Amarante discute Reforma Psiquiátrica no Brasil

Fiocruz Brasília 20 de novembro de 2015


No Brasil, persistem 25 mil leitos psiquiátricos do SUS, apesar do preconizado pela Reforma Psiquiátrica de reinserção do doente na sociedade e de tratamentos em unidades ambulatoriais. Este dado foi apresentado ontem (19), pelo médico psiquiatra Paulo Amarante, coordenador do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial (Laps/Ensp/Fiocruz), durante a 8ª Jornada Educação Cultura e Saúde.

O médico critica a redução da reforma psiquiátrica a uma simples reforma de serviços e defende uma reforma da cultura. Para ele, este é um processo social complexo de ampliação de direitos de pessoas que foram excluídas e envolve diferentes setores, não apenas a saúde. “Não é porque a pessoa tem um transtorno que não é cidadão, isso é um atraso da medicina. O risco, a periculosidade dos chamados doentes mentais, é muito menor do que de pessoas saudáveis que estão soltas cometendo atos de violência social e sexual”, exemplifica.

Para a desativação dos 25 mil leitos manicomiais, Paulo pondera que é necessária uma definição de estratégia. O pesquisador ressalta que mesmo depois de anos nenhum governo,  pensou em realocar essas pessoas e dar um tratamento mais humano, com lazer, inclusão social e moradias. E até hoje não existe um planejamento para a desmontagem da estrutura manicomial e simultaneamente a construção de estruturas substitutivas.

“A reforma psiquiátrica exige mudança de visão e atitude para um processo permanente de transformação de técnicos de saúde, usuários, familiares e da sociedade como um todo. Devemos transformar essa relação na prática, ao invés de construir manicômios, locais de repressão e controle. É preciso superar o modelo existente e inserir os pacientes em um local de produção de sociabilidade”, afirmou.

Durante o evento, Paulo Amarante lançou o livro Teoria e Crítica em Saúde Mental. A obra, voltada para profissionais da saúde, tem como objetivo trazer uma visão mais ampla do campo psicossocial. Esta coletânea traduz a trajetória política e conceitual do escritor em sua vida profissional, servindo como referência para muitas pessoas que atuam na área da saúde mental- usuários dos serviços, familiares, técnicos, professores, pesquisadores e ativistas de defesa dos direitos humanos e da cidadania. As reflexões do autor visam contribuir para o permanente avanço da reforma psiquiátrica no Brasil.

A 8ª Jornada Educação Cultura e Saúde, promovida pelo Programa de Educação Cultura e Saúde da Fiocruz Brasília reuniu estudantes, profissionais da saúde e pacientes. A programação contou também com mostra de artes da saúde mental, coral do Instituto de Saúde Mental (ISM) e exposição caco terapêutico – oficina em saúde mental que iniciou com a busca da matéria-prima no lixão, restos de azulejos e MDF.