“Conhecimento é um dos eixos transformadores da sociedade”, afirma economista

Fiocruz Brasília 27 de março de 2018


“A economia do conhecimento e o bem estar da população é o eixo transformador da realidade”. A afirmação foi feita pelo economista e professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Ladislau Dowbor, durante conferência da Aula Magna da Escola Fiocruz de Governo (EFG), na manhã desta terça-feira (27/3). 

Dowbor apontou o investimento na transformação como uma batalha fundamental. Educadores, estudantes e prestadores de serviço da área da saúde são os grandes agentes transformadores, e o eixo do conhecimento e a democratização das informações são vitais. 

Para ampliar o acesso e compreensão da informação, Ladislau ressaltou que os produtores de informação, como cientistas, pesquisadores, docentes e discentes precisam adequar a linguagem, sair da ‘torre de marfim’ e entender a realidade do território em que estão inseridos. No século passado, o poder era de quem controlava as máquinas. Hoje é de quem tem o conhecimento. O professor defende o acesso aberto, pois “generalizar o conhecimento no mundo a fora não o tira de quem produziu”.

Ele defende ainda o enraizamento da universidade no território e a mudança cultural das universidades, para que o conhecimento não fique restrito à comunidade acadêmica, mas circule e chegue a todos.
De acordo com o economista, a média mensal mundial de rendimentos resulta em mais de 11 mil reais por mês (em bens e serviços) para uma família de quatro pessoas, o que daria para todos viverem bem. E o Brasil também está nessa média mundial. “Nosso problema não é econômico, é de governança. A governança é a gestão pública com sentido integrado, que abre caminhos inovadores e essenciais”, completou. Dowbor apontou ainda as inversões dos significados de investimento e gasto. “No Brasil, quando a gente faz saúde, é gasto. No resto do mundo, é investimento”.

Como solução para a crise, Ladislau destaca as políticas sociais, que movimentam a atividade econômica, aumentam a demanda, geram impostos sobre a produção e ainda produzem receita. De acordo com ele, foi investindo nas políticas sociais que a Coreia do Sul e alguns países da Europa saíram da crise. “Nós sabemos o que fazer e temos recursos para isso, mas o dinheiro está nos paraísos fiscais”.

Desafios
A economia mudou e o mundo está mudando. Foram apontados três desafios para a sociedade do conhecimento: ambiental, social e financeiro. O professor afirma que é preciso valorizar o compartilhamento de informações, a conectividade e a organização em rede. O peso maior da reestruturação econômica está nas políticas sociais (cultura, saúde, educação, segurança e lazer), não mais na indústria e agricultura, como antigamente. A educação, cultura e segurança no Brasil hoje corresponde a mais de 40% do PIB do Brasil.

Para o economista, governar adequadamente com os recursos financeiros que o país já tem é vital. Ele afirma que o setor financeiro não é uma área, é o direito de ter dinheiro decente para saúde, para educação e segurança, o que permite o desenvolvimento de outros setores e uma vida digna. O professor destaca que é preciso aproveitar a capacidade transformadora da sociedade. “O não acesso à informação priva as pessoas de chegarem a outros serviços, como a saúde. Ela não sabe onde tem um atendimento de que ela necessita”, exemplifica. 

Ele defende que toda a população aprenda como funciona a moeda, a lógica de organização social e a estruturação de interesses, pois tudo isso influencia a tomada de decisões e dá dimensão de tudo o que se faz no mundo.

Os países da Europa foram utilizados como exemplo pelo fato de terem se urbanizado um século antes do Brasil, e se encontrarem na organização urbana a articulação das diversas políticas sociais para gerar o bem-estar das famílias. “O fato de a gente evoluir para o sistema social, da conduta das políticas sociais, como saúde, educação, segurança, riqueza cultural de uma cidade serem o principal eixo econômico, muda o nosso conceito de governança”, explica. 

A Alemanha também foi citada como exemplo de recursos usados para o controle das próprias famílias da cidade e vai servir para melhorar o ambiente, saúde, lazer e segurança do território. O nível de tributação é maior, quase 40%, mas em compensação é repassado quase integralmente para a cidade. Para o professor, a democracia econômica é que faz o sistema funcionar.  

Confira a palestra completa na página da Fiocruz Brasília no Facebook e a entrevista com o economista Ladislau Dawbor
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