Compartilhamento, descentralização e acessibilidade como pilares da educação aberta

Fiocruz Brasília 23 de outubro de 2017


Nesta semana foram celebrados os 25 anos da internet no Brasil. E a Escola Fiocruz de Governo promoveu na quinta-feira, 19/10, um bate papo sobre democratização das tecnologias da informação, ética hacker, educação e saúde. A palavra hacker pode trazer à mente de quem ouve algo pejorativo e negativo, como os episódios de roubo de informações online.  Mas o movimento pautado na ética hacker tem em sua base a proposta de facilitar o acesso a informações e recursos computacionais, por meio da elaboração de softwares gratuitos e acesso aberto, em uma lógica oposta à privatização da informação e das comunicações.

O professor da Universidade Federal da Bahia, Nelson de Luca Pretto, e o diretor do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), Rodrigo Murtinho, foram os convidados para a atividade.  Pretto, que já coordenou o comitê gestor da internet na Bahia, provocou os participantes ao questionar a lógica educacional vigente, muito centrada na organização, na palavra escrita, na objetividade, com grades curriculares rígidas e que permitem pouca exploração do potencial criativo de alunos e professores.

Ele apresentou os prejuízos do que considera uma ditadura dos aplicativos, que funcionam como jardins cercados por muros, onde só conversamos com os que pensam igual a nós. E a escola, segundo o pesquisador, não pode continuar sendo um funil que vai transformar os diferentes em um igual. Ela é espaço de gerar a diferença, e não a repetição, o que só é possível com cada vez mais gente compartilhando o seu conhecimento e aprendendo a dialogar como diferente.  

 –  Você é o que você compartilha. As escolas precisam proporcionar cada vez mais participação, mais transparência, mais colaboração, e aproveitar possibilidade de propagação e diálogo de informações que a internet possibilita, avançando do modelo ultrapassado de professor como rede de distribuição de informação mas para a abundância de informação, afirmou Pretto.

E prosseguiu dizendo “Não é fácil criar e produzir, é mais fácil consumir o que foi produzido. Este é o desafio das “educações”, agir para uma educação plural. O mar aberto da internet é fundamental para este avanço dos dados abertos e acesso aberto”.  

Acesso aberto na Fiocruz

O diretor do Icict, Rodrigo Murtinho, apresentou como a Fiocruz tem trabalhado na perspectiva do acesso aberto e democratização das informações científicas. O Repositório Institucional Arca, existe desde 2011 e abriga hoje mais de 16 mil itens científicos, entre teses, dissertações e artigos produzidos por seus alunos e trabalhadores, bem como material audiovisual e fotografias. A Política de Acesso Aberto da Fiocruz foi institucionalizada em 2014, e hoje todas as suas revistas científicas estão disponíveis online, gratuitamente. Ele alertou que aos poucos tem se buscado mudar a cultura de se fazer pesquisa apresentando-a apenas para os pares (os outros pesquisadores), e que não basta só a portaria para se implementar a política. Então, foram criados organismos de governança para implementar esta política nos diferentes setores da Fiocruz, os Núcleos de Acesso Aberto ao Conhecimento, que atuam em colaboração com alunos e pesquisadores para garantir a inserção dos conteúdos no repositório Arca.

Ele ressaltou a importância de se pensar a informação e comunicação em saúde como direitos humanos, resgatando a história do direito à comunicação e informação, desde a Declaração Universal dos Direitos do Homem, em 1948, passando pelo relatório McBride, em 1980, que expôs a necessidade de se estabelecer uma nova ordem mundial da informação e comunicação, reconhecendo-as como direitos.

– Esses direitos são estruturantes nos processos sociais, e estratégicos para a defesa de qualquer direito, inclusive do direito a saúde. A própria construção do SUS está associada ao processo de redemocratização do país e reconhecimento de direitos, disse.  

A pesquisadora da Fiocruz Brasília, Francine Guizardi, ressaltou que é estratégico se discutir esse tema do movimento hacker, pois ele potencializa a construção de novos horizontes da educação, em modo colaborativo. Segundo ela, é importante transformar a educação e as relações em trono dos processos educacionais, que não são só distribuição de informação, mas compartilhamento de novos modos de vida, que respeitam a singularidade e individualidade, sem negar a coletividade.

O Mar Aberto é uma iniciativa da Escola Fiocruz de Governo que busca refletir sobre a educação em saúde em encontros mensais na Fiocruz Brasília.  “Educação, Saúde, Tecnologias em Mar Aberto” é uma proposta da Fiocruz Brasília, realizada pela Escola Fiocruz de Governo (EFG) por meio do Laboratório de Educação, Mediações Tecnológicas e Transdisciplinaridade em Saúde (LEMTES) e Núcleo de Educação à Distância (NEAD).  A atividade também é uma disciplina do Mestrado Profissional em Políticas Públicas em Saúde, da Fiocruz Brasília. 

Os próximos temas serão “Ciência, Educação e Tecnologias Abertas e Colaborativas”, no dia 09 de novembro, com Sarita Albagli, do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict) e o diretor do Laboratório de Educação Aberta, Inovação Cidadâ e Tecnologias Livres (Ubalab). A última edição está marcada para o dia 05 de dezembro, com o tema “Educação, Comunicação, Cultura e Capitalismo Contemporâneo”, com Tel Amiel, do Núcleo de Informática Aplicada à Educação da Universidade de Campinas e o professor da Universidade Federal do ABC, Sérgio Amadeu da Silveira

*Fotos: Sérgio Velho Junior