Começa a Feira de Soluções para a Saúde

Fiocruz Brasília 8 de agosto de 2017


Evento promovido pela Fiocruz já tem mais de  650  inscritos  

As soluções para a saúde podem surgir de dentro de um laboratório de pesquisa, a partir da observação de um serviço de saúde ou mesmo, por meio da experiência de uma pessoa ou família que convive com determinada doença. E se pesquisadores atuam em conjunto com os serviços de saúde e movimentos sociais, as iniciativas de sucesso podem se multiplicar para outras regiões e atingir mais pessoas. Este é um dos propósitos da Feira de Soluções para a Saúde, que vai de hoje até quinta-feira, 10 de agosto, em Salvador-BA. 

“Toda e cada criança com deficiência deve ter seu direito garantido e o direito a inclusão”, afirmou a coordenadora do Programa Sobrevivência e Desenvolvimento Infantil e HIV/AIDS do UNICEF Brasil, Cristina Albuquerque, durante a mesa de abertura da Feira.  

A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, chamou a atenção para a importância da pesquisa ser associada aos serviços de saúde e movimentos sociais. Em depoimento gravado em vídeo, ela lembrou como os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS) foi importante para estabelecer a relação entre Zika e microcefalia, e trouxe a discussão sobre o poder que a sociedade tem no enfrentamento de problemas como este. Veja aqui o vídeo

O governador do Maranhão, Flávio Dino, também ressaltou a experiência do SUS em um centro  para o cuidado das crianças com microcefalia. A Casa Ninar é anexa  ao hospital Juvêncio Matos, que já realizou mais de 30 mil atendimentos e uma casa de apoio às famílias. Esta casa é um espaço de cuidado e formação profissional, onde a cada semana, 15 diferentes famílias e profissionais dos municípios recebem atendimento e capacitação para o cuidado das crianças com microcefalia. Depois da estadia, famílias e profissionais  voltam para seus serviços do SUS e replicam o conhecimento apreendido, no local que antes era subutilizado, servia apenas de casa de veraneio para os ex-governadores. Confira

Já o estado da Bahia tem orçamento de cem milhões de reais para pesquisa na área das arboviroses e o  governador Rui Costa anunciou que o recurso não é restrito aos estados baianos, convocando pesquisadores de outros estados da federação a submeterem  propostas com o tema. 

A falta de acesso a saneamento básico nas periferias urbanas, com coleta de lixo deficiente, principalmente no norte e nordeste, são  realidades  que afetam as mulheres, crianças e suas famílias em locais onde se tem menos condições de se prevenir o Zika. “A Feira é oportunidade para se discutir planejamento urbano e ampliação do acesso à informação em saúde”, afirmou o representante do Fundo de Populações das Nações Unidas Jaime Nadal.

A mesa de abertura contou ainda com a presença de Joana Passos, representando as mães dos portadores de síndrome congênita do Zika vírus, o embaixador do Canadá no Brasil, Riccardo Savone, o secretário estadual de desenvolvimento econômico Jacques Wagner, o vice-presidente de ambiente, assistência e promoção da saúde da Fiocruz Marcos Antônio Carneiro Menezes, o diretor de tecnologia e inovação do Senai-Bahia, Leone Peter, o secretário estadual de saúde Fabio Vilas Boas, o chefe de gabinete da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Leonardo Paiva. 

O vice diretor da Fiocruz Brasília e coordenador da Feira de Soluções para a Saúde , Wagner Martins, apresentou a plataforma de vigilância de longo prazo do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde da Fiocruz Bahia (CIDACS) idealizada pelo pesquisador da Fiocruz Bahia Maurício Barreto. Segundo ele, a proposta de reunir soluções de serviços de saúde, industriais e sociais em um mesmo evento é uma das estratégias para se montar um banco de dados de soluções em saúde. Este formato de feira pode, no futuro, ser aplicado a outras áreas da saúde. 

Translação do conhecimento na saúde pública 

“Há circunstâncias  vulneráveis e difíceis de se lidar com o Zika virus. A microcefalia é apenas a ponta do iceberg”, alertou a pesquisadora da Fiocruz Pernambuco Celina Turchi, durante sua palestra de abertura da Feira de Soluções para a Saúde. 

Ela explicou o que é translação do conhecimento na saúde pública, tema de sua palestra, a partir do histórico da descoberta do Zika vírus e sua incidência no nosso país, já que as pesquisas durante e após a epidemia foram realizadas em um trabalho conjunto dos pesquisadores, serviços de saúde e famílias.  

O Zika vírus foi observado pela primeira vez há 70 anos, e  era considerado exótico pelos pesquisadores, identificado como zoonose de animal, sendo o homem considerado um fim de linha, ou seja, um hospedeiro que não transmite o vírus. Nas principais referências bibliográficas da área de virologia, era descrito como vírus insignificante e sem grande importância, até o fim de 2015, quando médicos de Pernambuco observaram o nascimento de bebês com perímetro encefálico reduzido, e em grande número de casos. 

Antes, nasciam uma ou duas crianças com microcefalia por ano, em Recife. No fim de 2015, em 15 dias, se observaram mais de 20 casos. O Ministério da Saúde foi acionado mas os resultados de testagem para outras infecções já conhecidas, era negativo. Ao observar casos também em outros estados, foi declarada a emergência  de saúde pública,  que durou por 18 meses, até maio de 2017. 

Celina coordenou o primeiro estudo que observou a relação entre o vírus Zika e a microcefalia. A pesquisa começou em janeiro de 2016, nos oito maiores hospitais públicos da cidade de Recife, com equipes que comparavam o perímetro cefálico dos bebês que nasceram ali, verificando os que nasciam com tamanho menor que o esperado.  Veja o estudo 

Turchi explicou que a microcefalia  não é uma doença, mas um achado clínico caracterizado por crânio menor que o natural, mas  se desdobra em algumas outras enfermidades. As crianças podem ter comprometimento auditivo, visual, epilepsia, baixo peso e outras desordens, observadas a partir do acompanhamento dessas crianças . Segundo a pesquisadora, não  se tem dimensão do espectro total desta síndrome congênita do Zika vírus. 

 

Promovida  pela Fiocruz Brasília e pelo  Cidacs a realização da Feira conta com parceiros nacionais e internacionais e vai até quinta-feira, 10 de agosto, no Senai/Cimatec em Salvador- BA. 

 

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Clique aqui para ver as imagens da Feira de Soluções para a Saúde, produzidas pelo fotógrafo Sérgio Velho.