Ciclo de Debates destaca desafios na área de saúde, ambiente e sustentabilidade

Nathállia Gameiro 2 de abril de 2019


Nayane Taniguchi

 

Fiocruz Brasília sedia segunda edição do evento, realizado na última quarta-feira (27/3), com o lançamento da Coleção de Saúde, Ambiente e Sustentabilidade da Série Fiocruz – Documentos Institucionais

 

Propor uma rearticulação da agenda da Saúde, Ambiente e Sustentabilidade considerando o modelo de desenvolvimento atual do Brasil é um dos objetivos do 2º Ciclo de Debates sobre o tema, que reuniu gestores, pesquisadores, acadêmicos e representantes de instituições como Fiocruz, Ministério da Saúde, unidades regionais da Fiocruz – Ceará, Pernambuco e Brasília, Universidade Federal do Ceará (UFC) na última quarta-feira (27/3), na Fiocruz Brasília. O evento é promovido pela Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz (VPAAPS).

 

O vice-presidente da VPAAPS, Marco Meneses, que na abertura representou a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, ressaltou a relevância da agenda para a instituição e para a gestão, colocada como ponto importante na perspectiva de articulação institucional, e do trabalho com instituições, academia e movimentos sociais. Meneses enfatizou o lançamento da Coleção de Saúde, Ambiente e Sustentabilidade da Série Fiocruz – Documentos institucionais, que representa um acúmulo institucional da Fiocruz. “Essa agenda integra outras agendas da Fiocruz. O lançamento do Documento e a proposta de fazer o Ciclo de Debates é um momento muito especial da discussão das grandes dificuldades que estamos vivendo hoje no nosso país, de poder rearticular e articular essa agenda da área de saúde, ambiente e sustentabilidade com as propostas do modelo de desenvolvimento que está sendo colocado. Essa é a grande discussão”, explicou.

 

O coordenador da área de Saúde e Ambiente da VPAAPS e do evento, Guilherme Franco Netto, destacou que a publicação resulta de uma construção feita na Fiocruz “que respeitou a trajetória ao longo dos últimos 30 anos, de diversas áreas de conhecimento que compuseram essa coleção”. Enfatizou ainda que a publicação não é conclusiva. “A ideia é que a gente possa renovar essa coleção, e fazer com que outros fascículos sejam incluídos, como é o caso da agroecologia, da água, e outros que possam surgir como elementos importantes, para que possamos seguir na elaboração do nosso trabalho”.

 

A segunda edição do Ciclo de Debates propôs reflexões acerca do conceito ampliado da saúde, da importância do protagonismo da população, a participação social nos territórios para mudança e de uma atuação das instituições mais próxima nesses territórios para definição de políticas públicas, considerando as especificidades e necessidades de cada local e a diversidade que caracteriza o país. Entre outros temas, o 2º Ciclo compreendeu o debate a partir do olhar mais amplo sobre as epistemologias do Sul, ecologia positiva e vulnerabilidades, e determinação socioambiental da saúde na perspectiva do semiárido.

 

Entre os objetivos do evento, estão a atualização e expansão do conhecimento sobre questões relacionadas à saúde, ambiente e sustentabilidade na Fiocruz, a fim de propiciar uma discussão interdisciplinar entre as áreas temáticas (agrotóxico e saúde; biodiversidade e saúde; clima e saúde; grandes empreendimentos e saúde; saúde dos povos do campo, da floresta e água e saúde do trabalhador) que constituem a publicação da Coleção de Saúde, Ambiente e Sustentabilidade da Série Fiocruz – Documentos Institucionais. Os Ciclos de Debate proporcionam, ainda, a troca de experiências, reflexões e debates, em um momento em que se multiplicam os desafios para a área de saúde, ambiente e sustentabilidade.

