Estudantes de escolas públicas aprendem sobre genoma e bioinformática

Fiocruz Brasília 9 de outubro de 2018


Nathállia Gameiro

O que é o genoma? A resposta estava na ponta da língua do aluno do Instituto Federal de Brasília campus Taguatinga, Felipe Araújo. “É o material genético, ou sequência de DNA, que forma as características do indivíduo”, respondeu. O estudante participou das atividades do Genomic Day, realizado pela Fiocruz Brasília na última sexta-feira (5), no Instituto Federal de Brasília (IFB). 

A capital federal sediou o evento pela primeira vez este ano. Cerca de 180 alunos do Instituto Federal de Brasília, campi Taguatinga e Brasília, e do Instituto Federal de Goiás, campus Formosa, participaram de palestras sobre o uso do genoma para a descoberta de espécies de bactérias, pesquisas sobre o transmissor da Doença de Chagas e sobre o uso de bancos de dados na genômica. O evento superou as expectativas da organizadora local e pesquisadora da Fiocruz Brasília, Tainá Raiol. “Nós esperávamos muitos alunos, mas não tantos”, disse.

De acordo com o assessor especial da Escola Fiocruz de Governo, João Paulo Brito, para a Fiocruz, é fundamental participar e construir eventos de socialização e divulgação da ciência. “Estar aqui para discutir genômica, popularizar e horizontalizar a discussão sobre ciência é imprescindível para a discussão de um novo marco educacional e de sociedade”, disse. 

O diretor de Ensino, Pesquisa e Extensão do Instituto Federal de Brasília campus Taguatinga, Fabiano Fernandes, afirma que foi uma oportunidade única para os alunos terem contato com a ciência de ponta e com pesquisadores renomados. “Abre outras portas para trilhar o caminho na profissão que cada um escolher”, completou. Ele destacou a importância da genômica na transformação do mundo há algumas décadas, em ações para a saúde pública e da bioinformática, que auxilia pesquisadores a conseguirem resultados de maneira mais rápida.

As bactérias estão presentes no dia a dia e às vezes não tão visíveis a olho nu. Foi o que afirmou a professora do Departamento de Biologia da Universidade de Brasília Marlene Teixeira. “Existem mais bactérias no cólon do que o número de humanos no planeta”, contou. Ela mostrou que cerca de 95% das bactérias estão associadas ao corpo humano e existem mais de 100.000/cm³ na mão e mais de 700 espécies na boca. “Se não estudarmos como os microrganismos funcionam não vamos entender a água, terra, ar e nem a ciência da vida”, afirmou. Segundo a professora, esses microrganismos podem ser usados na agricultura, indústria de alimentos e de medicamentos e em pesquisas científicas. 

À tarde, os estudantes puderam colocar o conhecimento aprendido em prática, com participação nas oficinas como a de análise da estrutura de um proteína a partir de um banco de dados gratuito, o alinhamento de sequências de DNA/RNA, o uso da bioinformática na genética e a extração do DNA da banana. A oficina que mais empolgou o estudante de Eletromecânica do IFB – Taguatinga Johan Marcos, de 17 anos, foi a de construção de um modelo de DNA com canudos plásticos e fitas adesivas. “As pessoas não têm costume de desenvolver essa parte do intelecto por falta de oportunidades. Tem coisas que não aprendemos e esse evento nos proporciona isso”, disse.

A aluna de mestrado da UnB Jessica Nayane, 26 anos, soube do evento e correu para participar. “Fiquei muito feliz quando soube do Genomic Day pois não há muitas oportunidades nessa área. A Fiocruz, sendo uma instituição de grande porte e muito renomada, apresentando isso aos jovens, é muito importante”, afirmou. A professora de computação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) Luciana Montera, concorda com a estudante. “O Genomic Day é uma oportunidade única, traz para bem perto o mundo da ciência e isso pode gerar novos pesquisadores”, disse.

O professor de informática, do IFG de Formosa, que palestrou sobre bioinformática no evento, Waldeyr Mendes da Silva, destacou a importância dos jovens terem esse contato precoce, “Quanto mais novos, a importância da inserção de assuntos como esse é maior, pois eles ainda estarão formando suas ideias”, explica. Confira as fotos

 

Genomic Day
O Genomic Day é realizado há três anos, por iniciativa do Laboratório de Biologia Computacional e Sistemas do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz RJ), que integra o Programa ‘IOC+Escolas’. O objetivo é ampliar as atividades divulgação científica junto às escolas. Neste ano, foi realizado também no Rio de Janeiro, Rondônia, Minas Gerais, Pernambuco e Distrito Federal.

De acordo com o coordenador geral do evento e pesquisador da Fiocruz, Alberto Davila, a iniciativa foi inspirada no “Teaching the Genomic Generation” do Jax Lab dos Estados Unidos, que busca novas maneiras de levar a genômica para a sala de aula da escola pública, o currículo da universidade, a força de trabalho e até mesmo a educação de médicos. 

Alberto observa que é importante os alunos serem confrontados com as tecnologias de sequenciamento e análises de genomas que estão modificando o mundo, começando pelo próprio genoma humano e a saúde. “Isso faz com que eles tomem ciência e comecem a questionar a velocidade e ética envolvidos nessas pesquisas”, afirma. O pesquisador tem observado nas outras edições que os alunos ficam impressionados com os avanços da ciência nessa área, desconhecida para grande maioria. “Alguns deles perguntam sobre possibilidade de estágio e mencionam terem intenção de cursos biologia ou medicina”, finalizou.