Estudantes de escolas da Ceilândia propõem soluções para problemas da região

Fiocruz Brasília 13 de novembro de 2018


Nathállia Gameiro

 

Cerca de 60 alunos de quatro escolas da Ceilândia (DF) participaram do Fórum Ciência e Sociedade, projeto da Fiocruz

 

 

Crianças e adolescentes de 12 a 16 anos tiveram a oportunidade de refletir e se debruçarem sobre problemas encontrados na Ceilândia, região onde moram que está localizada a cerca 30 km do centro de Brasília. Divididos em grupos, sugeriram propostas para diminuir os problemas de resíduos sólidos, crise hídrica e a incidência de doenças transmitidas pelo Aedes aegypti. As soluções foram apresentadas durante os debates que marcaram a etapa final do Fórum Ciência e Sociedade, realizado entre os dias 6 e 8 de novembro no Instituto Federal de Ceilândia.

 

Entre as propostas estão reduzir o uso de plástico nas escolas, desenvolver receitas de repelente natural, cuidar para que tanques de reuso de água não virem foco de mosquitos, implantação de  horta comunitária nas escolas e na comunidade, orientação sobre coleta seletiva à população, capacitação de funcionários das escolas, campanha nas comunidades para evitar acúmulo de lixo em terrenos vazios, conscientização sobre o uso de sacolas plásticas, troca de torneiras comuns em escolas para as de pressão, conscientização por meio de mídias sociais e proibição de construções ilegais que matam nascentes e fiscalização de desmatamento de florestas. 

 

A criatividade tomou conta das equipes, que utilizaram entrevistas, vídeos, texto e poemas sobre os temas. Um dos textos falou sobre a responsabilidade de cada um com o planeta. “Quero terminar este ano pedindo que cuidem do nosso planeta!!! Tenham consciência do uso da água, tenham cuidado ao descartar os lixos e tomem medidas para prevenir a dengue e outras doenças. É importante que cada um de nós aqui presente seja um multiplicador desse conhecimento e converse com os alunos que não puderam estar aqui sobre a importância de adotar medidas simples que vão fazer toda a diferença para o meio ambiente. Quando chegar em casa, separe seu lixo e reaproveite a água. Explique à sua família que todos somos responsáveis por cuidar do planeta”, diz um trecho de uma carta elaborada por um dos grupos de estudantes. 

 

Até o início de outubro deste ano, foram confirmados 111 casos de dengue na Ceilândia. No verão os números aumentam. De acordo com a enfermeira da Vigilância Epidemiológica da Região Oeste do DF Aline Melgaço, como os casos param de aparecer na mídia nos outros meses, as pessoas esquecem do cuidado. “Enquanto isso o mosquito continua voando. Fazemos ações educativas, mas a responsabilidade é de cada um”, disse. 

 

O sanitarista e pesquisador da Fiocruz Brasília Cláudio Maierovitch, apresentou a história da Fiocruz desde o surgimento e o histórico da dengue no Brasil. O primeiro caso foi descrito em 1865, em Recife. E em 1846, foi considerada endêmica e se espalhou para outros estados. Ele destacou que a dengue é um problema há mais de 30 anos e, em 2013, o país teve um recorde de casos: 1,65 milhão. “O problema não está melhorando e isso envolve necessidade de conhecimento e formulação de perguntas”, afirmou.

 

Maierovitch afirmou ainda que o Brasil é o país que mais tem arboviroses no mundo, pela localização geográfica, grande extensão terrestre e o clima tropical, sendo um local adequado para a existência dos vetores. Arboviroses são doenças causadas por vírus e transmitidas por artrópodes (insetos e aracnídeos). Dos mais de 545 espécies de arbovírus conhecidos, cerca de 150 causam doenças em humanos. O pesquisador destacou a necessidade de criar estratégias em várias frentes para combater as doenças. “Enquanto as pessoas mantiverem o padrão de consumo, vamos continuar gerando desequilíbrio no sistema. Precisamos juntar tecnologias e ações para controlar as doenças”, disse. 

 

O biólogo da Secretaria de Saúde do DF Israel Martins apresentou as ações realizadas pela SES para manter a infestação do vetor em níveis baixos e evitar altas taxas de transmissão das doenças. Apresentou também os dados do Levantamento de Índice Rápido do Aedes aegypti (LIRAa), que mostra o tipo de depósito utilizado em cada região administrativa. Na Ceilândia, predominam vasos/frascos com água, pratos, garrafas retornáveis, pingadeira, recipientes de degelo em geladeiras, bebedouros em geral, pequenas fontes ornamentais, materiais em depósitos de construção (sanitários estocados e canos) e objetos religiosos. 

 

Martins apontou como desafio a mobilização social, inspeção de imóveis, descarte inadequado de lixo, racionamento de água e educação em saúde. Ele ressalta que é preciso prevenir, e com ações pequenas é possível melhorar a situação, como cada cidadão realizar a vistoria semanal em suas casas e trabalho.

 

Visitas de campo


Durante quatro meses, os alunos do Instituto Federal de Brasília campus Ceilândia, Centro Educacional Incra 9, Centro Educacional 7 e Centro de Ensino Fundamental 34 participaram de saídas de campo para a Embrapa, Estação de tratamento de esgoto e de água, usina de reciclagem e leituras e vídeos para debate nas escolas. 

 

Eles foram os protagonistas de todo o processo. A experiência foi contada pelos alunos durante a etapa de debate. “São coisas que a gente aprende na prática. Nas visitas eu vi coisas que eu faço e nem sabia que faziam tão mal para o meio ambiente. E o debate é uma das formas mais eficazes de troca de conhecimento”, disse a aluna Larissa S., 16 anos, do CED Incra 09.  Um aluno destacou que 99% dos focos de dengue estão no lixo doméstico e comentou que locais vazios que indevidamente viram depósito de todo o tipo de lixo, podem se transformar em locais importantes, como o caso do terreno do Instituto Federal de Ceilândia, que antes era um local de entulho. 

 

Para a coordenadora do projeto, Luciana Sepúlveda, o Fórum articula conhecimento e informação para a ação. “A escola pode ser um lugar de transformação do mundo”, destacou. 

Os três dias de evento contaram também com apresentações de projetos e finalizou com um teatro sobre a crise hídrica, formulado pelos estudantes do CED Incra 09.