Cidadania é tema de palestra de professor da Universidade de Porto na III Jorneduc

Fiocruz Brasília 6 de setembro de 2018


“Vivemos numa sociedade ‘Midas’, onde o capitalismo tudo coisifica e constituiu uma avalanche predatória sobre todos os obstáculos em seu caminho”. A afirmação é do professor Cândido Gomes da Universidade Portucalense Infante D. Henrique de Porto. Ele participou ontem, (05/09), na Fiocruz Brasília, da mesa redonda Cidadania e Reformas Educacionais: implicações para a democracia na III Jorneduc – Jornada Ibero-Americana de Pesquisas em Políticas Educacionais e Experiências Interdisciplinares na Educação, junto com a professora Marise Ramos, da Escola Politécnica Joaquim Venâncio da Fiocruz no Rio de Janeiro. 

A lenda grega ilustra ou alerta para o alcance da ganância humana. O Rei Midas “ganhou” dos deuses o dom de transformar em ouro tudo o que por ele fosse tocado. Ao tentar saciar sua fome transformou o pão e o vinho em ouro. Ficou desesperado ao perceber que não conseguiria se alimentar novamente. Sua filha Phoebe tentou socorrê-lo e, ao tocá-lo, transformou-se em uma estátua de ouro.

Que cidadania?, este foi o tema da palestra proferida pelo professor, que manifestou estar preocupado com como será a cidadania no futuro. Ele observou que a tecnologia e a globalização da economia avançaram, mas os estados permaneceram e continuam atuando como estados nacionais. Assim não pactuam soluções que importam ao planeta como a acidificação dos oceanos, o aumento da temperatura devido ao efeito estufa e muitos outros. 

 “Somos bilhões de pessoas interdependentes, mas isso não despertou nossa solidariedade. Ao contrário, os que batem à nossa porta não são bem recebidos. Tratamos os ‘estranhos’ com indiferença”, afirmou o professor. 

Para o pesquisador português, a lógica predominante é a de serem as pessoas “capital e/ou consumidores”. Os desafios epistemológicos de hoje são o rompimento/apagamento da fronteira entre o vivo e o artificial; a inteligência artificial; o surgimento de robôs com sentimentos e consciência e o homem posto a nu, o fim da intimidade em uma sociedade de rede. Observou ainda, que a gratuidade de um e-mail tem por trás a cessão de uma massa imensa de dados que passam a ser propriedade de empresas. As gigantes das redes estimam o valor anual de um internauta em milhares de dólares.   

O risco de individualização da aprendizagem, de criar interfaces entre o cérebro humano e a inteligência artificial onde se infiltrariam a aprendizagem de valores, consciência foi aventado por Gomes. Ele disse que empresas possuem recursos e investem em pesquisas mirabolantes e que existe um déficit mundial de professores. Por outro lado, os jovens classificam como chata e sem atrativos o atual modelo das escolas sendo necessário pensar como torná-la mais atrativa. E finalizou destacando que “ensinar cidadania não é só coisa de conversa de escola. O ensino da cidadania é pelo exemplo, conforme diz Platão”.