O papel dos residentes no SUS é destaque em aula inaugural

Nathállia Gameiro 6 de março de 2024


“Precisamos cada vez mais de profissionais qualificados, críticos e reflexivos, que possam se deparar com a realidade e pensar em soluções factíveis e que deem respostas às necessidades do Sistema Único de Saúde presente nos territórios em todo o país”, afirmou a diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio, durante as boas-vindas aos novos alunos do Programa de Residência Multiprofissional em Vigilância em Saúde. O evento foi realizado no dia 1º de março e teve a participação dos 16 estudantes aprovados no processo seletivo. Nos próximos dois anos, eles vão atuar nas equipes de saúde das Unidades Básicas de Saúde do Distrito Federal.

Durante a cerimônia, Damásio destacou a grandiosidade do SUS e lembrou que o sistema precisa de defesa. “Os princípios do SUS precisam ser reafirmados todos os dias. Não construímos, sustentamos e o defendemos sozinhos”, afirmou ao destacar um dos papeis da Escola de Governo Fiocruz-Brasília e das residências na articulação entre educação, serviço e comunidade, e no fortalecimento de redes para responder às demandas do Sistema Único de Saúde.

O Programa, que começou a ser planejado em 2019, é uma das três residências Multiprofissionais em Vigilância em Saúde ofertadas no Distrito Federal. O corpo docente da Fiocruz Brasília é formado por profissionais que já passaram por, pelo menos, duas áreas do tripé gestão, serviço e academia.

Cerca de 126 profissionais participaram da seleção e a nova turma é formada por profissionais de diferentes áreas como veterinária, enfermagem, saúde coletiva e farmácia, o que, para Fabiana, dá uma dimensão interdisciplinar de compreensão dos problemas de saúde pública. “Que a gente entenda a necessidade de reconhecer que a vigilância é um instrumento importante não só para o fortalecimento dos dados em saúde como também para dar respostas à rede de atenção à saúde. A vigilância vem para integrar com a atenção primária. Essa residência é a representação da persistência de todos nós”, finalizou.

A tradição da vigilância em saúde foi lembrada pelo coordenador da Residência em Vigilância em Saúde, Claudio Maierovitch, que falou também das modificações ao longo dos anos e da visibilidade que a área ganhou com a pandemia de Covid-19, passando a ter espaços de formação específica. Necessitando assim de fortalecimento, como destacado pelo diretor de Vigilância Sanitária da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, André Godoy.

Desafio

O trabalho dos residentes exige responsabilidade, compromisso, autonomia e capacidade de intervenção, e com isso, traz grandes desafios no serviço de saúde no dia a dia. É o que acredita o coordenador da Comissão de Residência Multiprofissional em Saúde (Coremu), Osvaldo Bonetti. “A residência provoca mudança, transforma o serviço e trabalha com a juventude”, afirmou. 

 

Para ele, a residência tem diferentes simbologias desde a essência, com papel importante no processo de conquista do SUS e da reforma sanitária, ao provocar mudanças no sistema de saúde e nos serviços. “É uma conquista. O Brasil é o único país que tem residência multiprofissional. Para a gente é um compromisso enorme estarmos em uma instituição de excelência e aproveitar essa oportunidade. Saímos todos daqui profissionais de excelência, buscando ampliar essa cultura de que a vigilância deve ser uma concepção de todo trabalhador que está na unidade de saúde e não só do gestor. Vivam a Fiocruz, sejam críticos, problematizem, mas acima de tudo, vivam todos esses processos em diálogo. É uma oportunidade vocês viverem esse processo formativo em serviço, em coletivo”, completou.

Logo após a abertura, os estudantes puderam saber mais sobre a história do Sistema Único de Saúde e da vigilância em saúde na aula participativa e reflexiva do ex-ministro da Saúde e assessor da direção da Fiocruz Brasília, Agenor Álvares. Ele destacou o papel de protagonista que a vigilância em saúde tem no SUS, e a definiu como um tema de interesse coletivo e de responsabilidade de toda a sociedade.

Para Agenor, esse Programa tem uma perspectiva um pouco diferente e dá a oportunidade de os residentes discutirem com preceptores e monitores questões que muitas vezes são passadas para a população como questões de menor importância, mas que são questões de grande importância. “Essa residência tem um caráter diferente para o SUS, e principalmente para a organização dos serviços do DF. Tem situações que a gente só lembra da vigilância quando acontece, e chegam de forma de desastre, de preocupação das pessoas e na imprensa, como a questão da dengue e da Covid-19. São questões do nosso dia a dia, mas nunca são colocadas como preocupação ou responsabilidade de quem quer que seja, e essa residência vai dar oportunidade para isso, para vocês aperfeiçoarem e acumularem conhecimento, e principalmente para que vocês possam levar ideias e sugestões de melhorias do seu trabalho no SUS. A residência não deve ser encarada como um evento de transmissão de conhecimento sem repercussão, ali é um lugar para questionar e não aceitar fórmulas feitas como se fossem de domínio absoluto ou a verdade suprema”, ressaltou.

 

A turma estava animada com os novos desafios que viriam pela frente. “Até hoje eu só fui usuária do SUS, agora serei trabalhadora”, disse uma aluna, destacando que o conhecimento aprendido na academia é limitado com relação à realidade do SUS, por isso, é preciso conhecer a população para entender as necessidades do território e melhorar o sistema de saúde e a qualidade de vida das pessoas.

“Aproveitem, estudem, discutam, contestem, concordem ou não, mas não deixem nunca de expressar o que você está sentindo e entendendo sobre o que está chegando para você. Somente com o debate e a discordância vocês vão crescer”, aconselhou Agenor.

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