 

Brumadinho (MG) e outros desastres
A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, ressaltou a importância da realização do Ciclo de Debates pela VPAAPS, e destacou o painel montado na entrada do evento, que retratou a situação de Brumadinho (MG) a partir de um recorte com notícias da tragédia, e de estudo divulgado pela Fiocruz que alertava a possibilidade de ocorrência de surtos de doenças como consequência do rompimento da barragem na grande Belo Horizonte, 11 dias após o desastre, em fevereiro de 2019. O risco de doenças teria como causa alterações no meio ambiente pelo impacto da lama que desceu do reservatório. “Nesse momento também estamos discutindo a solidariedade à Moçambique, também a Zimbábue e Maláui, países atingidos [por um ciclone recentemente], e que também coloca na pauta a questão dos chamados desastres naturais. Na verdade isso tem a construção humana, os vários fatores que impactam, e também o pós-desastre, aquilo que de uma maneira mais dramática ataca as pessoas que são o motivo principal de todo o nosso pensamento sobre Territórios Saudáveis e Sustentáveis, uma das linhas mestras do que foi discutido nesse Ciclo de Debates”, acrescentou.

Para Meneses, o desastre de Brumadinho levantou discussões importantes sobre o papel da articulação da saúde pública e de todo o papel que o Estado deve exercer nessa discussão de saúde e ambiente e os desastres. 

“Na Fiocruz, tivemos de imediato a criação de uma sala de situação integrada com o Ministério [da Saúde], com outras instituições, coordenada pela VPAAPS, mas também com a articulação com a Fiocruz Minas Gerais, que teve papel de destaque. Essa sala de situação gerou uma série de propostas, discussões, propiciou o encontro dos atores. Na sala de situação e em todas as ações que a Fiocruz têm feito nessa área, destaco, ainda, a relação da instituição com os movimentos sociais”, reforçou.

 

Programação
A abertura contou com a vice-diretora da Fiocruz Brasília, Denise Oliveira, que representou a diretora da instituição, Fabiana Damásio. Oliveira saudou o público e ressaltou a importância das discussões propostas pelo evento, e com o vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz, Marco Meneses. Segundo Guilherme Franco Netto, a ideia do 2º Ciclo de debates é poder fazer diálogos sobre temas de interesse da área de saúde, ambiente e sustentabilidade, “de forma que possam ser explorados aspectos teórico-conceituais, metodológicos e questões práticas”. A diversidade do público participantes também foi ressaltada pelo pesquisador, como aspecto importante para o desenvolvimento da proposta do Ciclo de Debates.

 

A programação contribuiu para a reflexão acerca dos temas Saúde e Ambiente na perspectiva da Saúde Coletiva, que abordou a relação entre ambiente e vigilância à saúde e apresentou o trabalho desempenhado pela Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde; e determinação socioambiental da saúde, com destaque para a realidade da região nordeste do país. No período da tarde, foram apresentadas as experiências da Fiocruz Brasília nos Territórios Saudáveis e Sustentáveis das regiões do cerrado e semiárido, a atuação da Fiocruz Ceará e o trabalho realizado pela Universidade Federal do Ceará, a partir da abordagem do tema Os olhos na saúde e ambiente dos Territórios. O coordenador da atividade, Guilherme Franco Netto, encerrou os trabalhos com uma breve síntese, e informou aos participantes que os debates da segunda edição irão compor um relatório sobre o Ciclo.

 

Ciclo de Debates
Contribuir na atualização da produção, disseminação e compartilhamento de conhecimentos e tecnologias em Saúde, Ambiente e Sustentabilidade, voltados para o fortalecimento e a consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS) e a promoção da saúde e da qualidade de vida da população brasileira é o objetivo do Ciclo de Debates de Saúde, Ambiente e Sustentabilidade. A Fiocruz Brasília sediou a segunda edição do evento, que será realizado nas outras três regiões do país – Nordeste, Sul e Norte. Em 2018, o olhar ampliado sobre questões relacionadas ao ambiente – o olhar da ciência, da arte e da filosofia e da área de ambiente na Fiocruz – nortearam as discussões do Ciclo foi realizado no Rio de Janeiro, na Fiocruz.

 

Os debates tem como características a integração dos diversos campos de atuação considerando as singularidades de cada área e articulações no contexto institucional, além da apresentação do acúmulo institucional do conjunto de conhecimentos neste campo de atuação, trazendo conteúdo e reflexão acumulada em cada tema abordado. Entre o público, estão pesquisadores envolvidos na elaboração dos documentos da Coleção, autores e colaboradores, e também interessados no estudo de questões relacionadas ao tema Saúde, Ambiente e Sustentabilidade. No contexto institucional, os Ciclos buscam integrar as unidades regionais na discussão do campo da saúde, ambiente e sustentabilidade e iniciar um processo de construção de uma Rede Integrada de Saúde, Ambiente e Sustentabilidade.