Comunidades de Aprendizagem: reflexão-ação para transformar realidades

Fernanda Marques 16 de março de 2022


Cada um tem seu jeito de colocar a mão na massa. Uns acrescentam mais sal, outros menos. As fôrmas utilizadas podem ser diferentes. Mas o pão – ou o resultado final – pode ser partilhado por todos, respeitadas as individualidades. Com essa metáfora, proposta pela psicóloga Sandra Viana, consultora do Programa de Estudos e Atenção às Dependências Químicas (Prodequi/UnB), foi aberto ontem (15/3) o primeiro momento síncrono das Comunidades de Aprendizagem da Mostra da Escola de Governo Fiocruz-Brasília. As Comunidades são espaços de diálogo onde os interessados em temas comuns compartilham experiências e reflexões, numa perspectiva cooperativa de construção de conhecimentos.

 

Na noite desta terça-feira, das 18h30 às 20h30, o encontro virtual, na plataforma Zoom, reuniu cerca de 70 pessoas, integrantes das Comunidades 1, 2 e 3, que têm como temas, respectivamente: Entre o prescrito e o vivido – saúde e proteção no currículo escolar: o que temos e o que queremos?; Protagonismo juvenil e cidadania: tessituras de redes intersetoriais de saúde e de proteção nos territórios; e Saúde pública de qualidade para cuidar bem das pessoas: direito do povo brasileiro. Desde a semana passada os integrantes das Comunidades interagem por meio de um fórum no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) da EGF-Brasília. Ontem, tiveram a oportunidade de estreitar ainda mais as trocas de ideias e saberes.

 

Conforme explicou a professora da EGF-Brasília e coordenadora da Mostra, Tatiana Novais, a metodologia das Comunidades de Aprendizagem se constitui a partir das relações, do respeito, dos objetivos comuns, do aprender e fazer juntos(as), e do celebrar. “Ninguém não sabe nada, ninguém sabe tudo. É o que torna tão importante o construir junto em comunidade”, destacou.

 

Após o acolhimento inicial, em um mesmo ambiente virtual, os participantes se reuniram nas salas de suas respectivas Comunidades. Várias das Comunidades da Mostra, como a 1 e a 2, foram inspiradas no Curso Saúde e Segurança na Escola  e acompanham a concepção do Curso. A Comunidade 1 tem dialogado sobre as potencialidades e os desafios de integrar a promoção da saúde no currículo escolar e no projeto político-pedagógico, compartilhando experiências centradas no desenvolvimento e na saúde integral do educando, e destacando a importância de projetos intersetoriais. Já a Comunidade 2 tem debatido experiências de mobilização de estudantes no que se refere à defesa dos direitos e à realização de projetos e práticas de protagonismo juvenil no contexto da escola e do território.

 

“O encontro síncrono confirmou a potência das Comunidades de Aprendizagem no âmbito da Mostra e para além dela. Foi uma oportunidade de ampliar interações e circular a palavra entre os participantes, em torno de uma temática comum, num clima acolhedor e convidativo. Palavras-sementes estão sendo lançadas para futuros que estamos cocriando”, afirmou a pedagoga Luciana Leite, integrante do Prodequi/UnB e facilitadora da Comunidade 1.

 

Cuidar bem das pessoas

Para a Comunidade 3, foi escolhido o mesmo tema da 15ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 2015. Reunindo uma pluralidade de pessoas, desde graduandos(as) até formados(as) com mais de 30 anos de experiência no SUS, com atuação em várias áreas da saúde, incluindo egressos de diversos cursos da EGF-Brasília e de diferentes lugares do Brasil, esta Comunidade, em seu momento síncrono, compartilhou experiências relacionadas às Conferências de Saúde, às práticas integrativas em saúde e à implantação de hortos biodinâmicos de plantas medicinais.

 

A pesquisadora da Fiocruz Brasília e ex-presidente do Conselho Nacional de Saúde, Maria do Socorro de Souza, contou um pouco da história das Conferências e falou da importância da mobilização e dos movimentos populares, em especial para o enfrentamento de contextos de sub e desfinanciamento do SUS, e desmonte da democracia.

 

A psicóloga Doralice Gomes, da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, trouxe sua experiência com a terapia comunitária on-line junto a escolas públicas do Gama (DF) e à UnB, valorizando a escuta sensível, as trocas, a reflexão sobre si, os afetos, as questões culturais e a linguagem direta e atrativa, sem preconceitos. “Quando o estudante está bem com a sua saúde mental, ele tem um desenvolvimento e um rendimento melhor. É algo aparentemente simples, mas não é simplista, então é algo de interesse para as escolas e universidades. E não precisa ser psicólogo; os agentes comunitários têm muita habilidade para conduzir a terapia comunitária”, disse.

 

Outras participantes da Comunidade contribuíram com seus depoimentos sobre o assunto. “Participei das rodas de terapia comunitária da UnB durante a pandemia e fez toda a diferença para mim. Perceber que eu não estava sozinha foi muito importante”, contou Ana Heloísa, enfermeira egressa da UnB e atualmente residente da Fiocruz Brasília. “Projetos assim são inéditos viáveis”, escreveu no chat Patrícia Pereira, que trabalhou nove anos da Estratégia Saúde da Família em Goiânia (GO).

 

A experiência do cultivo de plantas medicinais em sistema de agrofloresta foi compartilhada pela médica veterinária e agricultora Ximena Moreno. Ela abordou desde a geração de renda extra para famílias agricultoras até o aumento do uso da biodiversidade nos serviços públicos de saúde, no âmbito do Curso de Especialização e Livre em Cultivo Biodinâmico de Plantas Medicinais na Promoção de Territórios Saudáveis e Sustentáveis no Distrito Federal. “Temos visto crianças e jovens adoecidos pelo excesso do uso de eletrônicos, então seria importante levar as agroflorestas também para espaços da educação, além dos da saúde”, avaliou Ximena durante as trocas na Comunidade de Aprendizagem.

 

Os momentos assíncronos das Comunidades ocorrem até 22 de março e funcionam também como janelas abertas para expandir, em redes cooperativas, os processos educativos da EGF-Brasília em variados formatos.

 

Outras Comunidades de Aprendizagens da I Mostra EGF-Brasília farão seus encontros síncronos nesta quarta e quinta, 16 e 17 de março, das 18h30 às 20h30, pela plataforma Zoom. Para participar, acesse bit.ly/comunidades-mostra

 

Todas as informações sobre a I Mostra EGF-Brasília em www.even3.com.br/mostraescolafiocruzbsb