Covid-19: volta às aulas e assistência social foram temas de live

Fernanda Marques 22 de julho de 2020


Fernanda Marques

 

O Curso Nacional de Saúde Mental e Atenção Psicossocial na Covid-19 já terminou, mas o sucesso foi tanto que, a pedido dos próprios alunos, mais quatro aulas extras – e abertas a todos os interessados – foram programadas. Duas delas foram realizadas nesta terça (21/7) e abordaram os temas “Sistema Único de Assistência Social (SUAS) na Covid-19” e “Volta às aulas e Covid-19: perspectivas e possibilidades”. Nesta quarta (22/7), das 15h às 17h, os temas em tela são “Cuidados à população ribeirinha na Covid-19” e “Cuidado à população negra na Covid-19”. As aulas são transmitidas ao vivo no YouTube da Fiocruz Brasília, onde, depois, também ficam disponíveis para acesso. As aulas desta terça (21/7) já tiveram mais de 3 mil visualizações, e foram acompanhadas por internautas de todo o país, como Belém (PA), São José dos Quatro Marcos (MT) e Sobral (CE).

 

Sistema Único de Assistência Social (SUAS) na Covid-19

Na aula, foram abordadas recomendações a trabalhadores e gestores do SUAS, conforme cartilha da série Saúde Mental e Atenção Psicossocial na Pandemia Covid-19, que pode ser acessada aqui. Os professores comentaram como o trabalho da proteção social se intensifica e se torna ainda mais complexo no contexto da pandemia, e destacaram a importância da participação social. “O mapeamento dos grupos vulnerabilizados é fundamental, mas não se trata apenas de mapear. É preciso dar visibilidade às necessidades e demandas desses grupos, e atendê-las, considerando que a defesa dos direitos é construída junto com as populações”, disse a psicóloga Rozana Maria da Fonseca. A aula também abordou o impacto da pandemia nos serviços de acolhimento institucional a crianças e adolescentes, destacando a necessária garantia do acesso à educação.

 

Volta às aulas e Covid-19: perspectivas e possibilidades

De acordo com a psicóloga Ilana Katz, “quando ‘a escola é escola’, ela alcança como efeito a produção e a promoção da saúde”. Segundo ela, pensar a volta às aulas, neste momento, não é organizar a escola para ela realizar os fins da saúde. “Não é possível considerar que as crianças estarão na escola cumprindo, integralmente, os protocolos sanitários. Alguém consegue imaginar uma criança caindo no chão, machucando o joelho e a professora evitando o contato físico? Ou uma criança brincando com outra sem dividir o brinquedo?”, provocou Ilana.

 

Nesse sentido, o objetivo da aula foi “compartilhar estratégias relativas ao retorno às aulas, quando isso for, de fato, seguro”, conforme ressaltou a professora Biancha Angelucci, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). Segundo Biancha, não se trata de oferecer modelos prontos, mas de compartilhar repertórios a partir dos quais se desenvolvam outras estratégias e atividades, em conjunto com a comunidade escolar.

 

A primeira orientação da aula foi, justamente, no sentido de construir encontros comunitários, onde o trabalho de retorno às aulas possa ser informado e pactuado com todos: escolas, unidades básicas de saúde, lideranças comunitárias, alunos e seus familiares, grêmios e associações de amigos do bairro, entre outros. As soluções assim construídas têm maior impacto porque são próprias de cada local. “Os encontros precisam ser realizados em espaço aberto, como medida sanitária, mas também como marco da reocupação do espaço público e da restituição da vida comunitária”, afirmou Ilana.

 

Outra orientação foi lembrar que nem todos poderão voltar às aulas no mesmo momento, como os alunos com doenças crônicas. Portanto, é necessário criar condições efetivas para a inclusão de todos. “Quem não voltar em um primeiro momento não deixa de fazer parte e precisa se sentir presente, contemplado. E é preciso reconhecer que os ausentes fazem falta”, disse a pedagoga Andreia de Jesus. As crianças e os jovens que ainda estiverem em casa devem ser lembrados com seus nomes mantidos nas atividades, diferentes formas de presença na chamada, inserção de fotos, trocas de cartas e vídeos com os colegas, além dos informes sistemáticos sobre as atividades escolares. “Não podemos naturalizar os impedimentos e os processos de exclusão. Essa é uma possível consequência da pandemia: recrudescer o preconceito e a ideia de que pessoas com deficiência ou agravos crônicos de saúde não precisam estar na escola”, alertou Biancha.

 

A professora da USP lembrou também a manutenção da memória das pessoas que a comunidade escolar perdeu durante a pandemia, por meio de homenagens na web ou nas paredes da escola, por exemplo. “Causa adoecimento a gente ser forçado a esquecer o que aconteceu e, simplesmente, seguir em frente”, ponderou.

 

O momento de retorno às aulas é também uma oportunidade de refletir sobre a ocupação da escola. “Isso é um grande desafio porque a escola também aprendeu a viver de forma confinada. E não poderemos mais nos manter restritos dentro da sala de aula”, afirmou Andreia. Outra oportunidade é o replanejamento do currículo, com espaços para que todos possam partilhar as aprendizagens que realizaram durante a pandemia. “São feitas aprendizagens nas experiências vividas. Não se deve negar a pandemia como um período de produção de conhecimento sobre química, biologia, biossegurança, literatura, processos de cuidado e modos de viver. Isso precisa ser incorporado ao planejamento de cada um dos componentes curriculares, com utilização de metodologias participativas”, acrescentou Biancha.

 

Para Ilana, a volta às aulas não será uma tarefa “pequena”, e comparou a situação ao “retorno de um mergulho profundo”, quando se fazem necessárias “estratégias de descompressão”. Segundo a psicóloga, é preciso descomprimir e “futurar” com os estudantes. “Como a gente vai pensar o futuro a partir daqui? Como é a realidade que a gente quer viver a partir dessa experiência?”, provocou novamente.

 

Clique aqui para assistir as aulas na íntegra