Fiocruz Brasília promove Oficina de Diálogos Prospectivos para a Atenção Primária em Saúde no DF até 2030

Mariella de Oliveira-Costa 27 de maio de 2019


Mariella de Oliveira-Costa 

  Nesta segunda-feira, 27 de maio, a Fiocruz Brasília promoveu a Oficina de Diálogos Prospectivos para a Atenção Primária em Saúde no DF até 2030. Foram convidados 40 delegados da Conferência Distrital de Saúde, das sete regiões de saúde do DF e especialistas em Atenção Primária em Saúde e temas conexos, para se discutir as possibilidades futuras para a Atenção Primária em Saúde no DF, unindo representantes dos serviços de saúde, da academia e da gestão.

A oficina é de reflexão estratégica, pois busca construir cenários possíveis para a Atenção Primária em Saúde no Distrito Federal, para reduzir as incertezas e contribuir para a definição das ações que afastem as ameaças e aproveitem as oportunidades deste território, a partir da análise dos fatores críticos, definição de hipóteses e construção de cenários possíveis para cada realidade.  Os participantes foram levados a pensar estrategicamente sobre a Atenção Primária, a partir da complexidade dos fatores analisados ao longo do dia. O grupo elencou 49 fatores críticos da atenção primária em saúde, baseado na literatura científica, tais como o acesso universal, o congelamento dos gastos públicos, a avaliação em tecnologias de saúde, a ciência e tecnologia em saúde, o SUS nas mídias, o envelhecimento populacional, a relação público-privado e a violência urbana, entre outros. A mudança em um dos setores pode mudar todo o resto, e o participante sai com o desenho de cenários possíveis para a sua realidade.

A iniciativa de se abordar o tema da Atenção Primária em Saúde nesta oficina partiu de duas estudantes do curso de especialização em Saúde Coletiva, da Escola Fiocruz de Governo da Fiocruz Brasília, a psicóloga Michele Falcão e a médica Lilian Gonçalves. “Os participantes vão pensar as possibilidades que a reorganização do SUS pela atenção básica podem gerar, suas oportunidades e ameaças”, disse Falcão.  “Só trabalhamos com os fatores de incerteza para aquilo que as atuais ferramentas de gestão não dão conta”, completou Gonçalves.

O coordenador de integração estratégica da Fiocruz Brasília, e responsável pela Oficina, Wagner Martins, tem experiência de mais de 20 anos no tema da prospecção estratégica, e desde 2013, vem trabalhando na Fiocruz com essa metodologia de Inteligência do Futuro, seja como disciplina de verão, com 20 horas de duração ao longo de uma semana, seja adaptada para se fazer em curto espaço de tempo, com a análise das possibilidades do futuro. Temas como o sistema de Ciência e Tecnologia no SUS, o Conasems e o Conass, além do programa de malária já foram pautados em edições anteriores da Oficina. Ele lembrou que a Escola Fiocruz de Governo forma alunos para a intervenção e proposição não só acadêmica, mas política. “Se faz política pública para uma vida de mais qualidade para a população”, disse.

Na abertura da atividade, a conselheira representante dos trabalhadores no Conselho Distrital de Saúde, Giovania Rodrigues Silva, lembrou que no DF, no passado, havia uma secretaria de atenção primária e parabenizou a Fiocruz Brasília por pautar esse tema em momento tão importante como este, no ano da 16ª Conferência Nacional de Saúde, a 8ª + 8.

O ex-ministro da saúde e assessor da Fiocruz Brasilia, José Agenor Alvares, apresentou aos participantes um histórico sobre a 8ª Conferência Nacional de Saúde. Segundo ele, desde muito antes de 1988, os brasileiros já estavam compreendendo que a saúde deveria ser um direito de todos. “Com a promulgação da lei que regulamentava o Sistema Nacional de Saúde, em setembro de 1975, foi dito claramente que uns tinham direito à saúde, outros não. E a partir de pressão popular, a previdência social e outras áreas começaram a pensar que a saúde era um direito de todos”, afirmou.

Segundo ele, a 8ª Conferência foi marcante por ser a primeira vez que contou com participação da sociedade civil, enquanto as anteriores só haviam representantes do Estado. Lembrou também que, para se dialogar prospectivamente sobre a atenção primária, deve ser considerado que um sistema de saúde não se faz só com a atenção primária. “A atenção primária não é a única solução. Os outros níveis são importantes também, assim como não se resolve tudo em uma conferência de saúde. Ela dá linhas e diretrizes, mas não se resolve tudo, apenas direciona os gestores sobre como se trabalhar. A saúde em 2030 depende de nossas ações hoje”, disse.