Instalação Morar em Liberdade: 15 anos do Programa de Volta para Casa segue aberta para visitação até o final de junho
Nathállia Gameiro
Em comemoração aos 119 anos da Fiocruz, a instituição promoveu visitas guiadas à exposição Morar em Liberdade: 15 anos do Programa de Volta para Casa, abrigada na Escola Fiocruz de Governo (EFG), em Brasília. A atividade levou colaboradores de diferentes áreas e formações da Fiocruz Brasília a conhecerem as histórias de pessoas que viveram muitos anos isoladas em hospitais psiquiátricos de Barbacena (MG), cidade que concentrava o maior número de hospitais dessa natureza e, por isso, era conhecida como cidade dos loucos. Os motivos das internações eram diversos, mas, em sua grande maioria, tinham como objetivo esconder da sociedade pessoas que “desviavam do padrão”.
A exposição inicia com a linha férrea que ajudava no transporte das pessoas à estação final, que marcaria suas vidas: uma fazenda que abrigava um dos maiores hospitais psiquiátricos da cidade. Muitas vezes eram internadas compulsoriamente e passavam por torturas, comendo comida crua e em tratamentos com eletrochoque, hoje conhecidos como lobotomia e eletroconvulsoterapia.
Alguns ficaram internados por cerca de 60 anos, longe da família e sem direito a histórias e identidade. Assim, a instalação fotográfica chama a atenção para a importância da Reforma Psiquiátrica Brasileira, resgatando dois momentos: a vida dos usuários em 2007, ainda internados nos hospitais, com sonhos e vida social aprisionados, e 10 anos depois, com a reinserção social e o cuidado em liberdade, com histórias, identidade, saúde, vida e conquistas. Sonhos que parecem pequenos para muitos, mas inviáveis para outros. É o exemplo de Sônia, que sonhava em ter um sofá vermelho na sala de estar e só pôde realiza-lo depois de muitos anos, quando saiu do hospital.
Tudo isso foi possível com o Programa de Volta para Casa, instituído em 2003, que garante o auxílio-reabilitação psicossocial para a atenção e o acompanhamento de pessoas egressas de internação em hospitais psiquiátricos. O Programa busca a autonomia e protagonismo dos usuários. As saídas das internações foram feitas respeitando as vontades e histórias de cada um.
“A exposição retrata de forma bonita e importante uma parte triste da nossa história. O que eu quero é que mais gente veja isso, é o tipo de conteúdo que tem que continuar existindo para a memória, alerta e denúncia. Espero que seja fortalecido”, ressaltou a colaboradora da EFG Juliana Mota.
A mostra não tocou apenas os visitantes, mas também os curadores, como Cássia de Andrade Araújo. Para ela, o mais gratificante do trabalho é o impacto que ele tem nas pessoas. “Foi um trabalho triste, mas com um toque de esperança que revela as histórias e levanta questões como o sucateamento e a internação compulsória”, opinou.
Já para Nara Vieira, do Núcleo de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas da Fiocruz Brasília, a importância da instalação é trazer a memória da loucura no Brasil, o resgate das histórias de vida e possibilidade de ressignificar o cuidado em liberdade. “Reafirma a importância da Reforma Psiquiátrica no Brasil, do cuidado em liberdade e a garantia do direito das pessoas que sofrem, além da diferença que faz serem cuidadas em liberdade dentro da Rede de Atenção Psicossocial”, destacou. Depois das visitas, foram realizadas sessões de vídeo sobre o tema da saúde mental.