigilância em saúde, mapeamento de comunidade rural, combate a endemias, agroecologia, saúde do trabalhador, saúde mental, horta comunitária, atividades com agentes comunitários de saúde, intoxicação por agrotóxicos, avaliação da qualidade de vida, adoecimento e acidente de trabalho, hanseníase, tuberculose, problemas de saúde acometidos em trabalhadores rurais e assédio moral no trabalho. 

O coordenador do curso, Jorge Machado afirma que a turma surpreendeu ao ir a campo e gerou resultados positivos nos territórios, como no projeto de redução de acidentes nos silos – grandes peças de metal usadas para o armazenamento de produtos agrícolas –no município de Lagoa da Confusão, localizado a 220 km da capital Palmas.

Para a equipe pedagógica do curso, foi plantada uma semente de reflexão crítica sobre o processo de trabalho e os alunos começaram a se enxergar em seus territórios, saindo com uma visão ampla do processo saúde e doença e do que significa a saúde do trabalhador. “Permitiu alargar o olhar para outras áreas da saúde, sair do espaço de trabalho e ir para os territórios dialogar com a comunidade e os outros setores. Eles puderam refletir sobre o seu processo de trabalho e problematizar a relação saúde, trabalho e território”, afirmou a coordenadora pedagógica do curso, Gislei Siqueira Knierin.

O curso é resultado de termo de cooperação entre a Secretaria de Estado da Saúde (SES/TO), Organização Pan-Americana de Saúde e Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS), Escola Fiocruz de Governo da Fiocruz Brasília, em parceria com o Ministério da Saúde (MS) e conta com  apoio do Instituto Federal do Tocantins (IFTO). Esta foi a terceira edição do curso de Especialização em Promoção e Vigilância em Saúde, Ambiente e Trabalho, já realizado no Ceará e em Pernambuco.

Tradição

O nome da turma, escolhida pelos estudantes, carrega uma das maiores riquezas da cultura de Tocantins: o Capim Dourado. A matéria-prima é exclusiva da região e usada para confecção de peças de artesanato como brincos, colares, chaveiros, artigos de decoração e pulseiras. A tradição iniciou com os índios e foi passada de geração em geração.

Outra tradição presente no curso foi da população quilombola. O aluno Lucas Nunes Rodrigues, cuja fala abre esta matéria, presenteou a equipe da Fiocruz com objeto feito à mão por ele e sua família, que simboliza os tambores, gameleira, pilão, caxambu, fuxico e a Igreja da Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, representando o município de Natividade, cidade formada no ciclo do ouro e localizada na região sudeste do estado.

Participaram da mesa de encerramento o coordenador do curso e do Programa de Promoção da Saúde, Ambiente e Trabalho (PSAT), Jorge Machado, a Superintendente da Vigilância em Saúde/SES, Perciliana de Carvalho, o representante do Conselho Estadual de Saúde, Antônio Batista de Sá, a representante da Coordenação Geral de Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde, Tereza Maciel, o representante do Instituto Federal do Tocantins (IFTO), Francisco Willian, e a representante de turma Maria dos Reis de Jesus Mesquita. O evento prestou homenagem a Maria Senhora Carvalho da Silva e Maria da Ilha, mulheres da comunidade, pela força e histórias de luta no estado.