Atividade online marca 44 anos da Fiocruz Brasília

Mariella de Oliveira-Costa 29 de outubro de 2020


Mariella de Oliveira-Costa

 

Cartografia social, vigilância popular e cibercultura. Esses termos podem parecer estranhos à primeira vista, mas são os pilares do trabalho de residentes da Escola de Governo Fiocruz – Brasília em uma Unidade Básica de Saúde (UBS/SUS) localizada na região do Paranoá, a 20 quilômetros do centro da capital. Durante a roda de conversa que marcou os 44 anos da Fiocruz Brasília no Distrito Federal, realizada nesta quinta-feira (29/1o), o residente Roniélcio Ramos, do curso de Gestão em Políticas Públicas para a Saúde, apresentou como ele e outros residentes têm auxiliado os profissionais da saúde a se aproximarem da realidade da comunidade e do conhecimento popular que essa comunidade tem.

 

A vigilância popular em saúde está baseada na construção de uma relação mais próxima entre as instituições de ensino e pesquisa e a população. A cartografia social possibilita que os próprios membros da comunidade e usuários da UBS produzam mapas que descrevam a realidade de saúde da região. Já a cibercultura, termo cunhado pelo pesquisador Pierre Levy, expressa as relações entre as pessoas, mediadas pelos aparelhos eletrônicos, por meio da internet. A intervenção começa com o contato com lideranças comunitárias, seguido da criação de redes sociais específicas para a comunicação entre a comunidade e o serviço de saúde, o mapeamento do cotidiano do entorno da UBS e estratégias de atuação no território. “A proposta é criar um fluxo sustentável de informações a partir desses pilares, para que as pessoas entendam seu papel como agentes que observam e conhecem o lugar onde vivem e as questões que interferem na sua saúde, com relacionamento entre a comunidade, a UBS, a sociedade civil organizada e lideranças comunitárias”, afirmou Roniélcio.

 

Diferentes experiências capitaneadas por pesquisadores da Fiocruz Brasília também foram apresentadas.

 

A diretora da Escola de Governo Fiocruz – Brasília, Luciana Sepúlveda, apresentou o Qualis-APS, iniciativa da instituição em parceria com a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES/DF) e a Universidade de Brasília (UnB), com metas relacionadas à educação, ao planejamento, à avaliação e à comunicação. O Qualis-APS prevê a realização de oficinas com trabalhadores, gestores, usuários e especialistas para a construção dos padrões de qualidade no SUS no Distrito Federal, com diagnóstico da estrutura das UBS, avaliação de equipes e construção de planos de ação para cada equipe de saúde. Segundo Luciana, até o momento, mais de 400 profissionais da saúde participaram das rodas de conversa para a coleta de dados.

 

Durante a pandemia, foram solicitadas novas demandas para o Qualis-APS, como o Plano de Educação Permanente em Saúde, com foco nas experiências da gestão da Atenção Primária à Saúde (APS) em tempos de Covid-19. Realizado de julho a novembro, o Plano consiste em oito minicursos temáticos com  participação de 188 gestores do SUS no Distrito Federal. Luciana falou também da especialização em Gestão da Estratégia Saúde da Família, que tem como público-alvo os gestores da APS, com 160 vagas. Além disso, outros dois cursos estão previstos para a formação dos trabalhadores: um em inteligência cooperativa e territorial no enfrentamento à pandemia e suas consequências, e outro com foco no  aperfeiçoamento em APS.

 

Outra iniciativa realizada em parceria com a SES/DF e a UnB é a Plataforma de Inteligência Cooperativa com Atenção Primária à Saúde (Picaps). O coordenador de Gestão e Integração Estratégica da Fiocruz Brasília, Wagner Martins, apresentou esta inovação como um espaço de mobilização, comunicação e negociação entre os diferentes atores do SUS. Ele trouxe a reflexão de que a Covid-19 é uma sindemia (termo que vem sendo utilizado por diferentes pesquisadores internacionais, que integra sinergia e pandemia), pois a combinação de outras doenças e dos determinantes sociais complicam ainda mais a situação de saúde das pessoas, e isso deve ser levado em consideração. “O trabalho da Picaps é baseado na aproximação com os territórios, na articulação das áreas técnicas e na inteligência cooperativa com os territórios, partindo da necessidade de apoio ao trabalho dos mais de 200 residentes dos diferentes programas da Fiocruz Brasília, que estão atuando no SUS do Distrito Federal”, disse Wagner.

 

O coordenador do Programa Saúde, Ambiente e Trabalho (PSAT), Jorge Machado, ressaltou que, para transformar os espaços em territórios saudáveis e sustentáveis, é preciso sair de ações pontuais de vigilância em saúde e buscar ações sobre os determinantes sociais da saúde, a partir da promoção da saúde no sentido da pedagogia do cuidado. Já o  ex-ministro da saúde e assessor da direção da Fiocruz Brasília, José Agenor Alvares, falou sobre o EPI-SUS, programa de treinamento em epidemiologia aplicada ao serviço de saúde, criado no início dos anos 2000 para que o Ministério da Saúde respondesse às emergências de saúde pública. Antes, o órgão oferecia esse curso de forma presencial e exigia dedicação exclusiva do profissional do SUS; em 2020, está sendo ofertado pela Fiocruz Brasília, em novo formato piloto, para seis estados brasileiros, com 20 alunos indicados pelas Secretarias de Saúde, com encerramento em novembro.

 

A abertura do evento contou com a participação da diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio; da vice-diretora de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, Cristiani Machado; e do secretário de Saúde do Distrito Federal, Osnei Okamoto.

 

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