ESPECIAL MONKEYPOX

Fernando Pinto 18 de agosto de 2022


 ESPECIAL MONKEYPOX da Agência Fiocruz de Notícias  (clique na imagem para acessar à página)

 

Em vários países, inclusive no Brasil, têm sido registrados casos de monkeypox – doença também chamada de varíola dos macacos, embora o atual surto não tenha relação com esses animais. O vírus causador da monkeypox foi descrito pela primeira vez em 1958, mas a doença é pouca conhecida pelas pessoas e tem gerado preocupação – principalmente porque seu nome remete a outra doença muito temida, porém já erradicada do mundo desde 1980. Nesta seção de Perguntas & Respostas, o médico Sérgio Nishioka, colaborador do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde (NEVS) da Fiocruz Brasília, esclarece algumas dúvidas sobre monkeypox. 

 

De uma maneira simples, o que é varíola?

Varíola é uma doença restrita aos seres humanos que foi considerada erradicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1980. Era uma doença altamente transmissível, muito temida não só por poder ser letal, mas também por poder deixar marcas na face (e no resto do corpo) que eram muito antiestéticas.

 

Qual a diferença entre a antiga varíola e a chamada varíola dos macacos (monkeypox)?

Do ponto de vista clínico, as lesões cutâneas (máculas que evoluem para pápulas, depois para vesículas, e finalmente para crostas) são semelhantes nas duas doenças. A monkeypox que tem sido observada no atual surto, fora dos países africanos onde é endêmica, tem se caracterizado, com muito maior frequência, pela presença de um número limitado de lesões nas regiões genital e perianal, enquanto no quadro clássico – tanto da varíola quanto da monkeypox – as lesões costumam ser em maior número e encontradas por todo o corpo, incluindo face e extremidades. Outra diferença importante é que a varíola era uma doença restrita aos humanos, enquanto a monkeypox é uma zoonose, ou seja, doença de animais, que pode também afetar os humanos.

 

Por que a doença tem esse nome? Qual a relação com os macacos?

Ela é chamada de varíola dos macacos pelo fato de o vírus ter sido isolado pela primeira vez em macacos que apresentavam quadro clínico semelhante ao da varíola. Contudo, os animais considerados responsáveis pela circulação do vírus da monkeypox na natureza não são os macacos, mas sim roedores silvestres africanos.

 

A monkeypox é uma doença nova?

Não. O vírus causador da monkeypox foi descrito pela primeira vez em 1958, e a doença em humanos foi reconhecida em 1970.

 

Partícula viral de monkeypox. Foto: CDC/ Cynthia S. Goldsmith, Russell Regnery

 

Os últimos casos de varíola no Brasil foram registrados há mais de 50 anos e essa doença foi considerada erradicada do mundo em 1977, uma conquista que só foi possível por meio da vacinação. Uma vez erradicada a doença, a vacinação contra a varíola deixou de ser necessária. Portanto, somente pessoas mais velhas tomaram essa vacina, no passado. Essas pessoas, agora, estão mais protegidas contra a monkeypox?

O último caso de varíola do mundo transmitido na comunidade ocorreu em 1977, mas a doença foi oficialmente considerada erradicada em 1980. Estudos epidemiológicos observacionais realizados na África, depois da erradicação da varíola, revelaram que pessoas que haviam recebido vacinação antivariólica tinham uma proteção de 85% contra a monkeypox em comparação com os não vacinados. Não existem estudos recentes, mas presume-se que as pessoas que foram vacinadas contra a varíola no passado ainda apresentam algum grau de proteção, pelo menos contra formas graves da doença.

 

Já existe vacina contra a monkeypox?

Existem três gerações de vacinas contra a varíola. Considera-se que todas elas conferem proteção contra a monkeypox, mas apenas a de terceira geração foi aprovada formalmente para esta indicação.

 

Se disponível uma vacina contra a monkeypox, seria o caso de vacinar toda a população ou apenas grupos específicos?

Considera-se que a vacinação contra a monkeypox deva ser limitada a profissionais da área de saúde que tenham risco de adquirir o vírus por contato com pacientes ou amostras biológicas, e contactantes de pessoas com a doença ativa, no caso com o objetivo de prevenir a disseminação do vírus na comunidade. Pessoas com deficiência de imunidade celular associada a determinadas doenças e/ou a uso de medicamentos imunossupressores têm risco de desenvolver formas graves de monkeypox; por esse motivo, poderão ser incluídas, futuramente, entre os grupos a serem vacinados.

