Cuidado no atendimento às crianças com microcefalia

Fiocruz Brasília 14 de julho de 2017


Projeto capacitou mais de 7 mil profissionais de quatro regiões brasileiras para um atendimento humanizado a crianças e famílias

Após o surgimento dos casos de má formação associado ao zika vírus em 2015 e a determinação de emergência em saúde dado pela Organização Mundial de Saúde, em meio a tantas dúvidas, surgiu a necessidade de dar uma resposta às famílias dos bebês com microcefalia e um atendimento mais humanizado. O ZikaLab – Laboratórios de Formação do Trabalhador de Saúde no Contexto do zika vírus, foi criado para preparar, por meio de curso, as equipes de profissionais que trabalham no Sistema Único de Saúde.

O projeto utiliza a informação e a formação para melhoria no atendimento e acolhimento a gestantes e recém nascidos com microcefalia. É realizado pelo Instituto de Pesquisa e Apoio ao Desenvolvimento Social (IPADS) em parceria com o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), Unicef e Johnson & Johnson.

Os cursos foram realizados nas quatro regiões mais afetadas pelo zika vírus: Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste, com foco na região Nordeste por conta da prevalência de casos. Na primeira fase, participaram profissionais que atuam em redes de atenção primária, centros de referência, ambulatórios, hospitais, vigilâncias e na gestão. Médicos, psicólogos, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, bioquímicos e pedagogos de diversas instituições foram capacitados para se tornarem multiplicadores. Em seguida, compartilharam o conhecimento adquirido durante a formação com outros profissionais, como técnicos e auxiliares de enfermagem, agentes comunitários de saúde e agentes de endemias.

“Os profissionais de saúde são protagonistas nas propostas de atenção à saúde, neste sentido o zika se mostrava muito complexo pelas graves consequências na geração de recém nascidos. Além desta novidade, as arboviroses são um problema crônico que não conseguimos superar”, explica Thiago Trapé, coordenador geral do projeto e membro do IPADS.

Ao todo mais de 7 mil profissionais foram capacitados, abrangendo 37 municípios de 6 estados: Pernambuco, Bahia, Paraíba, Minas Gerais, Tocantins e Mato Grosso.  A formação foi construída de forma democrática e flexível, cada município adaptou o curso de acordo com a realidade vivida pela comunidade. O perfil dos participantes e a quantidade de vagas foram escolhidos pelos gestores locais. De acordo com Thiago, a formação forneceu subsídios para os profissionais intervirem com métodos mais atuais e eficazes, que possibilitaram uma série de mudanças nas práticas clínicas. Outro resultado foi a organização de redes de apoio à criança com deficiência, parcerias entre a rede de saúde e universidades, o apoio a análise de dados epidemiológicos locais, a produção de conhecimento e a ativação de espaços de educação permanente com foco nas arboviroses.

O curso semipresencial teve duração de 60h, com atividades de intervenção nos locais de trabalho de cada profissional e discussão de casos. Processos de gestão, compreensão sobre a distribuição de casas, formas de contágio, prevenção, diagnóstico, monitoramento, saúde da mulher e da criança e intervenção precoce em crianças com síndrome de infecção congênita pelo vírus zika foram alguns temas abordados durante a formação.

Como resultado do curso, foi elaborado o Manual técnico de formação do trabalhador de saúde no contexto do vírus zika, por profissionais com conhecimento nas diversas áreas de saúde, com informações e experiências de mães no cuidado às crianças com microcefalia, em linguagem clara e objetiva. O material foi utilizado durante o curso e está disponível para download. O projeto conta com página no Facebook e canal no Youtube, onde divulga vídeos, relatos e descobertas sobre o tema.
 

Atualmente o ZikaLab está em fase de análise para implementação da segunda edição do curso, prevista para o próximo semestre. Thiago afirma que o projeto pretende alcançar outros municípios de médio e pequeno porte das regiões mais afetadas.

O projeto teve início no ano passado, depois de reuniões realizadas com o Ministério da Saúde, que apontou o tema como necessário para uma intervenção. O objetivo era distribuir o conhecimento sobre o vírus e preparar, por meio de cursos, os profissionais de saúde para lidar com o desafio de organização da rede assistencial a práticas de cuidado voltada aos recém nascidos.

A proposta é analisar experiências, levando em consideração diferentes realidade locais, permitindo novos desenhos, conformações e até práticas metodológicas distintas. Por isso a escolha do nome, que se refere à metodologia utilizada. O coordenador do projeto cita como exemplo o caso de Recife-PE, em que o grupo de docentes em parceria com áreas técnicas da Secretaria Municipal de Saúde viu a necessidade de ampliar a carga horária das atividades de dispersão e utilizou diferentes ferramentas de aprendizagem, ampliando as rodas de conversa, discussão de casos e produção coletiva de material para estimulação precoce.

Para Trapé, o projeto foi inovador na tomada de decisão, por iniciar com um modelo de gestão ágil e oportuno, que envolveu entes governamentais, terceiro setor e iniciativa privada. “A história da saúde pública brasileira nos mostra que os processos de inovação surgem em momentos de crises. Com a explosão dos casos de Zika e suas consequências foram muitas as novidades criadas, desde estudos clínicos até propostas de intervenção inovadoras”, afirmou.

No entanto, segundo ele, a informação não chegava a tempo para as pessoas e faltava um filtro técnico para os diversos estudos que surgiam sem o rigor científico necessário e outros importantes que eram publicados em periódicos internacionais que não chegavam aos profissionais de saúde, pela questão do idioma e linguagem técnica. “Neste sentido o Zikalab articulou conhecimento técnico para os principais interessados, realizou apoio a gestão e a assistência através de ações de educação, divulgou conteúdos em linguagem acessível e formou uma frente ampla de troca de experiências e informação que valoriza as experiências locais e induzem um modelo de cuidado integral, respeitando as particularidades loco-regionais”, explicou.

O ZikaLab será apresentado durante a Feira de Soluções para a Saúde, que será realizada entre os dias 8 e 10 de agosto no Cimatec em Salvador, Bahia. Clique aqui  para conhecer o site da Feira, que traz as experiências já cadastradas e fazer sua inscrição. 

*Fotos: reprodução