Covid-19: cartilha e aula aberta abordam saúde mental de grupos vulnerabilizados

Fernanda Marques 23 de julho de 2020


Fernanda Marques

 

Nesta quarta (22/7), foram realizadas as duas últimas aulas abertas do Curso de Atualização em Saúde Mental e Atenção Psicossocial na Covid-19, cujos temas foram “Cuidado à População Ribeirinha na Covid-19” e “Cuidado à População Negra na Covid-19”. Ambas já estão disponíveis no YouTube da Fiocruz Brasília. Outra novidade é o lançamento do documento “Sistema Único de Assistência Social (SUAS) na Covid-19: proteção social a grupos vulnerabilizados“, da série de cartilhas “Saúde Mental e Atenção Psicossocial na Pandemia Covid-19“, parte integrante do Curso, juntamente com as videoaulas.

 

A nova publicação destaca como o cenário de pandemia tem agravado as consequências das desigualdades sociais. “Essa leitura crítica e cuidadosa é fundamental para que os profissionais do SUAS identifiquem grupos populacionais que se encontram vulnerabilizados, em situação de risco ou violação de direitos”, afirmam os autores. O objetivo é instrumentalizar as equipes do SUAS no que se refere à saúde mental e à atenção psicossocial. “Esse material aborda, especificamente, a população negra, as pessoas com deficiência, a população LGBTI+ e os povos e as comunidades tradicionais, no sentido de apresentar ações possíveis no âmbito do SUAS para o enfrentamento da pandemia e a garantia dos direitos desses grupos”.

 

Cuidado à População Ribeirinha na Covid-19

A pesquisadora Michele Rocha El Kadri, da Fiocruz Amazônia, foi uma das convidadas e destacou que a Amazônia é bastante heterogênea, com territórios indígenas, quilombolas, de fronteira, urbanos e metropolitanos. “Na Amazônia das águas, ribeirinha, o rio comanda a vida”, disse. Entretanto, a ideia da região isolada e, portanto, protegida da Covid-19 é, na verdade, um mito. “A população ribeirinha precisa fazer deslocamentos frequentes para as sedes urbanas”, lembrou a pesquisadora. Tanto que a medida de restrição à circulação de barcos, com o intuito de conter a disseminação do novo coronavírus, teve forte impacto nas comunidades, que dependem desse transporte para acessar mantimentos, benefícios sociais e outros serviços. Contudo, os deslocamentos pelo rio têm um tempo próprio, e isso também é fator de preocupação diante da Covid-19, porque a doença pode se agravar rapidamente.

 

“Quando alguém contrai a doença e precisa se deslocar para ter assistência, a família fica aflita para ter notícias, até porque são lugares onde a internet é bastante precária”, afirmou Michele, ressaltando que estratégias para estabelecer um elo entre paciente e família contribui muito para lidar com a aflição e o estresse causados por essa situação. As restrições ao contato físico afetaram também as práticas tradicionais. “A prática dos benzedores é um cuidado milenar que tem uma importância muito grande na comunidade”, comentou durante a live, que contou, ainda, com a participação da psiquiatra Erika Pellegrino, que atua em Altamira (PA). 

 

Cuidado à População Negra na Covid-19

Para a quilombola e psicóloga Samilly Valadares Soares, não se pode pensar a saúde com e para as populações negra, quilombola e ribeirinha de maneira descontextualizada. “É preciso considerar três pontos: identidade, ancestralidade e territorialidade, que impulsionam o nosso modo ser e estar no mundo”, disse.

 

Ela trouxe para o debate a questão do racismo, “que estrutura a nossa sociedade, fere, adoece, viola e mata simbólica, psicológica e fisicamente, todos os dias”. E destacou também as resistências. “Temos que romper com a ideia de que esses sujeitos estão esperando por ajuda, na passividade. Eles são protagonistas de seus processos e de suas histórias, e resistem desde sempre”, afirmou. Além de Samilly, participou da live a médica de família e comunidade Rita Helena Borret.