 

Quais cuidados as pessoas devem tomar para se prevenir da monkeypox?

A transmissão da monkeypox pode se dar pelo contato próximo com pessoas com doença ativa, como acontece em relações sexuais, mas também por contato com vestimentas, roupas de cama e toalhas compartilhadas com pessoas com lesões ativas na pele, e por gotículas de saliva. Medidas de distanciamento social, uso de máscaras, lavagem das mãos com água e sabão ou uso de álcool em gel, que ainda são recomendadas para a prevenção da Covid-19, são também protetoras contra a transmissão da monkeypox. Elas são indicadas, sobretudo, no contato com pessoas com a doença ou com suspeita dela, durante todo o seu período de transmissão (que vai até a queda da última crosta). Contato sexual com múltiplos parceiros deve ser evitado. O uso de camisinha durante relação sexual pode não ser suficiente para prevenir a transmissão da monkeypox. Lembrando que a camisinha é fundamental para a prevenção de HIV/Aids e outras infecções sexualmente transmissíveis.

 

Máscara e álcool em gel são necessários para evitar o contágio?

No contato com pessoas com monkeypox com lesões ativas na pele, isto é, enquanto todas as crostas não tiverem caído, o uso de máscara e a lavagem das mãos com água e sabão ou o uso do álcool em gel são recomendados.

 

Gestantes devem tomar algum cuidado maior? Há transmissão de mãe para filho durante a gestação, no pós-parto ou na amamentação?

A varíola era uma doença mais grave durante a gestação; por analogia, teme-se que esse também possa ser o caso da monkeypox. Outro motivo para se evitar adquirir a monkeypox durante a gravidez é o risco de transmissão do vírus da mãe para o feto, que pode interferir na viabilidade da gestação, dependendo da fase da gravidez em que ocorre a infecção. Recém-nascidos podem se infectar pelo contato próximo com as mães, particularmente durante a amamentação, não havendo, no momento, evidência de que o vírus da monkeypox se transmita pelo leite materno.

 

Estou em isolamento faz uma semana devido ao diagnóstico positivo de monkeypox. Após a recuperação, o paciente pode se reinfectar, caso entre em contato com alguém infectado? (pergunta do público enviada em 28/08/2022)

Por analogia com o que ocorria na varíola, que é uma doença causada por um vírus semelhante, é muito improvável que uma pessoa que adquiriu monkeypox, uma vez recuperada do quadro agudo da doença, adoeça de novo se reexposta ao vírus. Não há, porém, na fase atual de conhecimento sobre a doença, como se afirmar com certeza que o risco não exista. É possível que exista um risco pequeno de que isso ocorra, principalmente no caso de pessoas com imunodeficiência. Também não se sabe se a proteção conferida pela doença contra uma reinfecção futura pelo vírus da monkeypox dura pelo resto da vida, como ocorria no caso da varíola.

 

O clima pode interferir na propagação do vírus? E em qual clima a propagação é mais rápida? (pergunta do público enviada em 30/08/2022)

Na África Central e Ocidental, onde a monkeypox é uma zoonose, ou seja, uma doença de roedores e outros animais silvestres, tem-se verificado, ao longo dos anos, um aumento do número de casos humanos e da área de ocorrência de casos. Mudança climática tem sido apontada como um dos fatores que estariam influenciando esses achados, que ocorreriam por ela estar propiciando uma maior interação entre o homem e animais infectados pelo vírus. No caso de transmissão inter-humana da monkeypox, é plausível que ela possa aumentar nos meses mais frios do ano, quando o contato físico entre as pessoas é maior por ficarem mais tempo aglomeradas em locais fechados. Isso aumentaria a probabilidade de transmissão tanto por contato direto (pele-pele) como por gotículas de saliva ou secreções respiratórias. Por enquanto ainda não há dados que comprovem essa hipótese.

 

Se você tem outra questão sobre o assunto, entre em contato conosco pelo e-mail ascombrasilia@fiocruz.br  

 

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