Evento debate desafios da maternidade no trabalho

Nathállia Gameiro 28 de agosto de 2019


Nathállia Gameiro

Alteração nos hormônios e humor, sensibilidade, turbilhão de emoções, mudanças corporais e mudança de rotina. Estas são algumas transformações que a gravidez traz para a mulher, que afetam não só a vida pessoal, como a profissional. Os desafios da maternidade no trabalho foram debatidos durante roda de conversa “Diálogos com a Enfermagem: vivenciando a maternidade no trabalho”, realizada na Fiocruz Brasília na manhã desta terça-feira, 27 de agosto.

Mães com filhos de diferentes idades e gestantes trabalhadoras da unidade relataram suas experiências com a gravidez e as fases pós-parto, amamentação, crescimento dos bebês e a volta ao trabalho. Futuras mães também trouxeram relatos de convivência e apoio a colegas de trabalho e familiares que passaram pela maternidade. O espaço permitiu que essas mulheres fossem ouvidas acerca de suas necessidades, anseios e dúvidas.

Entre os desafios elencados pelas mães trabalhadoras estão a necessidade de estar disposta para o trabalho depois de uma noite em claro nos primeiros meses do bebê; a culpa de deixar o filho, muitas vezes doente, com outra pessoa para cumprir a jornada de trabalho; a ausência em fase importantes como os primeiros passos; a divisão do tempo; medo de não passar tempo suficiente com os filhos; dificuldade de compreensão de gestores e colegas sobre a maternidade e as mudanças na rotina que ela traz; o desafio de exercer diferentes funções e turnos durante o dia– ser mãe e trabalhar dentro e fora de casa; as inseguranças; julgamentos e cobranças da sociedade e da própria mulher, além da compreensão de que cada mulher é diferente da outra e vivencia a fase de maneiras diferentes. O sentimento de culpa quando está no trabalho, ou quando está em casa com o filho, quando viaja ou tem pequenos momentos de lazer no cinema e as sensações de incapacidade foram unânimes.

“A maternidade é muito romantizada e a realidade não é assim. Ninguém nos prepara para a parte difícil da gestação, momento que transforma completamente a mulher. E de repente ela tem que se inserir novamente no ambiente de trabalho e esperam que ela dê conta de tudo de forma igual ou até melhor, mas na realidade tudo mudou”, explica a enfermeira Isis Santos, uma das coordenadoras e  idealizadora do projeto.

A iniciativa coordenada também pela enfermeira Michelle Caldas, do Núcleo de Saúde do Trabalhador (Nust) da Coordenação de Saúde do Trabalhador da Fiocruz (CST/Cogepe), busca passar informações e tirar dúvidas sobre maternidade, como forma de preparar a mulher para a chegada do bebê e para a vida pós-parto. É realizada há pouco mais de um ano na sede da Fiocruz no Rio de Janeiro, com encontros mensais voltados para mães, gestantes e acompanhantes e sobre diferentes temas que cercam a maternidade. A Fiocruz Brasília foi a primeira unidade regional a sediar a atividade, em fevereiro deste ano. No segundo encontro, o grupo ganhou adesões de mulheres de diferentes setores da instituição.

Para passar pela maternidade, as participantes ressaltaram que é necessária a sensibilização de colegas de trabalho, gestores e instituição quanto ao apoio e cuidado a essas mães com filhos recém-nascidos, um pouco maiores ou até nas adolescentes, além das que retornaram recentemente do período de licença maternidade e as gestantes. “É uma mudança da consciência e de cultura, não é algo para agora. De alguns anos para cá já podemos ver mudanças”, disse Eliane Caldas, do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz). A psicóloga lembrou ainda das cobranças da sociedade com as mulheres na criação e cuidados com o bebê e do papel do pai nesse processo. “Não é uma ajuda à mãe, ele precisa compartilhar os cuidados e exercer o papel dele”, afirmou.

Amamentação

A volta ao trabalho altera também a rotina de amamentação dos bebês. Estudo realizado em Michigan e Nebraska (EUA) mostrou que o retorno da mãe ao trabalho foi responsável por 58% do desmame precoce. Na América Latina, menos de 40% dos bebês são amamentados exclusivamente até os seis meses.  

Um dos fatores de risco para o aleitamento materno é a falta de estrutura e apoio no trabalho. Para criar condições para que a amamentação seja possível no espaço do trabalho, a Fiocruz Brasília inaugurou neste mês de agosto a Sala de Apoio à Amamentação, que pode ser utilizada por trabalhadoras, estudantes e mulheres que estiverem transitando pela instituição. Esta é a terceira sala de apoio da Fiocruz e a primeira em uma unidade fora do Rio de Janeiro.  O ambiente é destinado às mulheres que amamentam e desejam, de forma segura, retirar e estocar seu leite e levá-lo para seu filho após a jornada de trabalho ou amamentar seus filhos em um local apropriado, reservado e confortável. 

Para a jornalista da Assessoria de Comunicação da unidade Nayane Taniguchi, o espaço demarca o papel da mulher no ambiente institucional, valoriza mães trabalhadoras e estimula o aleitamento materno. Ela destacou o trabalho realizado pela equipe de Serviço de Gestão do Trabalho (Segest), mobilização e engajamento, que tornaram a conquista do espaço possível.

O avanço na Fiocruz Brasília foi lembrado pela psicóloga do Núcleo de Saúde do Trabalhador da unidade, Raquel Lisboa. “Passamos a maior parte do dia no trabalho, então precisamos ressignificar esses ambientes e investir na qualidade de vida e do trabalho. É uma responsabilidade coletiva. Se pensarmos de onde saímos e onde chegamos, já tivemos um grande avanço”.  

A roda de conversa integrou as atividades em comemoração ao Agosto Dourado, mês dedicado à intensificação das ações de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno. Como parte da celebração, a Fiocruz Brasília inaugurou a exposição fotográfica Vínculo – Mães trabalhadoras da Fiocruz Brasília, que registra diferentes momentos e períodos do aleitamento materno – do parto ao crescimento, em casa ou em locais públicos. Aberta ao público, a exposição ficará disponível para a visitação até 31 de agosto, na área externa da Fiocruz Brasília.

A unidade sedia também intervenção com relatos das mães trabalhadoras sobre o processo de amamentação, também disponível para visitação no hall do primeiro andar da Escola Fiocruz de Governo.

Confira as fotos 

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