Nayane Taniguchi
A experiência dos que contribuíram para a garantia da saúde como direito e para uma sociedade democrática e a atuação dos jovens na defesa do Sistema Único de Saúde (SUS), da democracia, da garantia dos direitos e das políticas públicas no país. Os pontos e contrapontos entre a 8ª e a 16ª Conferências Nacionais de Saúde pautaram as discussões da roda de conversa promovida pela Fiocruz Brasília na tarde desta quinta-feira (18/7), que proporcionou o encontro dessas gerações, em atividade preparatória para a 16ª CNS, que será realizada entre os dias 4 a 7 de agosto, em Brasília.
“Em ambas as conferências, a condição da saúde está articulada com a questão da democracia”, enfatizou o professor da Universidade de Brasília (UnB) José Geraldo Sousa Junior, ao referir-se ao tema das duas edições (“Democracia e Saúde”), e fazer uma breve análise da conjuntura dos dois períodos que antecedem a realização das conferências, em 1986 e 2019, respectivamente, acerca dos contextos sociais, políticos e culturais vividos no país nos dois momentos.
Sobre a 8ª Conferência, José Geraldo fez uma síntese do processo que resultou na definição da saúde como direito de todos e dever do Estado, garantida pela Constituição Federal de 1988. Já na edição de 2019, que será realizada 33 anos após a 8ª CNS, o pesquisador destacou a defesa do Sistema Único de Saúde (SUS). “As palavras são as mesmas: SUS, democracia, saúde, mas os conceitos dependerão de nós e da nossa capacidade de articular elementos narrativos nessa disputa que se apoiou naquilo que realizamos como experimento histórico”, acrescentou.
Ao ressaltar o público participante de atividade, majoritariamente jovem, o vice-presidente do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes), Heleno Corrêa, contou que o surgimento do Centro, em 1976, ocorreu a partir da mobilização dos jovens, à época. “A minha geração fez o ponto e agora estamos fazendo o contraponto, junto a uma juventude que está contribuindo com o seu ponto”, afirmou. Corrêa falou ainda sobre sua trajetória como sanitarista desde o período que antecedeu a realização da 8ª CNS.
Ao comentar os desafios da edição deste ano, defendeu a necessidade de recapturar direitos, uma vez que a privatização de serviços públicos, como água, entre outros, resulta em perda de direitos, além de limitar seu acesso a determinados segmentos da população, contribuindo, assim, para o possível retorno de doenças.
O presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Fernando Pigatto, ressaltou a importância da coletividade, ao avaliar a conjuntura que, segundo ele, nunca foi fácil. “Somente na coletividade, construindo a várias mãos, é que se consegue transformar o mundo. Para realizar os sonhos que se têm, temos que trabalhar, enfrentar as dificuldades, sair da zona de conforto, para construir algo para deixar para as futuras gerações”.
Ao fazer um balanço dos 33 anos que separam a 8ª da 16ª Conferência Nacional de Saúde, mas que ambas possuem “Democracia e Saúde” como tema central, Pigatto acrescentou: “este tema tem tudo a ver com os dias de hoje”.
O presidente do CNS destacou ainda a atuação da Fiocruz na realização da 16ª CNS. “A conferência acontecerá e isso é uma grande vitória para todos nós”, comentou, ao destacar os desafios da manutenção e realização da atividade.
Para a diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio, a atividade proposta pela Fiocruz Brasília proporcionou o registro da história viva presente na mesa da Roda de Conversa, e mostrou, ainda, a importância do processo continuado de construção.
A pesquisadora da Fiocruz Brasília Maria do Socorro Souza, que coordenou a atividade, destacou os objetivos da roda de conversa: “nossa intenção era trazer exatamente como as ciências humanas e sociais contribuíram com a construção da saúde; trazer sujeitos e atores que protagonizaram, nesses últimos 30 anos, toda essa construção da democracia e participação a partir do SUS, trazer agendas e pautas que mais mobilizavam esses diferentes sujeitos e pensar um pouco as estratégias”, pontuou.