Educação, Comunicação, Cultura e o capitalismo contemporâneo

Fiocruz Brasília 5 de dezembro de 2017


Os brasileiros gastam mais de cinco horas por dia conectados à internet. Cerca de 60% deles envia e recebe e-mails, 85% usam mensagens instantâneas em aplicativos como o Whatsapp e 77% utilizam as redes sociais*.  A todo momento, dados pessoais circulam na internet sem que os usuários sequer tenham consciência que, cada clique nos conhecidos Termos de Uso de um aplicativo ou software, por exemplo, pode abrir parte de seu cotidiano de gostos, usos, costumes e necessidades para o monitoramento de terceiros. Essa economia de dados movimenta um mercado internacional milionário, no chamado capitalismo informacional, que precisa ser considerado pelos pesquisadores e educadores. Para se ter uma ideia, só na plataforma de busca Google, são feitas mais de 59 mil pesquisas por segundo, e o Facebook agrega cerca de 300 milhões de gigabites de dados de cada usuário. 

Estes números significativos fazem parte do cenário atual da internet, apontado pelo professor da Universidade Federal do ABC, Sérgio Amadeu, durante a última edição de 2017 do evento Mar Aberto, realizado nesta terça-feira (5/12), na Fiocruz Brasília. A internet pode ser considerada hoje o maior símbolo da sociedade contemporânea, pois ela alterou os fluxos de informação e criou um novo ecossistema comunicacional que configurou novas relações entre as pessoas.  O mundo passou de uma economia de difusão de informações para uma economia da atenção, onde atrair o olhar dos consumidores passa a ser fundamental. “As marcas não investem mais nas campanhas de massa, ou segmentadas, mas em enviar conteúdo personalizado à necessidade de cada indivíduo”, afirmou. 

O professor apontou ainda que outro grande problema gerado com esta segmentação é perceptível no próprio discurso público dos meios de comunicação, que por exemplo, hoje, se molda pelos algoritmos das plataformas digitais. Para atingir maior visibilidade, os meios privilegiam apresentar determinados conteúdos que são mais requisitados pelos usuários que outros, talvez mais importantes. O professor acredita que a saída está na produção coletiva, rompendo a lógica do lucro e trabalhando a educação voltada para a diversidade, e não para o mercado. 

Nesse sentido, o professor da Universidade Estadual de Campinas Tel Amiel apresentou, durante o Mar Aberto, um panorama sobre Recursos Educacionais Abertos (REA) e chamou a atenção para o fato de que, atualmente, no Brasil, apenas a Fiocruz e a rede Paraná têm políticas institucionais de recursos educacionais abertos. Ele acredita que é preciso uma mudança na cultura organizacional, pois nem todos os gestores têm ciência das vantagens de se trabalhar com REA, como a facilidade de reuso do material, melhoria da qualidade, produção de cursos e recursos colaborativos, entre outros.
 
Mar Aberto 
A atividade encerra o ciclo de palestras intitulado Educação, Ciência e Tecnologias em Mar Aberto, promovido pela Escola Fiocruz de Governo (EFG) por meio do  Laboratório de Educação, Mediações Tecnológicas e Transdisciplinaridade em Saúde (LEMTES) e Núcleo de Educação à Distância (NEAD). Em 2017, foram realizados outros quatro encontros com  reflexões sobre as novas dinâmicas de produção e comunicação do conhecimento científico.  A cada encontro, os participantes debateram sobre a ampla utilização das Tecnologias da Informação Comunicação, especialmente da internet, na educação, dialogando não só com os estudantes, trabalhadores e pesquisadores da área da Saúde Coletiva, mas também das áreas de Inteligência Coletiva, Educação Aberta e mediada por novas Tecnologias da Informação e Comunicação, Democratização destas tecnologias, Capitalismo Cognitivo e Ética Hacker. 

*Dados da pesquisa TIC Domicílios, 2015