Experiências regionais são destaque da Feira de Soluções

Mariella de Oliveira-Costa 18 de junho de 2022


As Feiras de Soluções para a Saúde promovidas pela Fiocruz desde 2017 não se limitam a mesas de debate com especialistas de instituições de pesquisa e gestores, mas também apostam no compartilhamento de experiências sociais, que homens e mulheres tem vivido e são relacionadas ao tema de cada feira. Nesta edição, que é parte da I Feira Nordestina de Agricultura Familiar (Fenafes) e acontece até domingo, em Natal (RN), a primeira roda de conversa enriqueceu a programação.   

 

O Projeto Gênero, quintais produtivos e o uso da caderneta agroecológica monitora o consumo, troca, doação e venda de alimentos plantados nas hortas das famílias, o que auxilia que compreendam um pouco sobre as relações econômicas que são fundamentais para a vida. A percepção de lucro das mulheres traz satisfação, dando visibilidade ao papel delas no campo, que em muitas regiões era invisível antes do Projeto. A assessora da Secretaria de Desenvolvimento Rural da Bahia,  Bete Siqueira, ressaltou que a caderneta mostrou a diversidade das plantas cultivadas, e um saber popular que elas mesmas gerenciaram, investindo em plantas que percebiam que tinha um maior valor comercial. “É o ovo que ela coleta, a planta medicinal que ela faz o chá, aquilo que ela cultiva e traz do campo para a vida dela que gera renda para sua família. A caderneta potencializa o trabalho dessas mulheres”, disse. A convidada sugeriu que em próximos eventos seja organizado um espaço para atividades com as crianças, para que aquelas que tem filhos pequenos possam traze-los e aproveitar também esse espaço de troca e formação. 

 

Da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag), Edjane Rodrigues apresentou os resultados da formação de multiplicadores em Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS), realizado com a base do Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, que buscou parcerias com as instituições que atuam na rede de atendimento da atenção primaria em saúde. O curso foi ofertado de outubro de 2020 a maio de 2021, com carga horária de 220 horas, metade delas virtuais e a outra metade de tempo comunidade (prática presencial). Ao todo, comunidades de 19 Estados (AM, AL, BA, CE, DF, ES, MG, MT, PA, PB, PE, PI, PR, RO, RS, SE, SP, TO, MA) participaram e após o curso foi construído um diagnóstico e um plano de ação em PICS. Uma das alunas do curso, a dona Lindiomar testemunhou como a formação foi um regresso à infância dela, lembrando de sua avó parteira e benzedeira, que tinha a saúde baseada nas plantas medicinais. Outra ex-aluna do curso, dona Josefa, agricultora familiar em São Sebastião (DF) e nascida no interior do Tocantins, também compartilhou que cresceu numa comunidade agroecológica com solo saudável que produzia comida saudável e melhorava a  vida de sua família. “Se consigo cuidar do plantio, colheita e tenho gratidão com a terra produtiva e propriedades medicinais e alimentares dessa planta, isso reverbera em um fitoterápico de melhor qualidade. A conexão com as plantas ecoa em nossa vida, e apesar de ser semialfabetizada, busco que o conhecimento das pesquisas se alie à ancestralidade e possibilite produção de vida”, compartilhou.

 

Monique Galvão, de Parnamirim (RN), apresentou a implantação das PICS na região do Seridó (RN), para a desmedicalização na área de saúde mental, com o projeto TeraPICs, que contemplava a  prática de ioga, dança circular e o fomento do uso de plantas medicinais. Ela defendeu a produção e  uso de cannabis medicinal para redução de danos na linha de cuidado de saúde mental e também de pessoas com deficiência, tema estudado por ela em seu mestrado. 

 

A coordenadora adjunta da Fiocruz Piauí, Elaine Nascimento, apresentou o projeto de vigilância popular, ambiental e feminina em saúde no contexto da Covid-19, financiado com recursos do Projeto Inova Fiocruz, em parceria com a Fiocruz Brasília. Ela criticou o racismo, a desigualdade de gênero e também a distância entre quem está no campo e quem está na cidade. A pesquisa identificou como as mulheres  se organizam e atuam para essa vigilância popular e ambiental considerando a educação e formação para a equidade de gênero e governança,  e no acesso aos recursos hídricos e saneamento na região do Vale do Rio Sambito, no interior de seu estado. 

 

A pesquisadora da Fiocruz Brasília, Socorro Souza coordenou esta roda de conversa e alertou que não se pode pensar as políticas públicas das PICS apenas sob a ótica do Estado e da Academia, mas deve se basear nas experiências das pessoas. “Se nos desafiamos a pensar territórios saudáveis e sustentáveis, a política pública deve ser pensada de forma participativa”,  ressaltando que o diálogo com as experiências e participantes da Feira será mantido após o encerramento das atividades, para se pensar novas atividades que potencializem o trabalho dessas pessoas.

 

A programação da 5ª Feira de Soluções para a Saúde vai até domingo. Clique aqui para conhecer as próximas atividades.

 

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