Curso de Especialização em Epidemiologia de Campo tem início na Fiocruz Brasília

Nathállia Gameiro 12 de fevereiro de 2020


Nathállia Gameiro


A primeira turma de Especialização em Epidemiologia de Campo da Fiocruz Brasília foi inaugurada nesta segunda-feira (10). A capacitação é fruto de parceria entre a unidade da Fundação Oswaldo Cruz na capital federal, a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS) e a coordenação geral de Vigilância e Laboratório de Referência da Fiocruz.

A ideia do curso surgiu em 2017, em uma viagem a trabalho do atual secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Wanderson Oliveira, à Guatemala, para conhecer o modelo de capacitação que o Centers for Disease Control and Prevention (CDC) de Atlanta, Estados Unidos, implementou no país. O EpiSUS conta com três níveis de formação: fundamental, avançado, e agora a Especialização que tem certificação pela Escola Fiocruz de Governo. “Queremos,  ao menos,  a formação de um epidemiologista de campo para cada 200 mil habitantes. Junto à Rede Mundial de Epidemiologistas de Campo, só é considerado capacitado para vigilância e respostas a emergências do nível intermediário para cima. Precisamos avançar e ampliar a Especialização, disseminando esse conhecimento”, ressaltou Oliveira.

 

Wanderson ministrou a primeira aula do curso, explicando que a epidemiologia de campo considera elementos que podem influenciar a vida das pessoas, como idade e território, além de trabalhar a saúde humana, ambiental e animal de forma integrada. O secretário falou sobre a atuação da vigilância no SUS no processo contínuo e sistemático de coleta, consolidação e análise dos dados e sobre a situação epidemiológica atual, com as novas doenças, o reaparecimento de doenças já erradicadas no Brasil, como o sarampo,  e a mutação ou resistência de vírus e bactérias aos medicamentos. De acordo com ele, 70% das doenças emergentes tem origem zoonótica, ou seja, próprias de um animal que, em algum momento, contagiou os humanos.

Oliveira lembrou que, em meio ao surto de coronavírus, não se pode deixar uma doença sem cobertura, esquecendo das doenças mais comuns e igualmente perigosas e de alta carga que afetam milhares de pessoas, especialmente as mais vulneráveis.

 

Durante a mesa de abertura, foi destacada a importância do curso para a resposta às emergências do Sistema Único de Saúde. A diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio, afirmou que o curso é é um treinamento em serviço e tem no cerne da sua oferta a integração entre a educação e a prática profissional. “Que a gente siga fazendo aproximações e construindo pontes para lidar com as situações emergenciais e as do cotidiano da vigilância em saúde”, destacou.

 

O assessor técnico do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Nereu Henrique Mansano afirmou que a proposta é fundamental e fica mais evidente em emergências de saúde pública que ganham destaque na mídia, como a que estamos vivendo agora, com o coronavírus. “Mas temos outras situações no dia a dia em que a formação do epidemiologista de campo para a gestão federal e estadual é fundamental. Sabemos que outras emergências acontecerão e vamos precisar da atuação desses profissionais para dar respostas, por isso queremos que esse conhecimento se espalhe para todas as unidades da federação. O SUS vai precisar de todos vocês”, afirmou Mansano aos alunos do curso.

 

O coordenador do curso e ex-ministro da Saúde, Agenor Álvares, ressaltou a diversidade da atuação profissional dos alunos e de instâncias governamentais. “Toda ação de saúde só é eficaz se observarmos uma interação sistêmica entre os três níveis de governo: municipal, nacional e estadual”, afirmou. A capacitação é formada por servidores da SVS, da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), dos Ministérios da Defesa e da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, além de servidores das Secretarias de Estado de Saúde do Amazonas, Ceará, Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

 

Essas unidades federadas foram escolhidas porque atingiram os objetivos esperados na implantação e sustentabilidade do EpiSUS Fundamental, treinamento básico que capacita profissionais que atuam na área da vigilância em Saúde, em nível local, para melhorar a capacidade de detecção, resposta e comunicação de problemas de saúde pública. 

 

Durante a aula, o médico sanitarista da Fiocruz Brasília Claudio Maierovitch falou sobre globalização e como as mudanças culturais, políticas, sociais, tecnológicas, regulatórias e de consumo e oferta de produtos, além do aquecimento global e da circulação de pessoas no mundo podem gerar e amplificar os patógenos – bactérias, fungos, protozoários e vírus que são capazes de causar doença em animais e pessoas. Ele destacou que os riscos existentes em uma parte do mundo são rapidamente transmitidos. “Vivemos o surgimento de novas doenças o tempo todo, que atravessam o mundo e encontram uma população ainda não protegida contra esses vírus. Hábitos de consumos de medicamentos e alimentos, padrões de beleza de um país que se impõe a outro com diferentes genéticas,  causam um boom de regimes e plásticas que afetam as pessoas, causando problemas de saúde mental, intoxicações e aumento de cânceres”, exemplificou. Para Maierovitch, a saúde global depende da democracia global. “As nações com maiores necessidades, são aquelas que têm menor poder para influenciar e isso precisa mudar”, finalizou.    

 

O evento contou também com a participação do coordenador dos Laboratórios Internacionais da Divisão de Proteção da Saúde Global do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (Centers for Disease Control and Prevention – CDC) de Atlanta, Estados Unidos, Leonard Peruski, que explicou o funcionamento dos laboratórios e do fluxo de trabalho para operacionalizar o controle de doenças. Ele destacou que laboratórios, cientistas e epidemiologistas precisam ser parceiros para uma rápida resposta às emergências de saúde e que o Brasil tem a tecnologia e profissionais capacitados para enfrentas doenças como coronavírus, ebola e zika.

Confira as fotos tiradas pelo fotógrafo Sergio Velho Júnior

A abertura e aula inaugural do curso foram transmitidas ao vivo. Assista clicando nos links abaixo:

Mesa de abertura

Aula inaugural