Desafios para garantir a saúde das populações do campo, da floresta e das águas 

Fiocruz Brasília 11 de outubro de 2017


As populações do campo, floresta e águas são, por vezes, invisíveis para os gestores da política pública, seja pela subnotificação de problemas e agravos de saúde, seja pelas dificuldades de preenchimento dos dados, seja pela ausência de equipamentos públicos de saúde próximo às residências, o que dificulta o acesso desta população desde a atenção básica até a alta complexidade. A própria estrutura das casas, nem sempre com saneamento adequado, dificulta a prevenção de doenças diarreicas simples, por exemplo. Daí a necessidade de se avançar na discussão da vigilância em saúde destas populações, propondo ações concretas que garantam melhor qualidade de vida e saúde desses povos. 


Nesse sentido, foi realizada na Fiocruz Brasília a 1ª Conferência Livre de Vigilância em Saúde das Populações do Campo, da Floresta e das Águas realizada nos dias 09 e 10 de outubro em Brasília, que reuniu representantes dos movimentos sociais do campo, floresta e das águas para discutir temas comuns a essas populações. Durante dois dias, 60 convidados de 12 diferentes movimentos participaram de mesas de debate sobre os desafios da vigilância nos territórios do campo, da floresta e das águas, que envolveram o tema dos agrotóxicos, a água, agroecologia e desenvolvimento sustentável. A programação contou também com reunião dos participantes em grupo de trabalho para construção de propostas para a 2a Conferência Nacional de Vigilância em Saúde, que será realizada no fim de 2017.


O pesquisador da Fiocruz Brasília Jorge Mesquita Huet Machado ressaltou que é nos territórios que se operacionalizam os determinantes sociais da saúde, e a organização dos serviços em redes de vigilância em saúde pode naquilo que configuram os riscos e impactos sociais, ambientais e sanitários. Ele ressaltou a vigilância da qualidade da água que gera grande quantidade de registros de contaminações não investigadas, e consequentemente, sem intervenção em saúde decorrente. Segundo ele, faltam também ações sistemáticas de vigilância na área de contaminação química, da saúde do trabalhador e acidentes de trabalho e sofrimento mental e outras formas de violência.


Durante a Conferência, foi lançado o novo livro do Observatório da Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo, da Floresta e das Águas – Teia de Saberes e Práticas (Obteia). Intitulado “Campo, Floresta e Águas – práticas e saberes em saúde”, o livro traz 69 autores representantes do SUS, de movimentos sociais e pesquisadores, e foi revisado não só pela academia, mas também por membros desses movimentos. 


“Não é uma obra de um só, e há um compromisso de se fazer um lançamento em cada território estudado, compartilhando os resultados produzidos com as pessoas. Não foi produzido para as pessoas, mas com elas. Segundo o o coordenador do Obteia e pesquisador da Fiocruz Ceará, Fernando Carneiro, há mais envolvimento da comunidade analisada quando a atuação no território não termina com o fim da pesquisa. 


A pesquisadora Maria do Socorro Sousa, ressaltou que é importante sistematizar o conhecimento produzido e que envolve essas populações, para disputar e ampliar os sentidos de saúde. Ela, Jorge Machado e André Fenner, pesquisadores da Fiocruz Brasília, escreve com outros pesquisadores da instituição um texto sobre reflexões da formação de lideranças para a gestão participativa da Política de Saúde Integral das Populações do Campo, da Floresta e Águas. 


 A coordenadora do evento Gislei Siqueira, acredita que a conferência atingiu seu objetivo e ressaltou o papel da Fiocruz como apoiadora do evento. “Além de contarmos com o espaço físico para realização das atividades, há um grupo de pesquisadores que tem produzido conhecimento relevante para essas populações e sua situação de saúde”, afirmou. 


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